Quando o carro finalmente parou, eu olhei pela janela e não conseguia entender o que estava acontecendo. O bairro era diferente, tudo parecia grande e desconhecido. As ruas de Seul estavam movimentadas, mas eu estava em um estado de torpor, ainda tentando compreender tudo o que havia acontecido.
A casa para a qual minha tia Mi-young estava me levando parecia uma mansão, nada como a nossa casa em Jeju. Era imensa, com muros altos e um portão de ferro ornamentado. Quando entrei, fui saudada por um saguão amplo, onde meu primo Soo-min, com seus 15 anos, estava esperando ao lado de um homem que eu reconheci como sendo o marido de minha tia, Tae-jin.
Soo-min não parecia muito empolgado com a minha chegada. Ele apenas me olhou de cima a baixo, sem nenhum interesse, e perguntou:
— Você não fala?
Minha tia, Mi-young, se adiantou e explicou com um tom paciente:
— Ela não pode falar. Mas entende tudo.
Soo-min apenas deu de ombros, como se isso não fosse lá grande coisa. O olhar de Tae-jin, o marido de minha tia, era mais frio. Ele me observava com um olhar calculista, sem dizer uma palavra. Não conseguia entender bem o que ele pensava, mas a sensação de desconforto era inevitável.
Mi-young, tentando manter a situação leve, virou-se para mim e perguntou, com um sorriso tenso:
— Você está bem, Ji-yeon?
Eu apenas balancei a cabeça, sentindo um nó na garganta. Não conseguia dizer nada, não queria dizer nada.
Ela me conduziu até o meu quarto. O quarto ainda estava sendo arrumado, havia algumas coisas fora do lugar, mas estava claro que seria um espaço confortável. Não era o que eu queria, mas era o que me restava agora. Minha tia me explicou o que aconteceria dali para frente.
— Você vai ficar aqui agora. Vai ser diferente, mas tudo vai se ajeitar. Quando for a hora do jantar, você deve descer para conhecer sua avó. Ela quer te ver.
Eu não sabia o que dizer. Minha avó? Eu nem sabia direito o que sentir em relação a ela. Eu nunca a tinha conhecido, e o que me restava agora era aceitar tudo sem questionar.
Quando Mi-young saiu do quarto, eu fiquei ali, sozinha, observando o lugar que agora seria minha casa. Não consegui deixar de pensar em como tudo tinha mudado tão drasticamente. A casa de Jeju, a minha vida com minha mãe e meu pai, tudo parecia tão distante agora. Eu estava sozinha em um lugar que não me pertencia.
Antes que eu pudesse me perder mais em meus pensamentos, ouvi passos se aproximando. Meu primo Soo-min apareceu na porta, mas ele não parecia interessado em conversar. Ele apenas deu uma olhada rápida em meu quarto e falou:
— Quando você descer para o jantar, avise. A avó vai querer te ver.
Eu assenti, mas não respondi. Ele me deu as costas e saiu sem dizer mais nada. A casa estava silenciosa, e eu me senti mais distante do que nunca. O que seria de mim agora? Eu me perguntava.
Quando desci para o jantar, minha avó estava lá, sentada à mesa. Ela me olhou assim que entrei, como se tentasse encontrar algo familiar em mim. Seu olhar era suave, mas havia uma intensidade que me desconcertava. Ela parecia me estudar com atenção, seus olhos fixos em meu rosto, como se cada traço meu a lembrasse de algo perdido.
— Você é tão parecida com sua mãe... — ela disse, sua voz embargada. — Tão parecida...
Aquelas palavras ficaram ecoando na minha mente, e eu não soube o que responder. Ela levantou-se de repente e me envolveu em um abraço apertado. Não sabia o que fazer, não estava preparada para aquilo. O cheiro de sua pele e os braços trêmulos que me envolviam pareciam preencher um vazio que eu não sabia que existia.
E então, ela chorou. Chorou como se estivesse lamentando algo que não podia mais ser mudado. Como se estivesse tentando pedir desculpas por tudo o que não dissera, por tudo o que tinha acontecido.
— Sinto tanto... — ela repetia, entre as lágrimas, enquanto me abraçava. — Desculpe por tudo, minha querida... sinto tanto...
Eu fiquei em silêncio, sem saber como reagir. Sentia-me perdida. Era como se, naquele abraço, minha avó estivesse tentando se redimir por algo que eu não conseguia entender completamente. Por que minha mãe nunca falara sobre ela? Por que não falara sobre a família que eu agora tinha que conhecer, por que tudo parecia tão distante, tão... fechado?
Ela me olhou, enxugando as lágrimas, e sorriu suavemente.
— Vamos, sente-se. A comida está pronta.
Eu me sentei ao lado de Soo-min, sem saber como me comportar. A mesa estava cheia de pratos, todos preparados para mim, mas eu não sabia o que eu gostava mais.
Eu havia comido o que me davam no hospital e o lanche que minha tia comprou durante a viagem, mas nada se comparava à comida ali na mesa. Eu não podia dizer nada, então fiz uma reverência, como aprendi a fazer em casa. Mesmo sem poder falar, achei que fosse a melhor forma de agradecer.
Comi devagar, tentando me acostumar com o sabor e o cheiro dos pratos desconhecidos. Tudo estava tão bom, mas ao mesmo tempo... estranho. A comida parecia preparada com tanto cuidado, mas ninguém sabia o que eu gostava, ninguém sabia o que eu tinha realmente passado. Eu vi minha avó observando-me atentamente enquanto eu comia, seus olhos carregados de uma mistura de carinho e tristeza.
Minha tia, percebendo minhas queimaduras nos braços, mencionou que iria me levar ao hospital no dia seguinte para trocar as faixas.
— Vamos cuidar disso amanhã, Ji-yeon. Não se preocupe. O hospital vai trocar os curativos, você vai ficar bem.
Eu apenas acenei com a cabeça. O hospital já era um lugar familiar para mim, mas não queria pensar nele agora. Queria tentar me adaptar ao que vinha pela frente, por mais que isso me parecesse cada vez mais impossível.
Depois de jantar, voltei para o meu quarto. Eu estava cansada, mas minha mente estava tão agitada que o sono parecia fugir de mim. Quando entrei no meu quarto, uma das empregadas estava lá, trocando a roupa de cama e arrumando o que minha tia havia comprado para mim. Eu olhei para ela, mas ela não me deu atenção, como se estivesse muito concentrada no que estava fazendo.
Ela saiu do quarto, mas algo me fez parar atrás da porta entreaberta. Eu ouvi vozes baixas vindo por detrás da porta. A empregada e outra mulher estavam conversando, cochichando sobre mim e sobre o que havia acontecido com minha família. Eu sabia o que elas estavam dizendo. Elas estavam falando sobre o incêndio, sobre meus pais e as circunstâncias de como tudo aconteceu. Sabia que a minha história já havia se espalhado pela casa.
Fiquei ali, ouvindo, sem me mexer, as palavras sendo trocadas. Era estranho ouvir as pessoas falando sobre a minha dor como se fosse apenas um assunto qualquer. Sentia como se minha vida tivesse virado uma conversa de mesa, um tópico que ninguém queria discutir, mas que estava à vista de todos. Fiquei quieta, apenas ouvindo, até que a porta se abriu de repente.
Soo-min apareceu na porta com um pedaço de bolo na mão. Ele me olhou por um momento, sem dizer nada. Então, como se tivesse percebido que eu o estava observando, ele deu um pequeno sorriso e, sem mais palavras, entregou o bolo.
Fiquei sem reação, ainda processando tudo. Ele não parecia ter gostado de mim, mas por algum motivo, me trouxe o bolo. Não sabia se isso significava algo, mas o fato de ele me entregar aquilo fez com que eu sentisse uma mistura de confusão e um pouco de alívio.
Ele virou-se e saiu sem dizer mais nada. Eu fiquei ali, olhando para o pedaço de bolo na minha mão, sentindo a tensão no ar. A casa, a família, tudo parecia tão distante e, ao mesmo tempo, tão invasivo. O que aconteceria a seguir? Eu ainda não sabia.
Uma nova rotina
Os dias passaram, e eu comecei a entender como as coisas funcionavam naquela casa. Minha tia Mi-young sempre tinha algo a resolver, mas tentava reservar algum tempo para falar comigo. Ela fazia de tudo para me ajudar, mas eu ainda me sentia deslocada.
Uma manhã, enquanto eu terminava o café da manhã sozinha na cozinha, ela entrou e se sentou ao meu lado. Seus olhos eram gentis, mas carregavam uma preocupação que eu não sabia explicar.
— Ji-yeon, precisamos conversar sobre algo importante. — Sua voz era baixa, quase cuidadosa demais.
Eu parei de mexer na colher e levantei os olhos para ela, esperando que continuasse.
— Você começará na escola em alguns dias. É a mesma onde Soo-min estuda. Acho que será bom para você sair um pouco daqui. — Ela hesitou, estudando minha reação. — É claro que vai ser difícil no começo, mas você precisa voltar a ter uma rotina, a conhecer pessoas.
Eu senti meu coração acelerar. Escola? Era a última coisa que eu queria. Meu estômago revirava só de pensar em estar cercada de crianças falando, rindo e me olhando.
— Não se preocupe. Soo-min estará lá. Ele pode te ajudar a se adaptar. — Ela sorriu, como se isso resolvesse tudo.
Logo depois, Soo-min apareceu na porta da cozinha. Ele olhou para nós com aquela expressão entediada que parecia sempre carregar.
— O que foi agora?
— Soo-min. — Mi-young o chamou com a mesma suavidade. — Você vai cuidar da sua prima na escola. Quero que ela se sinta segura.
Ele cruzou os braços e suspirou, como se aquilo fosse o maior incômodo do mundo.
— Tá brincando, né? Eu já tenho meus amigos, minha rotina. Não sou babá.
— Soo-min. — O tom dela mudou, tornando-se mais firme.
Ele revirou os olhos e balançou a cabeça.
— Tá bom, tá bom. Eu vou ajudar. — Ele olhou para mim com uma expressão difícil de decifrar. — Você vai ficar bem.
Eu não sabia se acreditava nele. Até aquele momento, ele parecia só tolerar a minha presença. Mas algo na forma como ele disse aquelas palavras me fez sentir, pela primeira vez, que talvez ele realmente quisesse me ajudar.
Naquela noite, Mi-young trouxe para o meu quarto o uniforme da escola. Ela o pendurou cuidadosamente no guarda-roupa e sentou-se na cama ao meu lado.
— Está nervosa? — perguntou, sua voz calma.
Eu hesitei, mas acabei assentindo levemente.
— É normal se sentir assim. Mas você é forte, Ji-yeon. Sempre foi. Não precisa dizer nada se não quiser. Só mostre quem você é com suas ações.
Ela parecia tão confiante em mim, e eu queria acreditar que poderia ser assim.
Soo-min, por outro lado, começou a agir de forma diferente comigo. Ele não era exatamente gentil, mas também não me ignorava mais. Uma tarde, enquanto eu tentava organizar os poucos pertences que Mi-young tinha comprado para mim, ele apareceu na porta.
— Tá pronta pra escola? — perguntou, apoiando-se no batente da porta.
Eu o encarei, sem saber como responder, então apenas dei de ombros.
Ele deu um meio sorriso.
— Você vai se sair bem. Qualquer um que encrencar com você vai ter que passar por mim primeiro.
Por alguma razão, aquelas palavras me reconfortaram. Talvez ele realmente estivesse começando a me ver como parte da família.
Primeiro dia na escola
A manhã chegou mais rápido do que eu esperava. Vestir o uniforme da nova escola foi estranho, como se eu estivesse me tornando outra pessoa — alguém que não sabia o que esperar daquele lugar. Mi-young me deu um sorriso encorajador enquanto ajeitava meu cabelo.
— Você está linda, Ji-yeon. Confie em mim, vai dar tudo certo.
No carro, Soo-min estava mais calado que o normal. Ele parecia absorto, mas, de vez em quando, olhava na minha direção. Quando finalmente chegamos, o prédio era imponente, com alunos indo e vindo pelos corredores cheios de energia. Já me sentia deslocada antes mesmo de sair do carro.
Assim que descemos, Soo-min parou ao meu lado e colocou a mão no meu ombro.
— Fique perto de mim. Vou te mostrar onde é sua sala.
Eu assenti, seguindo-o como uma sombra. Ele tinha um jeito confiante de andar, cumprimentando colegas com acenos e comentários rápidos. Ao lado dele, eu parecia invisível — e gostava disso.
Quando paramos em um ponto do corredor, um garoto alto, de cabelos levemente bagunçados, se aproximou. Ele deu um sorriso largo para Soo-min.
— E aí, quem é a nova? — perguntou, apontando para mim com o queixo.
— Essa é Ji-yeon, minha prima. — Soo-min respondeu casualmente. — Ela vai estudar aqui agora.
O garoto olhou para mim com curiosidade, mas também com uma gentileza que me surpreendeu.
— Oi, Ji-yeon. Sou Hyun-woo, melhor amigo do Soo-min. — Ele estendeu a mão, mas, vendo que eu hesitava, abaixou-a com um sorriso constrangido. — Não se preocupe, não sou tão assustador quanto pareço.
Eu queria sorrir, mas não consegui. Apenas inclinei levemente a cabeça em cumprimento.
A manhã foi um borrão de apresentações rápidas e sussurros nos corredores. Alguns alunos me encaravam, provavelmente curiosos por eu ser nova e tão silenciosa. Outros cochichavam, mas eu não conseguia distinguir o que diziam.
Durante o intervalo, Soo-min e Hyun-woo me levaram até uma área externa onde os alunos se reuniam em grupos. Eu me sentei ao lado deles, tentando parecer o mais discreta possível.
— Ouvi dizer que a nova não fala. — A voz veio de um grupo de garotas próximas.
Elas não estavam exatamente sussurrando, mas também não se importavam em ser ouvidas. Eu sabia que era de mim que falavam.
— Deve ser estranho viver com ela. — Outra garota riu, mas parou abruptamente quando Soo-min se levantou.
— Ei! Vocês têm algum problema? — Ele as encarou, cruzando os braços.
As garotas ficaram vermelhas e balbuciaram algo antes de saírem apressadas. Hyun-woo, que até então estava quieto, olhou para mim e depois para Soo-min.
— Parece que já vai ter trabalho com a sua prima. — Ele deu um sorriso, tentando aliviar o clima.
Eu fiquei em silêncio, mas o olhar protetor de Soo-min e a leve brincadeira de Hyun-woo me fizeram sentir algo próximo de segurança.
Mais tarde, enquanto caminhávamos de volta para a sala de aula, Soo-min se inclinou na minha direção.
— Não liga pra eles, tá? Qualquer coisa, me avisa.
Eu olhei para ele e assenti lentamente. Não era fácil confiar em alguém, mas, naquele momento, quis acreditar que ele realmente se importava.
Na sala, os olhares continuaram, mas dessa vez eu estava preparada. Mesmo sem falar, eu sentia que não estava completamente sozinha. Afinal, pela primeira vez, alguém estava ali por mim.
Quando a última aula do dia terminou, senti um alívio inesperado, como se houvesse sobrevivido a algo maior do que um simples dia na escola. Soo-min esperava por mim na porta da sala, com Hyun-woo ao lado dele, carregando o típico sorriso despreocupado.
— Vamos, Ji-yeon. — Soo-min disse.
Enquanto caminhávamos, o fluxo de alunos diminuía à medida que todos se dispersavam. Percebi que alguns ainda me olhavam de canto de olho, cochichando entre si. Não precisava ouvir as palavras para entender que minha presença era um mistério, talvez até um incômodo.
Passamos por um grupo de garotas próximas aos armários. Uma delas, alta e com um ar altivo, deu um sorriso debochado ao nos ver. Era óbvio que ela era a "líder" daquele grupo.
— Então, é essa a prima que não fala? — perguntou, cruzando os braços enquanto nos bloqueava o caminho.
Hyun-woo deu uma risadinha curta, mas sua expressão mudou para algo mais sério quando Soo-min deu um passo à frente.
— E o que você tem a ver com isso, Eun-bi? — Soo-min respondeu, frio.
Eun-bi deu de ombros, mas seu olhar pousou diretamente em mim. — Nada. Só achei curioso. Parece uma boneca quebrada.
As palavras me atingiram como um soco, mas Soo-min reagiu antes que eu pudesse processar o insulto.
— Cuidado com o que você diz, Eun-bi. — Sua voz era baixa, mas carregava uma ameaça implícita. — Não é da sua conta.
Hyun-woo se aproximou também, sua postura descontraída agora firme. — Vamos embora. Não temos tempo pra isso.
Eun-bi ergueu as sobrancelhas, claramente surpresa com a defesa que eu recebia. Depois, deu um sorriso irônico e se afastou com o grupo dela, mas não sem antes lançar mais um olhar na minha direção.
Eu olhei para baixo, os olhos ardendo, mas segurei as lágrimas. Soo-min percebeu.
— Não liga pra ela. Eun-bi só fala porque gosta de atenção. — Ele me disse, a voz mais suave.
Hyun-woo bateu de leve no ombro de Soo-min. — Ela deve estar com inveja. A prima do Soo-min roubando a cena já no primeiro dia... Quem diria? — brincou, piscando para mim.
Eu quase sorri. Quase.
No caminho para casa, o silêncio no carro foi reconfortante. Hyun-woo tinha ido para sua própria casa, então era só eu e Soo-min. Quando chegamos, ele desceu primeiro, esperando por mim na entrada.
— Vem, vou te mostrar um lugar legal.
Curiosa, o segui até o jardim dos fundos. Havia um pequeno balanço de madeira pendurado em uma árvore robusta, com uma vista parcial para o horizonte de Seul. Soo-min sentou-se na borda do balanço e indicou para eu fazer o mesmo.
— Quando eu era mais novo, costumava vir aqui quando queria pensar... ou fugir das broncas do meu pai. — Ele riu suavemente. Eu me sentei ao lado dele, o balanço balançando levemente com o peso. Soo-min olhou para o céu, que já começava a se tingir de laranja com o pôr do sol. — Sabe, Ji-yeon... eu não sei tudo o que você passou. Mas eu sei como é perder coisas importantes. — Ele suspirou, e sua voz estava
—mais séria agora. — Não vou deixar ninguém te machucar, tá?
Olhei para ele, surpresa. Não esperava ouvir algo tão direto, tão sincero. E, pela primeira vez, senti uma pequena fagulha de confiança. Talvez, só talvez, eu não estivesse tão sozinha quanto pensava.
Soo-min se levantou, limpando as mãos na calça. — Vamos. Minha mãe vai nos matar se atrasarmos pro jantar.
Segui-o de volta para dentro, o balanço ainda balançando levemente atrás de nós.
Os meses passaram e, aos poucos, eu me adaptei à rotina da escola. Soo-min sempre estava por perto, cuidando de mim como prometera, e Hyun-woo era uma constante fonte de brincadeiras e sorrisos. Mesmo sem falar, eu começava a entender a dinâmica ao meu redor. Com gestos e olhares, criava meu próprio espaço no silêncio.
Os corredores já não me pareciam tão assustadores, embora ainda sentisse os olhares de curiosidade e julgamento. As meninas cochichavam menos, mas eu sabia que o fato de andar com Soo-min e Hyun-woo as incomodava.
Mesmo assim, os dois sempre me protegiam de qualquer situação desconfortável. Eram o meu refúgio.
Na casa, as coisas seguiam como sempre. Mi-young continuava me tratando bem, comprando roupas novas e me incentivando a participar das refeições em família. Tae-jin permanecia frio e distante, mas eu evitava cruzar seu caminho. Minha avó, Hwa-ja, sempre me olhava com uma mistura de tristeza e carinho, como se visse minha mãe em mim. Seu abraço era caloroso, e eu me sentia segura com ela.
Apesar disso, nunca entendi por que minha mãe nunca havia falado deles. Minha avó parecia tão arrependida, tão afetuosa comigo, que eu acreditava que tudo o que ela queria era fazer as coisas darem certo. Talvez minha mãe tivesse razões que eu não conhecia — ou talvez eu nunca entenderia. Eu era apenas uma criança, e havia coisas que nem mesmo o tempo parecia disposto a explicar.
Na minha ingenuidade, acreditava que aquela família era boa para mim. Mi-young fazia o possível para me fazer sentir parte da casa, e Soo-min se esforçava para garantir que eu não fosse deixada de lado. Na escola, eu começava a gostar da companhia de Hyun-woo, que era atencioso e sempre fazia piadas para me ver tentar não sorrir.
À noite, no silêncio do meu quarto, às vezes eu me lembrava do passado — da minha mãe, do meu pai, de Ji-ho. Sentia falta deles de um jeito que doía no peito. Mas, com o passar do tempo, a dor começou a se transformar em algo diferente: uma saudade que eu guardava dentro de mim, como um segredo.
Mesmo assim, havia uma parte de mim que se sentia grata. Grata por não estar mais sozinha, por ter alguém para me defender, por ter uma cama quente e um prato de comida. A família Han parecia ser o meu lar agora, e eu acreditava, do fundo do coração, que era isso que minha mãe teria desejado para mim.
A inocência de uma criança de 12 anos ainda me protegia das complexidades e sombras ao meu redor. Não enxergava os olhares tensos, não entendia os silêncios pesados, e acreditava que, de algum modo, tudo estava certo. Talvez essa fosse a verdadeira proteção que minha mente me dava — a capacidade de acreditar que eu estava onde deveria estar.
Mas a vida nunca para, e o tempo é implacável. Aos poucos, as rachaduras começam a aparecer, e os traumas enterrados encontram formas de emergir. Eu não sabia disso ainda. Naquele momento, tudo o que eu sabia era que tinha minha tia, minha avó, meu primo, Hyun-woo, e um mundo que, aos poucos, parecia menos assustador. E por enquanto, isso era suficiente.
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