Perdida - Capítulo 22: O Desfecho de um Crime

Hana acordou naquela manhã com uma sensação de vazio, como se seu corpo ainda estivesse se ajustando a um mundo em que a dor já não tivesse mais a mesma intensidade, mas a memória do sofrimento fosse uma sombra persistente. Era um dia frio, e a luz suave que entrava pela janela parecia um lembrete de tudo o que ela havia superado, mas também de tudo o que ainda estava por vir.

Enquanto olhava o teto, pensamentos começaram a tomar conta de sua mente. Como cheguei até aqui? Pensou, ainda com dificuldades para acreditar que sua vida agora era diferente. Não era mais a mulher frágil, sufocada pela dor e pelo medo. Mas, ao mesmo tempo, uma parte dela não conseguia se libertar da ideia de que o que estava vivendo com Seo-jun poderia ser apenas um sonho, algo bom demais para ser verdade. Ele sempre tão atencioso, tão cuidadoso, como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo, algo que ela nunca soubera que merecia. Será que isso é real? Será que isso pode durar?

Hana sempre vivera em um turbilhão de incertezas. Desde o início de sua relação com Min-ho, e até mesmo com sua mãe, a sensação de nunca ter sido verdadeiramente amada a acompanhava como uma sombra. Mas com Seo-jun era diferente. Ele nunca a tratou como um peso, nem como alguém que ele tivesse que salvar ou consertar. Ele a tratava como se ela fosse inteira, como se suas cicatrizes, suas falhas e suas sombras fossem parte do que a tornava quem ela era. E isso era algo que ela nunca imaginou experimentar.

Eu nunca imaginei que poderia ser tratada assim… com tanto cuidado. Ela pensou, sentindo um aperto no peito. Ele sempre soubera ouvir, sempre soubera quando era hora de dar espaço e quando era hora de se aproximar. Isso a confundia. Era um amor sem pressa, sem expectativas de mudanças, apenas um amor que simplesmente existia, simples e pleno.

A porta do quarto se abriu silenciosamente, e Seo-jun apareceu na entrada. O olhar suave e gentil que ele lançou a ela fez o coração de Hana acelerar. Ele estava com uma xícara de chá nas mãos, a luz da manhã refletindo nos seus cabelos escuros, criando um contraste perfeito com a serenidade que ele exalava. Ele se aproximou com a calma de sempre, como se o mundo ao seu redor pudesse desabar e ele ainda estaria ali, com ela, fazendo tudo parecer suportável.

— Bom dia — disse Seo-jun, sua voz baixa, mas cheia de uma ternura que Hana sentiu no fundo do peito. Ele se sentou na beira da cama, colocando a xícara na mesinha de cabeceira.

Hana olhou para ele, os olhos ainda pesados de sono, mas havia algo em seu olhar que transmitia uma vulnerabilidade que ela não sabia que podia sentir. Ela queria dizer tantas coisas, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Como poderia explicar o turbilhão de sentimentos que passava por ela? Como poderia dizer a ele que, mesmo estando ao seu lado, ela ainda temia que aquele amor fosse apenas um reflexo de uma vida que ela nem sabia como viver?

Seo-jun percebeu a mudança em seu olhar. Ele se aproximou mais e tocou sua mão, os dedos dele se entrelaçando suavemente com os dela.

— O que aconteceu? — perguntou ele, com uma expressão de preocupação genuína. Ele não apressou as palavras, nem a pressionou a falar. Ele só queria entender, queria que ela se sentisse segura para compartilhar o que estava pensando.

Hana respirou fundo, sentindo a solidão que ela havia carregado por tanto tempo começando a se dissipar. Nunca soubera o que era ser ouvida de verdade, sem que julgassem, sem que dissessem o que ela deveria sentir. Mas com Seo-jun, era diferente. Ele a entendia, mesmo quando as palavras não eram suficientes.

Ela olhou para ele, com os olhos marejados, e a voz saiu trêmula, quase num sussurro.

— Seo-jun... eu... não sei como isso é real — disse ela, a emoção transbordando em cada palavra. — Nunca imaginei que alguém pudesse me tratar assim... como se eu fosse... como se eu fosse suficiente. Você... você me faz sentir como se o mundo fosse possível. Eu não sei como isso pode ser... mas não sei se mereço.

Seo-jun se aproximou mais, e sem hesitar, ele tocou seu rosto com a ponta dos dedos, como se ela fosse uma porcelana delicada, com medo de quebrar. Hana fechou os olhos, sentindo o calor de sua pele, e a conexão entre os dois se tornou palpável, como se o mundo ao redor não existisse mais. Ela sentiu algo no peito, uma mistura de gratidão e medo, mas também uma sensação de paz que a envolvia.

— Hana — disse Seo-jun, sua voz suave e cheia de sinceridade. — Você merece mais do que imagina. Merece ser amada por quem você é, com todas as suas dores, suas cicatrizes, seus medos. Eu nunca vou tentar mudar você, mas estarei aqui para ajudar você a ser quem você realmente é, sem esconder nada, sem medo de ser quem você é.

As palavras dele entraram fundo em seu coração, fazendo uma onda de emoções invadir sua mente. Era como se, pela primeira vez, ela pudesse respirar de verdade, sem medo do que vinha a seguir. Ele a estava aceitando de uma maneira que ela nunca soubera que seria possível. Ele a estava amando, não porque ela fosse perfeita, mas porque ele a via como inteira, como ela realmente era.

Seo-jun a olhou nos olhos e sorriu, um sorriso tão sincero, tão carregado de carinho que parecia desarmar todas as suas defesas.

— Eu estou aqui, Hana. Não importa o que aconteça, eu estou aqui. Você não está mais perdida.

As palavras caíram como um bálsamo sobre ela, e sem perceber, suas lágrimas começaram a cair, silenciosas, mas cheias de um peso que ela guardara por tanto tempo. Seo-jun a envolveu em seus braços, sem pressa, sem palavras. Ele só a abraçava, e Hana se entregava a ele, a sensação de segurança envolvendo seu corpo e sua alma.

— Eu nunca soube o que era ser amada assim, Seo-jun... — disse ela, com a voz embargada. — Nunca soube o que era ser cuidada assim.

Ele apertou-a mais forte, como se quisesse tirar toda a dor dela, como se quisesse ser o porto seguro que ela nunca teve.

— Então vamos aprender juntos, Hana. Vamos viver isso. E você nunca mais precisará ter medo de amar ou ser amada.

Hana se aninhou contra ele, sentindo o calor do corpo de Seo-jun. Naquele momento, ela soube, de algum jeito, que o que estava vivendo era real. Era o que ela merecia. Um amor calmo, paciente, sem pressa. Sem pressões. Apenas amor. E isso, talvez, fosse tudo o que ela sempre precisou.

Seo-jun, por sua vez, parecia perdido naquele instante. Ele sentia o peso de Hana em seus braços, como se finalmente pudesse respirar depois de tudo. Sem conter o que estava dentro de si, começou a sussurrar:
— Te amo... te amo... te amo...

Cada "te amo" era acompanhado de uma leve risada, enquanto ele a fazia cócegas na cintura, arrancando risos involuntários de Hana. Ela se debatia de leve, tentando fugir, mas não queria que ele parasse. Era um momento tão descontraído e leve que parecia surreal, considerando tudo o que tinham enfrentado juntos.

— Para, Seo-jun! — pediu ela, ainda rindo, mas com a voz embargada de felicidade. — Eu vou morrer de rir, sério!

Eles estavam deitados na cama, e era como se o mundo inteiro tivesse desaparecido. Não havia problemas, mágoas ou perigos. Apenas eles dois, vivendo uma vida que Hana nunca imaginara possível, uma vida descontraída mesmo nos momentos mais difíceis.

De repente, Seo-jun parou. Seu sorriso diminuiu, e ele olhou para ela com uma expressão mais séria. Sua mão, que estava brincando em sua cintura, deslizou suavemente até o abdômen dela, onde encontrou a cicatriz deixada pelo tiro. Ele ficou em silêncio por um momento, seus olhos se fixando na marca como se estivesse revivendo a dor que ela enfrentou.

— Sinto muito por isso... — murmurou ele, sua voz carregada de culpa e tristeza.

Antes que Hana pudesse responder, Seo-jun abaixou a cabeça e beijou suavemente a cicatriz. Foi um gesto carregado de amor, mas também de remorso. Ele sentia como se não tivesse feito o suficiente para protegê-la naquele momento.

Hana, percebendo o turbilhão de emoções que Seo-jun carregava, o puxou para mais perto, segurando o rosto dele entre as mãos. Seus olhos o encararam com uma firmeza que ele não esperava.

— Isso não foi sua culpa — disse ela, a voz cheia de convicção.

Seo-jun deixou a cabeça cair contra o ombro dela, respirando profundamente. Ele parecia querer dizer algo, mas as palavras não saíam. Hana o abraçou com força, querendo transmitir tudo o que sentia sem precisar falar.

Em seguida, ela o puxou novamente, segurando-o com firmeza e, antes que ele pudesse reagir, tomou a iniciativa de beijá-lo. Foi um beijo quente, cheio de paixão e entrega. Ele pareceu surpreso no início, mas logo cedeu, retribuindo com intensidade.

Quando eles se separaram por um breve momento, Seo-jun a olhou com um misto de surpresa e vergonha.

— Você quem começou — disse ele, um sorriso travesso surgindo em seus lábios.

Hana riu, mas antes que pudesse responder, ele a puxou para um abraço aconchegante. Suas mãos deslizaram pelas costas dela, enquanto ele a beijava novamente, desta vez com mais ternura, demoradamente, sentindo o calor subir novamente entre eles. Era algo real, algo que nenhum dos dois poderia negar.

O som do celular quebrou o momento.

Hana parou e começou a rir baixinho. Seo-jun soltou um resmungo frustrado e se afastou, pegando o celular com uma expressão aborrecida.

— Isso é uma piada? Não podem nos deixar em paz nem por um segundo? — reclamou, enquanto atendia.

Hana continuou rindo enquanto ele falava ao telefone, sua expressão mudando à medida que ouvia. Ele desligou e voltou para o quarto, ainda com uma mistura de irritação e seriedade.

— Ele foi preso — disse Seo-jun, olhando diretamente para Hana.

A risada dela cessou, substituída por uma expressão de surpresa e alívio. A notícia era um lembrete de que, mesmo naquele momento de felicidade, ainda havia um mundo lá fora esperando por eles. Mas, por enquanto, naquele instante, tudo parecia um pouco mais leve.

O Veredicto Final
Naquela manhã, o ar parecia mais denso, como se o destino do passado estivesse prestes a ser resolvido. Hana estava sentada ao lado de Seo-jun no carro, ambos em silêncio, mas suas mãos entrelaçadas diziam tudo. Eles estavam a caminho da delegacia para depor contra Cha-woo, um homem que representava muito mais do que um criminoso. Ele era o último elo da corrente que aprisionava Hana em um ciclo de dor e manipulação.

Hana olhou pela janela, as ruas passando rápido, mas sua mente estava presa no que viria a seguir. Ela pensava em tudo que tinha vivido: o medo, o controle sufocante de Min-ho, a descoberta das traições de sua própria mãe, e agora, a chance de ver justiça sendo feita. Contudo, havia um sentimento misto em seu peito, uma mistura de alívio e angústia.

— No que você está pensando? — a voz de Seo-jun quebrou o silêncio.

Ela se virou para ele, que dirigia com atenção, mas a olhava de soslaio, preocupado.

— Em tudo. Em como cheguei até aqui... em você. — Ela apertou a mão dele. — E no que vai acontecer agora.

Seo-jun a olhou por um momento antes de desviar os olhos para a estrada.

— Vai dar certo, Hana. Nós temos a verdade, e a verdade sempre vem a tona, uma hora ou outra isso ia acontecer.

Hana quis acreditar nele, mas sabia que nem sempre a justiça era tão simples. Quando chegaram à delegacia, o lugar estava movimentado. Policiais caminhavam de um lado para o outro, enquanto advogados e jornalistas aguardavam do lado de fora. Era um cenário que parecia saído de um filme, mas era a realidade deles agora.

Eles foram recebidos por Kang, o detetive que havia liderado o caso. Ele os cumprimentou com um aceno breve, a expressão séria como sempre.

— Estamos prontos para começar. Cha-woo está aqui, e o interrogatório inicial foi conclusivo. Ele nega as acusações, mas as provas contra ele são sólidas. Precisamos dos seus depoimentos para fortalecer o caso.

Hana respirou fundo. As paredes da delegacia pareciam se fechar ao seu redor enquanto ela caminhava pelo corredor até a sala de depoimentos. Era o mesmo lugar onde ela havia prestado declarações antes, mas agora parecia diferente. Desta vez, ela sentia que estava no controle.

Dentro da sala, sua mãe estava sentada, com os ombros caídos e o rosto marcado por uma expressão de cansaço e arrependimento. Hana a ignorou, sentando-se no lugar indicado pelo policial. Sua mãe tentou falar algo, mas foi interrompida por Kang.

— Vamos começar.

Hana contou tudo com detalhes: as chantagens, as mensagens encontradas no celular de Min-ho, e como Cha-woo estava envolvido em cada etapa. Sua voz era firme, mas por dentro, ela tremia. Cada palavra era um passo para encarar seu passado e superá-lo.

Quando chegou a vez de sua mãe depor, Hana se manteve em silêncio, mas seu coração estava acelerado. Sua mãe confirmou muitas das informações, mas também tentou minimizar sua própria participação, dizendo que agiu sob pressão.

Após horas na delegacia, os depoimentos foram encerrados. Kang agradeceu a ambos.

— Isso foi crucial. Com o que reunimos hoje, o caso está mais forte do que nunca. Cha-woo será formalmente acusado e levado a julgamento.

Na saída, Hana encontrou sua mãe no corredor. Por um momento, seus olhares se cruzaram. A mulher parecia mais velha, carregada pelo peso das escolhas erradas. Hana, porém, apenas acenou levemente e se afastou, sem dizer uma palavra. Era um adeus silencioso, um ponto final que precisava ser colocado.

O Julgamento
Quando chegaram ao tribunal, o ar parecia pesado. Jornalistas e curiosos estavam reunidos do lado de fora, mas Hana e Seo-jun passaram direto, escoltados por policiais. Kang os aguardava na entrada, com o semblante sério de sempre. Hana sentou-se ao lado de Seo-jun, que estava vestido impecavelmente, mas seus olhos traíam a preocupação que sentia por ela.

O tribunal estava lotado. Hana respirou fundo ao sentar, os olhos percorrendo o ambiente. No banco dos réus estava Cha-woo, um homem que havia sido próximo de sua família, mas que agora ela sabia ser um traidor. Ele parecia calmo, quase indiferente, mas Hana podia ver a tensão em seus olhos.

O julgamento começou com o promotor apresentando as evidências contra Cha-woo: documentos que provavam seu envolvimento com Min-ho, mensagens que indicavam sua colaboração nos esquemas de extorsão e até registros de encontros secretos entre os dois.

Quando Hana foi chamada para depor, sentiu o peso de todos os olhares sobre ela. Caminhou até o banco das testemunhas e se sentou, mantendo os olhos no juiz.

— Senhorita Hana, poderia nos contar sobre sua relação com o réu? — perguntou o promotor.

Hana respirou fundo antes de responder.

— Cha-woo era o braço direito do meu pai. Ele estava envolvido em todos os negócios da família, administrando boa parte do que meu pai não podia acompanhar. Meu pai confiava nele completamente, mas... — Ela hesitou, sentindo a garganta apertar. — Descobrimos que ele trabalhava com Min-ho pelas sombras, sem que meu pai soubesse. Ele estava ajudando Min-ho a manipular e controlar não apenas os negócios, mas a mim também.

Sua voz era firme, mas o impacto de suas palavras fez o público murmurar. Cha-woo manteve sua expressão fria, mas seus olhos traiam um leve desconforto.

Quando chegou a vez de sua mãe depor. A mulher parecia hesitante, com os ombros caídos e um olhar perdido.

O tribunal estava mergulhado em um silêncio tenso enquanto a mãe de Hana, de mãos trêmulas, tomava seu lugar no banco das testemunhas. O olhar hesitante dela vagou pela sala, encontrando o de Hana por um breve instante antes de desviar. A tensão no ambiente era palpável, como se todos prendessem a respiração, esperando as próximas palavras.

O juiz ajustou os óculos e, com uma voz firme, perguntou:

— Senhora Kim, o que pode nos dizer sobre a relação entre Cha-woo, seu marido e sua filha? — o promotor perguntou.

A mãe de Hana engoliu em seco antes de responder.

— Meu marido confiava em Cha-woo como se fosse parte da família. Ele acreditava que Cha-woo estava protegendo Hana, mas... — Sua voz falhou, e ela olhou diretamente para Hana, lágrimas nos olhos. — Eu sabia que algo estava errado. Cha-woo estava envolvido com Min-ho. Eu suspeitei disso naquele dia...

— Senhora Kim, poderia nos dizer quando começou a suspeitar do envolvimento do réu?

Ela respirou fundo, o nervosismo evidente em cada movimento.

— Foi no dia em que fui até Cha-woo pedir ajuda, — começou, a voz trêmula. — Meu marido... ele queria ir até a polícia. Ele dizia que sabia o suficiente para expor o que estava acontecendo.

Hana inclinou-se levemente, os olhos fixos na mãe, absorvendo cada palavra.

— Ele queria denunciar tudo, — continuou a mãe, com a voz mais embargada. — Disse que não podia mais viver com aquilo na consciência. Mas eu estava com medo. Se alguém descobrisse, todos nós estaríamos em perigo. Então fui até Cha-woo. Eu... eu confiava nele. Achei que ele poderia impedir meu marido de fazer isso, proteger nossa família.

O promotor deu um passo à frente, aproveitando a deixa.

— E o que aconteceu nesse encontro?

A mulher hesitou, olhando para o chão antes de levantar a cabeça novamente.

— Eu contei tudo a ele. Que meu marido estava decidido a ir à polícia e que queria tirar Hana daquela situação. Eu até mencionei que ele estava pensando em confrontar Min-ho, dizendo que ele havia passado dos limites. Mas... — Sua voz falhou, e ela engoliu em seco. — Eu não sabia. Não sabia que Cha-woo estava envolvido nisso também.

O juiz, mantendo a atenção, pediu que ela continuasse.

— Foi nesse dia que percebi que algo estava errado. Quando eu estava lá, vi Cha-woo nervoso, pegando no celular e escrevendo alguma mesagem. Não entendi o que estava acontecendo na hora, mas quando sai de la eu comecei a desconfiar... entao peguei e tentei falar com meu marido varias vezes mas sem resposta. Ele estava traindo meu marido e nós todos.

— E o que aconteceu no dia do acidente? — perguntou o promotor, a tensão na sala crescendo.

A mãe de Hana abaixou a cabeça, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto.

— Naquele dia... seu pai... — Ela parou, olhando diretamente para Hana, a culpa evidente em seus olhos. — Ele estava indo até você, Hana. Ele sabia o que Min-ho estava fazendo com você e queria tirá-la de lá. Ele decidiu que contaria tudo à polícia e enfrentaria as consequências.

Hana sentiu como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões. A mente dela girava com a revelação. Tudo o que ela acreditava saber estava desmoronando diante de seus olhos.

— Mas ele nunca chegou até você, — continuou a mãe, agora soluçando. — As provas do acidente confirmam que os freios do carro dele foram sabotados. Ele foi morto antes que pudesse fazer qualquer coisa.

O tribunal foi tomado por murmúrios, e o juiz bateu o martelo para restaurar a ordem. Hana sentiu uma mistura de choque, raiva e uma tristeza esmagadora. Seu pai não a havia abandonado. Ele estava tentando salvá-la e pagou o preço final por isso.

Seo-jun, sentado ao lado dela, colocou uma mão reconfortante em seu ombro. Ela olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas, mas encontrou nele uma força silenciosa.

O promotor aproveitou o momento para questionar a ligação de Cha-woo com Min-ho.

— Senhora Kim, o que essas revelações significam em relação ao envolvimento de Cha-woo?

A mãe de Hana respirou fundo, tentando recuperar a compostura.

— Cha-woo sabia de tudo. Ele ajudou Min-ho a controlar minha família, a manipular Hana. Ele sabia o que estava acontecendo e nunca fez nada para impedir. Pelo contrário, ele facilitava as coisas para Min-ho enquanto fingia ser leal ao meu marido.

O olhar de Hana se voltou para Cha-woo. Ele mantinha uma expressão fria, mas havia algo nos olhos dele, talvez um lampejo de nervosismo.

O ambiente no tribunal parecia mais pesado quando Cha-woo foi chamado para depor. Ele se levantou devagar, o rosto endurecido, mas com uma expressão que denotava cálculo. Estava claro que ele se preparara para este momento.

Cha-woo foi até o banco das testemunhas, ajeitou o microfone e cruzou as mãos diante de si, tentando parecer controlado. O promotor o encarou com firmeza antes de fazer a primeira pergunta.

— Senhor Cha-woo, o senhor nega as acusações de envolvimento direto nas atividades criminosas de Min-ho e na morte do pai de Hana Kim?

Cha-woo inclinou-se levemente para o microfone, o tom de voz frio e calculista.

— Eu nunca tive controle sobre as ações de Min-ho. Ele era o responsável. Eu apenas seguia ordens.

— Ordens? — O promotor arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. — O senhor afirma que era apenas um subordinado?

— Exatamente. Min-ho era manipulador, persuasivo. Ele tinha o poder, os contatos. Eu tentei avisá-lo muitas vezes sobre as consequências de seus atos, mas ele não me ouvia.

A sala ficou em silêncio, as palavras de Cha-woo ecoando. Seo-jun estreitou os olhos, visivelmente desconfiado.

— Vamos ser claros, senhor Cha-woo. O senhor nega ter qualquer envolvimento na sabotagem do carro do pai de Hana Kim?

Cha-woo fez uma pausa, o olhar fixo no promotor antes de responder com voz grave.

— Eu não tive nada a ver com isso. Foi uma decisão de Min-ho. Ele ficou nervoso quando soube que o pai de Hana queria denunciá-lo e tirá-la de sua influência. Ele agiu por conta própria.

Hana sentiu um nó na garganta, as palavras de Cha-woo como facas em seu coração. As verdades que estavam sendo expostas eram cruéis demais para serem assimiladas de imediato.

O promotor ajustou seus óculos, olhando para o juiz antes de continuar.

— Min-ho está morto, senhor Cha-woo. É conveniente jogar toda a culpa nele, não acha?

Cha-woo franziu o cenho, mas manteve a compostura.

— Eu apenas falo a verdade. Min-ho foi quem orquestrou tudo.

De repente, a porta do tribunal se abriu. Um murmúrio espalhou-se pela sala enquanto uma mulher, bem vestida, caminhava até o banco das testemunhas. Ela trazia uma pasta em mãos, sua expressão séria.

O promotor virou-se para o juiz.

— Meritíssimo, a acusação chama uma nova testemunha.

Hana arregalou os olhos, reconhecendo a mulher. Era uma antiga secretária de Min-ho, que havia desaparecido após a morte dele.

— Por favor, identifique-se, — disse o juiz, calmamente.

— Meu nome é Soo-jin, — respondeu a mulher, a voz firme. — Fui secretária pessoal de Min-ho por quase cinco anos.

O promotor se aproximou, sinalizando para que ela começasse.

— A senhora tem algo a declarar sobre os eventos relacionados à morte do pai de Hana Kim?

Soo-jin assentiu, abrindo a pasta e retirando várias folhas.

— Estas são mensagens trocadas entre Min-ho e Cha-woo, que consegui recuperar. Eu hesitei em entregá-las antes por medo, mas não posso mais me calar.

O promotor pegou as folhas, passando rapidamente os olhos pelas mensagens antes de lê-las em voz alta:

"Cha-woo: Ele está vindo para tirá-la de você. Se ele falar algo, será o nosso fim.
Min-ho: O que sugere?
Cha-woo: Acabe com isso antes que seja tarde demais.

Min-ho não respondeu diretamente, mas dias depois, o acidente aconteceu.

— Senhora Soo-jin, o que essas mensagens significam? — perguntou o promotor.

— Cha-woo alertou Min-ho sobre as intenções do pai de Hana. Ele sabia que o homem iria até a polícia e tentou garantir que isso fosse impedido. Foi ele quem sugeriu que Min-ho "acabasse com isso".

O tribunal ficou em silêncio. O rosto de Cha-woo, antes impassível, agora estava pálido.

Hana, atordoada, sentiu as lágrimas escorrerem. Tudo fazia sentido agora: seu pai havia tentado salvá-la. Ele foi morto porque ousou desafiá-los.

Cha-woo tentou intervir.

— Isso é uma mentira! Essas mensagens podem ter sido fabricadas. Min-ho tomou todas as decisões sozinho!

O promotor ignorou a interrupção e apresentou a mensagem final:

"Min-ho: Esta feito.
"Min-ho:Ele nunca chegará até ela.

A evidência era esmagadora. O promotor olhou para o júri, então para o juiz.

— Meritíssimo, essas mensagens deixam claro que o réu, Cha-woo, foi cúmplice ativo das ações de Min-ho. Ele não só participou, como instigou e facilitou o assassinato do pai de Hana Kim.

Hana, sentada ao lado de Seo-jun, apertou a mão dele com força. Seo-jun a puxou levemente, inclinando-se para sussurrar:

— Acabou. Eles têm tudo o que precisam.

Hana assentiu, mas seu coração ainda estava pesado. O pesadelo estava chegando ao fim, mas a dor permaneceria.

Então, Soo-jin respirou fundo, como se reunir coragem para continuar. O tribunal inteiro estava atento, o silêncio era quase palpável.

— Sinto muito por Hana, pelas coisas que ela passou. Sei que nada do que eu diga pode mudar isso, mas acho que é hora de expor toda a verdade. Min-ho... na empresa, ele era ainda pior. — Soo-jin fez uma pausa, o olhar baixo, enquanto apertava as mãos trêmulas. — Ele assediava as funcionárias, e todas que tentaram falar sobre isso foram silenciadas.

Um murmúrio indignado percorreu o tribunal. Hana sentiu um frio na espinha ao ouvir aquilo. Era como se, a cada nova revelação, uma camada mais sombria do passado de Min-ho fosse descascada, revelando algo ainda mais perturbador.

Soo-jin prosseguiu, sua voz mais firme, mas carregada de tristeza.

— Não foi apenas isso. Houve um funcionário... um jovem dedicado, que uma vez tentou falar com Hana em uma festa da empresa. Ele parecia nervoso, como se estivesse tentando alertá-la sobre algo. Depois daquela noite, ele desapareceu. Ninguém soube o que aconteceu com ele. Tenho razões para acreditar que Min-ho fez algo. Ele era assim... eliminava qualquer um que considerasse uma ameaça.

Hana ficou imóvel, o rosto congelado em uma expressão de choque. A lembrança daquela noite voltou com força total.

Era uma festa de gala organizada pela empresa de Min-ho. Hana se lembrava de estar em um longo vestido prateado, tentando parecer a esposa perfeita enquanto sorria para os convidados, embora por dentro se sentisse sufocada.

O jovem funcionário se aproximou dela durante o coquetel, olhando para os lados como se temesse ser visto.

— Senhora Hana, por favor... preciso falar com você, é importante. — Ele sussurrou, segurando levemente seu braço.

Hana olhou para ele, surpresa e apreensiva.

— O que está acontecendo?

Ele hesitou, olhando novamente para os lados.

— Min-ho... ele não é quem você pensa que é. Ele está traindo você. Não só com outras mulheres, mas... há outras coisas, coisas graves. Ele...

— Por favor, pare. — Hana interrompeu, a voz baixa, mas firme. Seu coração estava acelerado, e a ideia de ouvir mais a apavorava.

O jovem insistiu, os olhos cheios de urgência.

— Você precisa saber a verdade. Ele não é um bom homem.

Mas Hana não conseguiu ouvir mais. Sentia-se sufocada, com o ar faltando. Ela saiu da festa às pressas, ignorando os olhares curiosos dos convidados.

Agora, enquanto ouvia Soo-jin no tribunal, as peças do quebra-cabeça finalmente se encaixavam. Min-ho não apenas traía sua confiança como também era um monstro que usava seu poder para destruir vidas.

Soo-jin, com os olhos marejados, olhou diretamente para Hana.

— Eu deveria ter falado antes. Mas eu tinha medo. Todos tínhamos. Ele era implacável.

Hana engoliu em seco, segurando a mão de Seo-jun como se aquilo fosse a única coisa que a mantinha ancorada no presente.

O juiz fez um gesto para interromper as declarações.

— Vamos dar prosseguimento ao caso. Senhor advogado de defesa, tem algo a dizer?

O advogado de Cha-woo se levantou, ajeitando a gravata. Ele tentou argumentar que seu cliente apenas seguia ordens de Min-ho, que ele era uma vítima das circunstâncias e não o mentor de nenhum crime. Mas era evidente que, com as provas apresentadas, sua defesa estava fragilizada.

Por fim, o juiz anunciou que o júri se retiraria para deliberar.

Enquanto aguardavam, Hana sentiu um peso enorme em seu peito, como se estivesse à beira de um colapso. Seo-jun a abraçou por trás, sussurrando em seu ouvido.

— Respire, Hana. Isso está quase acabando.

Ela fechou os olhos, tentando encontrar força na presença dele. As horas pareceram se arrastar até que o júri retornou.

O juiz tomou sua posição, pedindo silêncio na sala.

— Após analisar todas as provas e ouvir os depoimentos, o júri chegou a um veredicto.

Hana prendeu a respiração, assim como todos os outros. O juiz leu as palavras que, finalmente, colocariam um ponto final naquela história de dor e justiça.

O líder do júri se levantou, segurando um pedaço de papel em mãos. Ele olhou para o juiz e declarou:

— Após deliberação unânime, este júri considera Cha-woo... culpado.

Houve um silêncio pesado na sala, logo seguido por murmúrios contidos. Hana sentiu um alívio misturado com um estranho vazio. A justiça estava sendo feita, mas não havia como apagar as cicatrizes deixadas por todo o sofrimento.

O juiz continuou:

— Com base nos crimes cometidos e nas evidências apresentadas, o réu será sentenciado a vinte anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional antes de cumprir dois terços da pena.

Cha-woo, sentado na cadeira dos réus, não demonstrou emoção. Ele simplesmente baixou a cabeça, como se já esperasse aquele resultado.

Hana observava tudo, sentindo o peso do momento. Quando Cha-woo foi escoltado para fora do tribunal, ele passou por Hana e, por um breve instante, seus olhos se encontraram. Não havia ódio nem arrependimento nele, apenas uma frieza que a fez estremecer.

Seo-jun apertou levemente sua mão, trazendo-a de volta ao presente.

— Acabou, Hana.

Ela assentiu, mas sabia que o caminho para a cura esta apenas começando.

Após o Julgamento
Ao saírem do tribunal, o céu estava nublado, refletindo o clima emocional de todos ali. No meio da multidão de jornalistas e curiosos, Hana viu sua mãe parada, à distância. Seus olhos estavam fixos nela, cheios de algo que Hana não conseguiu decifrar: culpa, talvez, ou arrependimento.

Por um momento, as duas se encararam. Hana, com o coração pesado, simplesmente acenou com a cabeça, sem dizer uma palavra. Sua mãe pareceu querer se aproximar, mas hesitou. Então, sem mais, virou-se e foi embora.

Seo-jun notou a troca silenciosa e perguntou suavemente:

— Você está bem?

— Sim, estou. — Ela respirou fundo. — Acho que algumas coisas não precisam de palavras.

Ele não insistiu. Apenas passou o braço por seus ombros, oferecendo o conforto que ela precisava.

Agora ela podia, respirar.



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