Resposta ao Universo

O café estava mais cheio do que de costume, mas eu o vi imediatamente. RM estava em sua mesa habitual, o olhar perdido em um caderno aberto, a caneta girando entre os dedos. Aproximei-me devagar, com algo precioso em mãos: minha resposta.

Ele levantou os olhos quando percebeu minha presença, e um sorriso genuíno iluminou seu rosto.

— Yuna! — Ele fechou o caderno e indicou a cadeira à sua frente. — É bom te ver.

Sentei-me e segurei o pequeno caderno que eu havia trazido. Por um momento, hesitei, mas depois respirei fundo e coloquei-o sobre a mesa entre nós.

— Eu queria te mostrar algo.

Seus olhos curiosos caíram sobre o caderno. Ele o pegou com cuidado, como se soubesse que era algo importante. Quando abriu na primeira página, vi a expressão dele mudar, se suavizar, enquanto lia.

Dentro do caderno:

"Pensamentos ansiosos.
Eu os conheço tão bem.
Eles crescem nas rachaduras da minha confiança,
plantados por medos antigos."
Ele parou por um momento e me olhou, como se pedisse permissão para continuar. Eu assenti.
"Mas, como você disse, eles não são inimigos.
São ecos de uma criança que aprendeu a sobreviver
em um mundo que nem sempre era gentil.
E hoje, eu escolho ouvi-los,
mas não deixar que eles decidam por mim.
Porque, dentro de mim,
o universo também vive.
Um lugar onde as estrelas são sonhos,
e cada constelação, um pedaço de quem eu sou.
Eu acredito nisso agora.
Acredito que há bondade no meu coração,
mesmo nos dias em que ele parece pequeno demais para conter amor.
E, como você disse,
talvez eu mereça milagres." 

Quando ele terminou, RM fechou o caderno e ficou em silêncio por alguns segundos. Os olhos dele brilhavam, como se vissem algo além das palavras.

— Yuna, isso é... incrível.

Eu senti minhas bochechas ficarem quentes, mas continuei:

Eu senti minhas bochechas ficarem quentes, mas continuei:

— Você sempre diz coisas que parecem uma mão estendida, sabe? Coisas que me fazem pensar, que me desafiam a ser melhor. Esse poema que você compartilhou... — Fiz uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. — Ele me fez olhar para dentro de mim mesma. E eu queria que você soubesse que suas palavras têm poder. Elas mudam coisas.

Ele balançou a cabeça, um sorriso pequeno e humilde nos lábios.

— As palavras só têm poder quando encontram um coração disposto a ouvir. Você fez todo o trabalho, Yuna. Transformou isso em algo seu.

Olhei para ele, sentindo o peso das palavras dele, e me dei conta de algo: não era só sobre ele me inspirar. Era sobre como essa troca nos tornava mais fortes, mais conectados.

— Você acha mesmo que eu mereço um milagre? — perguntei, minha voz baixa, quase temendo a resposta.

RM segurou meu olhar, a seriedade em sua expressão sendo mais eloquente do que qualquer outra coisa.

— Não tenho dúvida disso.

Aquela simplicidade quase me desarmou, mas, ao mesmo tempo, me deu forças. Eu me senti valorizada, como se minhas próprias palavras, agora escritas e lidas por ele, fossem uma forma de milagre.

Eu não esperava que ele fosse abrir o caderno novamente, mas ele o fez, apontando para um verso em particular:

"E hoje, eu escolho ouvi-los,

mas não deixar que eles decidam por mim."

— Isso, Yuna. Isso é exatamente o que eu queria dizer. Você captou algo que eu talvez não tenha conseguido explicar completamente.

Sorri, surpresa e grata.

— Talvez seja porque eu já estive lá. Ainda estou, na verdade. Mas agora... agora eu sinto que não estou mais sozinha nisso.

Enquanto nos despedíamos naquela tarde, eu sentia uma calma dentro de mim que há muito tempo não experimentava. Não era apenas o peso das ansiedades diminuindo, mas a compreensão de que elas não precisavam me definir.

Olhei para RM enquanto ele se afastava, o caderno ainda em suas mãos. Ele sempre parecia carregar o mundo nos ombros, mas havia algo nele que fazia o peso parecer mais leve: talvez fosse sua capacidade de compartilhar.

E eu sabia, naquele momento, que o que havíamos compartilhado não era apenas palavras. Era transformação. Era esperança. E, acima de tudo, era a prova de que mesmo nos dias mais difíceis, havia beleza em continuar tentando.


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