Religião e Espiritualidade: O Momento em que Me Sentia Só, mas Não Estava

O Momento em que Me Sentia Só, mas Não Estava

A família da minha mãe era profundamente religiosa. Católicos devotos, seus pais seguiam a doutrina com rigor. Quero deixar claro que respeito todas as crenças, mas minha relação com a fé sempre foi um misto de questionamentos e buscas. Minha mãe, embora não fosse tão praticante, parecia carregar uma espécie de culpa por não viver a religião de forma completa. Talvez por isso, ela tenha me colocado na catequese.

Lembro-me de ouvir que ela e meu pai não podiam comungar porque não eram casados na igreja. No início, eu não entendia o motivo, mas com o tempo, os ensinamentos da catequese esclareceram isso. Apesar disso, minha mãe parecia se afastar cada vez mais das missas e dos rituais. Na minha cabeça de criança, achei que fosse vergonha ou medo de julgamento.

Cresci nesse ambiente de regras religiosas, mas com um abismo entre a prática e a realidade da nossa vida familiar. Era uma contradição difícil de entender. Minha mãe bebia para esquecer a dor, meu pai se entregava às drogas, e eu era uma jovem tentando encontrar algum sentido em meio ao caos.

Tudo começou a mudar em um dia que jamais esquecerei. Havíamos acabado de nos mudar novamente. Era a terceira casa em poucos meses. Eu cheguei em casa e encontrei uma cena que já não deveria ser novidade, mas que ainda doía como se fosse a primeira vez. Minha mãe estava bêbada, e meu pai, fora de si, estava com as mãos em volta do pescoço dela. Ele a estava enforcando.

Não pensei. Não hesitei. Corri para cima dele, gritando para que parasse. Ele me empurrou com brutalidade, e eu caí no chão. Apesar disso, ele recuou. Por algum motivo, ele parou o que estava fazendo e saiu, indo se sentar no lado de fora da casa.

Minha mãe, em vez de fugir ou reagir, simplesmente foi para a cozinha. Pegou outra bebida, sentou-se e começou a chorar. Aquilo me quebrou de um jeito que eu não sabia ser possível. Com apenas 14 anos, eu sentia que estava completamente sozinha no mundo. Gritei para ela sair, fugir daquela situação, mas ela apenas me ignorou, mergulhada em sua dor e na bebida.

Foi naquele momento que algo dentro de mim se quebrou. Saí de casa descalça, correndo pelas ruas do bairro. Não sabia para onde ia, só sabia que queria sumir. A dor, a raiva, o desespero eram insuportáveis. Tudo que eu queria era acabar com aquilo.

Cheguei a uma avenida movimentada, com o pensamento fixo de acabar com minha vida. Eu queria me jogar na frente de um carro e terminar tudo. Enquanto olhava para o fluxo de veículos, algo chamou minha atenção. Lá na frente, vi uma igreja. As portas estavam abertas, e a visão daquele lugar iluminado, em contraste com o caos dentro de mim, me fez parar.

Não sei por quê, mas atravessei a avenida e entrei. Sentei-me no último banco, tremendo e chorando, com o rosto molhado de lágrimas. Não havia ninguém ali. Era só eu e o silêncio. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu senti algo. Não era apenas um alívio, era como se alguém estivesse comigo, mesmo que invisível.

Ali, naquele banco de madeira, o desespero me consumiu por completo. Chorei até não ter mais forças. Mas, ao mesmo tempo, algo me acolhia. Era como se aquele lugar, mesmo vazio, estivesse cheio de algo maior. Pela primeira vez, senti que minha dor estava sendo ouvida.

Saí daquela igreja naquela noite com mais perguntas do que respostas. Não sabia se havia encontrado Deus, se era uma força maior ou apenas minha mente buscando um lugar para se abrigar. Mas algo mudou. O desejo de morrer havia desaparecido.


Do Questionamento à Certeza

Quando criança, minha relação com Deus e a espiritualidade era confusa. Eu via minha mãe, criada em um lar extremamente religioso, questionar suas próprias crenças, enquanto buscava alívio em caminhos que pareciam fugir da fé que lhe foi ensinada. Assistia às missas, fazia minha catequese, mas não entendia. Para mim, tudo parecia uma série de regras e proibições, algo que gerava mais culpa do que conforto.

Me perguntava constantemente: Se Deus é tão bom, por que deixa coisas tão ruins acontecerem? Eu via minha mãe sofrer, meu pai se perder nas drogas, minha casa ser um campo de batalha. Sentia como se Deus estivesse distante, alheio ao meu desespero. Às vezes, eu até questionava: Será que Ele realmente existe?

Naquela noite em que me sentei sozinha no banco daquela igreja, foi como se todas as perguntas que eu tinha feito até então fossem ouvidas de uma só vez. Não recebi uma resposta clara. Não ouvi uma voz ou tive uma visão. Mas senti uma paz inexplicável, algo que nunca havia experimentado. Era como se, mesmo sem entender, eu soubesse que não estava sozinha.


A Caminhada da Fé

A partir daquele momento, minha percepção mudou. Não foi imediato, nem fácil. Ainda levei anos para compreender o que realmente aconteceu naquele dia. Mas hoje, olhando para trás, vejo como aquele instante foi um marco. Ali, comecei a construir uma nova relação com Deus, uma que não dependia de regras rígidas, mas de fé verdadeira.

Descobri que Deus não é aquele que simplesmente evita o sofrimento, mas aquele que nos sustenta enquanto passamos por ele. Milagres são reais. Eu sei disso hoje porque os vivi, ainda que em formas que, na época, eu não reconhecia como milagres.

Por exemplo, naquele dia, a maior transformação não foi externa. O que mudou foi algo dentro de mim: o desejo de desistir se transformou em uma força para continuar. Para mim, isso foi um milagre.


A Certeza de Agora

Hoje, afirmo com toda a convicção que existe um Deus maravilhoso, um Pai que nos acolhe e uma Mãe que intercede por nós com amor infinito. Sei que a fé verdadeira não se trata de simplesmente pedir por milagres, mas de acreditar que eles podem acontecer, mesmo quando tudo parece perdido.

Aprendi também que as palavras que proferimos têm poder. O que dizemos e acreditamos pode transformar nossa realidade. Naquele dia, quando entrei na igreja, tudo o que eu consegui dizer foi uma oração silenciosa, algo como: “Deus, por favor, me ajude.” E Ele ouviu.

Hoje, entendo que orar não é apenas repetir palavras. É abrir o coração, é confiar e entregar tudo ao Senhor. Não importa o tamanho do problema ou da dor, quando nos colocamos diante d'Ele com fé, coisas extraordinárias podem acontecer.


Uma Mensagem Para Você

Se você está enfrentando dificuldades e questionamentos, saiba que é normal duvidar. É normal não entender. Mas não deixe de buscar. Milagres acontecem. Acredite neles. Ore com fé, fale com Deus como quem conversa com um amigo, porque Ele ouve, mesmo quando tudo parece silêncio.

As palavras que você usa, tanto em oração quanto no dia a dia, têm um poder tremendo. Escolha falar com esperança, com amor, com fé. Acredite que o que você deseja pode se tornar realidade.

Naquele dia, sentada naquele banco de igreja, percebi que não precisava ter todas as respostas. Só precisava de um coração aberto para sentir a presença de Deus. E foi ali que descobri: Ele nunca me deixou só. Ele também não deixará você.

"Quando pedimos riquezas, Deus nos dá o trabalho; quando pedimos felicidade, Ele nos dá a oportunidade de encontrar a alegria nas pequenas coisas. Mas, às vezes, estamos tão focados no que queremos que não percebemos o que já temos à nossa frente."

"Eu, como uma criança, não sabia disso ainda. Não entendia que Deus não nos entrega tudo pronto, mas nos ensina a caminhar, nos dá as ferramentas para construir o que desejamos. Descobri isso com os anos, e não foram anos fáceis."

"Aprendi que as respostas de Deus nem sempre vêm na forma que esperamos. Muitas vezes, os momentos mais difíceis são os que nos moldam e preparam para aquilo que pedimos. Ele nunca nos abandona, mas nos guia através do caos."

"Quando clamei por paz, Ele me deu a força para enfrentar as tempestades. Quando clamei por amor, Ele me mostrou como primeiro amar a mim mesma. Quando pedi um milagre, Ele me ensinou a ver o extraordinário nas coisas simples."

"Hoje sei que, mesmo quando a dor parecia insuportável, Deus estava ali. Ele não nos dá o que queremos no momento que queremos, mas sim o que precisamos para crescer e nos tornar mais fortes."

"Olhe ao seu redor. Talvez a resposta que você busca já esteja aí, em algo pequeno e aparentemente insignificante. Deus sempre trabalha em silêncio, mas nunca deixa de trabalhar."

"Eu desejei muitas coisas ao longo da minha vida. Riqueza, felicidade, amor, paz. Não recebi tudo de imediato, mas recebi algo ainda maior: a capacidade de buscar e construir tudo isso com as mãos que Ele me deu."

"Se você está atravessando um período difícil, saiba que ele pode estar preparando você para algo maior. Não desista de orar, de acreditar, de lutar. O que você pediu pode estar mais perto do que imagina."

"Os caminhos de Deus são misteriosos, mas nunca errados. Hoje, sou grata por cada lágrima, porque cada uma delas me levou a um lugar de fé e gratidão que eu nunca imaginaria alcançar."

Acredite: Deus ouve. Ele responde. E mesmo quando a resposta parece tardar, ela está a caminho. Às vezes, Ele não muda a situação, mas transforma o nosso coração. Foi assim que aprendi a ver a vida de outra forma, com olhos cheios de fé e esperança. Você também pode.

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