Min-ho estava no hospital, vigiado de perto pela polícia. Sua recuperação era lenta, mas ele estava fora de perigo. Mesmo assim, seus olhos ainda pareciam cheios de ódio, e sua mente, cheia de planos. As correntes que o mantinham restrito à cama não eram o suficiente para acorrentar seus pensamentos. Sabia que ainda tinha aliados, pessoas dispostas a ajudá-lo a alcançar o que ele queria. A cada olhar furtivo lançado para os oficiais, ele parecia estar se preparando para algo ainda mais sinistro.
No entanto, o foco estava em Hana, e o policial que ficou de vigia na porta de seu quarto sabia disso. Seo-jun, atento, foi informado por uma enfermeira sobre a possível transferência de Min-ho para o hospital-prisão. Ele respirou fundo, já sabendo que a dor não terminaria ali.
Hana, no entanto, tinha seus próprios planos. Ela olhou para Seo-jun, seus olhos marcados pela fragilidade, mas também pela firmeza.
— Seo-jun, eu preciso ver ele.
Seo-jun olhou para ela, hesitante, sentindo a tensão de sua recuperação ainda visível em seu corpo, mas viu a determinação em seus olhos. Não queria vê-la mais uma vez frente àquele homem. Não suportava pensar em mais dor para ela, mas… ele também sabia o quanto essa situação era um peso em seu coração. Ele não queria que Hana se torturasse mais.
— Não, Hana... — Seo-jun tentou resistir, a dor no peito visível, mas ela o interrompeu.
— Por favor... — A voz dela era suave, mas sua mão se apertou na dele com força. — Eu preciso olhar no rosto dele. Eu preciso me livrar disso. Preciso... sentir que estou acabando com isso de uma vez por todas.
Seo-jun suspirou profundamente, sabendo que não havia maneira de convencer Hana a desistir disso. Ele olhou para ela, seu rosto marcado pela dor de querer protegê-la de algo que ele sabia que não era saudável para ela. Mas ele também sabia que, se ela não passasse por isso, nunca conseguiria seguir em frente.
— Tudo bem... Eu vou com você. Mas vou ficar ao seu lado o tempo todo. Não vou deixar você sozinha.
Min-ho estava deitado em sua cama no hospital, com o corpo ainda marcado pelos vestígios da cirurgia, mas agora respirando normalmente. Ele estava estabilizado, sem mais aparelhos, e podia falar. A tensão no ar era palpável, pois, apesar de seu estado, ele ainda era uma ameaça. Porém, algo havia mudado, e ele sabia disso.
Quando Hana entrou no quarto, com Seo-jun ao seu lado, ela sentiu uma onda de repulsa ao vê-lo. Ele estava ali, impotente, preso à cama, mas com aquele olhar de arrogância, como se ainda fosse o homem que controlava sua vida. Porém, ao contrário de todas as vezes em que ele a humilhava, agora era ela quem estava no controle.
Ela olhou para ele, observando cada detalhe do seu corpo, agora frágil e sem poder. Algo dentro dela se acendeu. Min-ho, que uma vez teve o poder de intimidá-la, agora estava vulnerável. Ele não poderia mais fazer nada, e isso a encheu de uma sensação de vitória.
Hana se aproximou da cama de Min-ho, seu coração batendo forte, não de medo, mas pela sensação de libertação que a invadia. Seu corpo ainda exibia as cicatrizes do sofrimento, mas sua mente estava clara, e a dor já não tinha mais poder sobre ela. Ela olhou para Min-ho, que estava deitado, com o rosto pálido e frágil, e se preparou para fazer o que tinha que ser feito.
— Assine os papéis do divórcio, Min-ho. — Sua voz soou firme e cheia de determinação, algo que ele nunca imaginaria ouvir. Aquelas palavras, que antes teriam sido uma súplica, agora eram uma ordem.
Min-ho, ainda preso à cama, com os olhos cheios de ódio e frustração, tentou se mover, mas estava completamente impotente. Ele já não controlava mais nada, e isso o enfurecia. Ele tentou manter a pose, a fachada de homem forte, mas sua voz traiu o desespero.
— Você acha que pode simplesmente me mandar assinar esses papéis? — Ele riu, mas a risada soou vazia e forçada. — Você acha que tem o poder de me destruir assim, Hana?
Hana o encarou com um olhar gélido, como se estivesse vendo um estranho. O homem diante dela era apenas uma sombra, fraco e derrotado.
— Assine agora, eu vou me divorciar de você, custe o que custar. — O tom de sua voz era implacável. — Você nunca foi meu marido. Nunca me tratou como tal. Agora, é tarde demais.
Min-ho se virou com raiva, tentando ignorar as palavras de Hana, mas seu peito apertava, e o medo começava a tomar conta dele. Hana se aproximou mais, caminhando até ele com passos decididos, como se estivesse caminhando sobre uma linha tênue entre a dor e a libertação. Ela não era mais a mesma. Ele não era mais nada para ela.
— Eu jamais me entreguei a você, Min-ho. — Ela falou, suas palavras carregadas de desprezo. — Eu não tinha escolha. Você me roubou tudo: minha dignidade, minha vontade... eu não tinha como escapar, você me fez acreditar que não merecia nada melhor.
Min-ho arregalou os olhos, o rosto se contorcendo com a raiva. Mas a raiva dele não fazia efeito mais. Hana estava além disso, além do medo que ele um dia causou nela. Ela se inclinou para frente, ficando ainda mais próxima, o olhar fixo no dele.
— Você nunca foi um homem para mim. — Ela disse, a voz mais baixa, mas carregada de uma força imensa. — Eu sempre fui um objeto para você.
Min-ho estava furioso, seu corpo tremendo de raiva, mas ele não podia fazer nada. Ele queria gritar, queria lutar contra a realidade que estava se impondo, mas as palavras de Hana continuavam ecoando em sua mente, mais fortes do que qualquer resistência física.
— Eu pensei em outra pessoa... — Hana disse, a voz vacilando por um momento, mas ela a controlou. Ela olhou para Seo-jun, ele estava perto, estava ali com ela. — Eu pensava em Seo-jun. — O nome saiu de seus lábios com uma força inesperada, como uma afirmação poderosa. — Aquele que me amava, aquele que me salvou de você...
Min-ho, agora completamente furioso, rosnou. Ele tentou gritar, tentou amaldiçoá-la, mas sua raiva só fazia aumentar sua humilhação. Ele se debatia na cama, mas nada mudava. Hana, com um olhar frio e sem emoção, continuou.
— Era ele quem eu pensava, Min-ho. A cada toque seu, era ele quem eu sentia, sua respiração, sua boca no meu pescoço... era ele! — As palavras saíram como um golpe, um soco direto no estômago de Min-ho. Cada sílaba que ela pronunciava fazia a realidade ficar ainda mais dolorosa para ele.
Min-ho, desesperado, gritou, tentando se soltar da cama, mas suas mãos estavam atadas, e ele estava em total desespero. Sua raiva explodiu em uma tentativa de ameaça.
— Cale a boca, Hana! — Ele gritou, a voz tremendo com raiva e impotência. — Eu vou te matar! Vou fazer de tudo para acabar com você, Hana!Hana! HANA!!!
Mas ela não se intimidou. Ela já não se importava.
Ela virou as costas para ele, caminhando com passos firmes para fora do quarto. Cada passo a afastava mais daquele pesadelo. Mas antes de sair, ela olhou uma última vez para ele.
— Eu já me libertei de você. Não me interessa mais o que você possa fazer.
Min-ho, em sua cama, gritou em desespero, mas suas palavras eram vazias. Hana já não ouvia. Ela estava longe. Livre.
A cada passo a distanciava do homem que uma vez acreditou que ela fosse dele. Ele, agora, já não tinha mais controle. Ela se libertava, não apenas fisicamente, mas de todas as correntes invisíveis que ele havia colocado em sua mente e em seu coração.
Min-ho ficou ali, preso à cama, incapaz de reagir. O peso das palavras de Hana ainda ecoava em sua mente, um ruído ensurdecedor que ele não podia silenciar. Ele sempre acreditou que ela fosse dele, que sua obediência e sofrimento a tornariam sua propriedade eterna. Mas ao ouvir as palavras dela, ao perceber que seus pensamentos nunca foram dele, mas de outro, tudo desabou.
"Ela nunca foi minha." A compreensão chegou como um golpe. Os pensamentos dela, os sentimentos dela, tudo sempre foi voltado para Seo-jun, aquele que a amava e a salvava enquanto ele a destruía. Ele, Min-ho, nunca passou de um monstro aos olhos dela. E aquele olhar vazio que ela lhe deu ao sair do quarto foi a confirmação de que ele nunca teve nenhum poder sobre ela.
Min-ho olhou para as paredes do quarto, seus olhos começando a se encher de lágrimas de raiva e vergonha. O desespero tomou conta de seu corpo, mas ele não podia mais lutar. O sofrimento dele, o desespero, não valiam mais nada diante da verdade cruel: Hana havia se libertado. E ele não foi capaz de mantê-la, porque nunca a teve de verdade.
O som de passos se afastando ecoou no corredor, e a porta se fechou suavemente atrás dela. Para Min-ho, foi como um sepultamento silencioso, o último vestígio de sua tentativa de controle sendo apagado para sempre.
Quando Hana e Seo-jun saíram do quarto de Min-ho, Hana, já cansada, se apoiou na parede, e Seo-jun não hesitou. Sem um aviso, ele a pegou no colo com uma força cuidadosa, mas determinada.
Ele não disse uma palavra, mas os olhares trocados entre eles diziam tudo. Hana fechou os olhos por um momento, sentindo o toque seguro de Seo-jun em seus braços, algo que ela nunca tinha experimentado antes. Ela sentiu a liberdade, o desejo de viver sem medo.
Enquanto caminhavam pelo corredor, a tensão parecia crescer. De repente, uma movimentação rápida passou por eles. Enfermeiras e médicos corriam de um lado para o outro, sem parar, como se estivessem tentando conter uma crise. Hana, ainda nos braços de Seo-jun, sentiu o aumento da agitação e, mesmo em seu estado fragilizado, seu coração acelerou.
Seo-jun parou, seu olhar atento e preocupado. A pressa deles, a velocidade das movimentações, fazia com que a sensação de algo grave no ar fosse inegável. Ele virou-se ligeiramente para observar, seus olhos fixos nas enfermeiras que passaram apressadas. Era como se fosse algo que exigia toda a atenção dos profissionais.
— O que está acontecendo? — Hana murmurou, quase sem força, mas com uma voz carregada de apreensão.
Antes que Seo-jun pudesse responder, ele avistou o que os outros não pareciam notar: os médicos estavam indo em direção ao quarto de Min-ho. A tensão era palpável, e ele sabia que aquilo não era uma simples rotina.
Algo grave estava acontecendo com Min-ho.
— Não se preocupe — ele respondeu, com suavidade. — Vamos cuidar de você agora.
Hana segurou levemente a camisa dele, como se buscasse força naquele toque. Ainda assim, ela sabia que algo estava acontecendo. A sensação de que o passado ainda não havia sido completamente deixado para trás a incomodava, mas ela optou por confiar em Seo-jun.
Seo-jun, ainda segurando-a com cuidado, virou-se para seguir o caminho até o quarto dela. Mas a sensação de que o fim estava perto pairava no ar. E ele sabia que Hana também sentia isso. Min-ho, o homem que havia aterrorizado a vida dela, estava finalmente chegando ao fim de sua jornada, mas para ela, talvez, fosse apenas mais uma etapa de libertação.
Ele a levou para o quarto dela, fechando a porta suavemente atrás de si. O mundo lá fora continuava em movimento, mas, ali dentro, o silêncio parecia tomar conta.
Seo-jun a colocou na cama com cuidado, e seus olhos encontraram os dela. Ele estava próximo, tão próximo que Hana sentiu o calor que emanava dele. Por um momento, os dois ficaram em silêncio, apenas se olhando, como se as palavras fossem desnecessárias.
— Você acha que acabou? — Hana perguntou, quebrando o silêncio. Sua voz carregava um peso, como se ela estivesse tentando se convencer de que tudo realmente tinha terminado
Com a respiração ainda irregular, olhou para ele, e o peso das palavras que dissera a Min-ho ainda martelava em sua mente. Ela sabia que algo mais precisava ser dito. Algo que talvez só ele entendesse.
— Eu… eu nunca imaginei que pudesse sentir o que sinto agora, Seo-jun. — Ela fechou os olhos, como se tentasse organizar os pensamentos antes de deixá-los escapar. — Quando eu estava lá, com ele, não sabia como me libertar. Mas agora, as palavras que eu disse a ele, você não tem ideia do peso delas…
Seo-jun se inclinou, tomando sua mão como se quisesse ancorá-la em algo sólido, algo que a mantivesse firme, sem permitir que ela caísse novamente no abismo da dúvida.
— O que você disse foi libertador, Hana. Ele não teve poder sobre você. Nunca teve. Não era ele quem você pensava durante tudo isso, você nunca foi dele. — A voz dele era firme, mas suave, e o toque nas mãos de Hana transmitia uma sensação de calor, de acolhimento, uma promessa silenciosa de que ela não estava sozinha.
Hana se encolheu levemente, sentindo o nó em sua garganta apertar. As palavras de Seo-jun eram verdadeiras, mas o peso das últimas semanas ainda estava imerso em sua alma. As lembranças de Min-ho, dos momentos em que ele a humilhava, dominava, não saíam facilmente de sua mente. Mas o que ela sentia por Seo-jun, aquela conexão que parecia intensificar-se a cada gesto dele, a cada palavra... era real. E, pela primeira vez, ela não queria fugir disso.
— Eu não sabia como fugir, Seo-jun. Ele… ele sempre me fez sentir tão pequena. — A voz dela vacilou, quebrando o silêncio com a dor que ainda carregava. — Mas você, você nunca me tratou assim. Eu nunca tive medo de você. E eu… nunca pensei que pudesse sentir o que sinto agora.
Seo-jun olhou para ela com uma intensidade que não podia ser disfarçada. Ele sabia que as palavras de Hana não eram apenas um desabafo, mas uma confissão profunda de tudo o que ela passara. E, mais do que isso, ele sabia que o processo de cura seria longo, que as cicatrizes deixadas por Min-ho não se apagariam rapidamente. Mas, naquele momento, ele sentiu uma certeza: Hana tinha uma força dentro dela que superava qualquer medo, qualquer dor. E isso, para ele, era o mais importante.
— Eu não quero que você se sinta fraca, Hana. Você é mais forte do que pensa. — Seo-jun tocou suavemente o rosto dela, os dedos roçando a pele com uma ternura que a fez fechar os olhos, sentindo-se envolvida pela suavidade do toque. Estar ali, ao lado dele, parecia... certo. Como se o mundo ao redor pudesse desaparecer, mas ele continuaria ali.
Hana abriu os olhos lentamente, seus olhos fixos nos dele. A distância entre eles parecia desaparecer, como se o tempo parasse, tornando o clima no quarto mais intimista, mais carregado de algo que ela ainda não podia nomear. Mas era uma necessidade profunda, algo que ela não podia mais ignorar.
— Eu pensei em você, Seo-jun. O tempo inteiro. Até quando ele me tocava, até quando... — Hana parou, sua voz quebrando, as palavras presas na garganta. Mas Seo-jun não se afastou. Ele permaneceu ali, ouvindo cada palavra, cada respiração dela. — Quando ele me tocava, eu sentia você. Eu pensava em você, em como seria se eu estivesse com você, se eu tivesse a chance de estar com você... sem medo.
Seo-jun engoliu em seco, seu coração batendo mais rápido a cada palavra que saia da boca de Hana. Ele sentia que o momento estava se intensificando, que algo mais estava prestes a acontecer, mas ele não queria apressar. Não agora. Não quando ela finalmente começava a se libertar.
A tensão no ar aumentava, e ele não pôde evitar o impulso de se aproximar ainda mais dela. Seus olhos estavam fixos nos dela, e naquele instante, o mundo ao redor parecia desaparecer.
— Hana... — Sua voz foi baixa, como se ele estivesse questionando se aquilo era real ou apenas um sonho.
Hana respirou fundo, os olhos fixos nos dele. Ela sentia a pressão do momento, o desejo, o alívio, a confusão. Mas, mais do que tudo, havia uma necessidade, algo profundo que ela não podia mais negar.
— Você faz meu coração bater de uma forma que eu não sei explicar. Desde o momento em que você apareceu naquele terraço. Me tirando dali... aquele sentimento de anos atrás... Sempre foi você Seo-jun.
Seo-jun sentiu uma onda de emoções, algo que ele não havia experimentado antes, algo que o fazia querer se aproximar ainda mais. Ele levou a mão até o rosto dela, seus dedos acariciando sua pele com uma suavidade que refletia tudo o que ele sentia. E então, sem mais palavras, ele se inclinou. A proximidade era tão intensa que Hana podia sentir a respiração dele em sua pele, como um sussurro em seu ser.
E então, os lábios deles se encontraram. Não foi um beijo apressado, mas sim um beijo cheio de significados, um beijo que selava tudo o que havia entre eles, uma promessa não dita, mas profundamente compreendida.
Quando se separaram, ambos ficaram ali, os olhos ainda fechados, respirando profundamente, tentando processar o que acabara de acontecer. Hana, mais uma vez, sentiu que finalmente se libertara de tudo o que a prendia, e agora, ao lado de Seo-jun, ela poderia recomeçar.
Seo-jun permaneceu ali, sem pressa, sem palavras. Apenas o silêncio, e a compreensão silenciosa de que algo entre eles havia mudado para sempre.
Seo-jun inclinou-se para mais perto, a respiração quente e suave de Hana acariciando seu rosto. Seus olhos, profundos e intensos, capturaram os dela, e, por um momento, parecia que o tempo havia congelado. O mundo lá fora não existia — apenas eles, envoltos naquele silêncio cheio de significado. As mãos dele encontraram as dela, entrelaçando os dedos com delicadeza, mas também com firmeza, como se quisesse ancorá-la em algo sólido em meio ao caos de sua vida.
Hana sentiu um calor novo florescer dentro de si, algo que não era medo ou angústia, mas uma combinação de conforto e atração. A proximidade dele era intoxicante. Os olhos de Seo-jun desceram brevemente para os lábios dela, e a tensão no ar aumentou. Ele encostou suavemente sua testa na dela, os lábios quase se tocando, como se estivesse esperando um sinal para cruzar aquele limite novamente. O toque de sua testa contra a dela era íntimo, quase tão poderoso quanto um beijo. Hana sentiu seu coração acelerar, as emoções explodindo em seu peito.
Quando ela fechou os olhos, uma única lágrima escapou, não de tristeza, mas de alívio. Pela primeira vez em tanto tempo, ela sentia que poderia respirar. E Seo-jun, sentindo a mudança sutil em sua respiração, apertou suavemente os dedos contra os dela.
O Destino nas Mãos de Hana
Antes que algo mais pudesse acontecer, um som distinto ecoou pelo quarto: uma batida na porta. O feitiço foi quebrado. Hana recuou ligeiramente, embora o calor do momento ainda pairasse no ar como uma promessa não dita. Seo-jun endireitou-se, mas seus olhos nunca deixaram o rosto dela, como se quisesse garantir que ela sabia que ele ainda estava ali.
A porta abriu-se lentamente, e o médico entrou, carregando uma prancheta. Seu olhar era sério, mas compassivo, enquanto ele se aproximava da cama.
— Boa noite, senhora Hana. Senhor… — Ele olhou para Seo-jun, esperando por uma apresentação, mas continuou mesmo sem ela. — Preciso falar com vocês sobre o estado de Min-ho.
Hana inclinou-se levemente, sentindo o estômago apertar ao ouvir o nome dele. Seo-jun colocou a mão no ombro dela em um gesto protetor.
— O que aconteceu com ele? — A voz de Hana saiu mais firme do que ela esperava, mas o tremor em suas mãos a denunciava.
O médico respirou fundo antes de responder.
— Min-ho sofreu um traumatismo craniano severo. A situação aconteceu quando ele estava no quarto com você, senhora Hana. Ele parece ter entrado em um estado de grande descontrole. Como estava algemado à cama, ele começou a usar a cabeça como forma de resistência. Pelos relatos, ele bateu a cabeça repetidamente contra a estrutura metálica do braço da cama. Isso causou lesões internas graves que evoluíram rapidamente para um edema cerebral extenso.
Hana arregalou os olhos, chocada com a explicação.
— Ele... ele fez isso sozinho? — Sua voz estava embargada, e ela sentiu um peso ainda maior em seu peito.
O médico assentiu.
— Sim. Ele estava em um estado de extrema agitação, o que, combinado com as restrições físicas, levou a esse comportamento autodestrutivo. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas a extensão dos danos foi irreversível. Realizamos exames neurológicos que confirmaram a morte encefálica.
Hana cobriu a boca com a mão, tentando processar o que acabara de ouvir. Sua mente voltava ao quarto, àquele momento caótico e aterrorizante. Ela nunca imaginara que algo assim poderia acontecer.
— Doutor… — Ela encontrou forças para perguntar, embora a voz fosse um sussurro. — Isso significa que… que ele está vivo, mas não realmente? Quero dizer, o coração dele ainda bate… por quê?
O médico ajustou os óculos e explicou com paciência.
— O coração dele continua batendo porque ele está conectado a máquinas de suporte à vida. O respirador mecânico mantém os pulmões funcionando, e os medicamentos estabilizam a pressão arterial e outros sinais vitais. Porém, o cérebro não está mais funcionando. Sem o suporte, o corpo dele não seria capaz de continuar sozinho. A decisão de manter ou não esses suportes cabe a você, como esposa legalmente responsável.
Hana sentiu como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. Ela estava confusa, atordoada, mas ao mesmo tempo algo dentro dela começou a se agitar. O peso da decisão era esmagador. Seo-jun, percebendo sua luta interna, apertou suavemente sua mão.
— Você não precisa decidir agora, Hana. Respire. Nós vamos pensar nisso juntos. — A voz dele era calma, mas firme, um lembrete de que ela não enfrentava isso sozinha.
O médico se levantou lentamente, dando-lhes um momento.
— Entendo que é uma decisão difícil. Estou à disposição para responder a quaisquer dúvidas. Se precisarem de mais tempo, avise à equipe. — Ele olhou para Hana com empatia antes de sair, fechando a porta silenciosamente.
Hana deixou escapar um suspiro tremido e levou as mãos ao rosto. Seo-jun aproximou-se novamente, puxando-a para um abraço protetor, e sussurrou ao seu ouvido:
— Você é mais forte do que pensa, Hana. Não importa o que escolha, eu estarei aqui. Sempre.
Hana permaneceu nos braços de Seo-jun por um longo momento, tentando processar tudo o que acabara de ouvir. O peso da decisão que o médico havia colocado sobre ela parecia esmagador. Como esposa legalmente responsável, a escolha sobre o futuro de Min-ho estava exclusivamente em suas mãos, e ela sentia a gravidade disso.
Pouco tempo depois, outra batida na porta interrompeu o silêncio. Era uma enfermeira, trazendo consigo um documento e um semblante profissional, mas compassivo.
— Senhora Hana, sinto muito por incomodá-la novamente. O Dr. Kang pediu que eu trouxesse estas informações. É o protocolo do hospital em casos de morte encefálica. Gostaria de explicar os próximos passos?
Hana, ainda atordoada, assentiu lentamente. Seo-jun segurou sua mão, permanecendo ao lado dela como um pilar de apoio.
A enfermeira puxou uma cadeira para sentar-se à frente de Hana e começou a explicar:
— Primeiro, gostaria de dizer que entendemos que este é um momento extremamente difícil, e estamos aqui para oferecer todo o suporte necessário. Quando um paciente é diagnosticado com morte encefálica, como no caso do seu marido, há dois caminhos principais que geralmente se seguem. O primeiro é a manutenção do suporte vital por tempo indefinido, enquanto a família decide como proceder. O segundo é a descontinuação do suporte, que, devido à condição do paciente, resultará no encerramento das funções vitais.
Hana engoliu em seco, mas permaneceu em silêncio, permitindo que a enfermeira continuasse.
— Também é importante mencionar que, nesses casos, o hospital é legalmente obrigado a informar a família sobre a possibilidade de doação de órgãos. É uma escolha completamente voluntária, mas muitas famílias optam por isso como forma de transformar uma tragédia em esperança para outras pessoas.
Os olhos de Hana se arregalaram ao ouvir a menção de doação de órgãos. A ideia de que algo de bom pudesse surgir daquele caos parecia ao mesmo tempo reconfortante e esmagador.
— Ele... ele poderia doar? — Hana perguntou, com a voz trêmula.
A enfermeira acenou afirmativamente.
— Sim, senhora Hana. Embora o cérebro dele tenha parado de funcionar, muitos dos órgãos estão sendo mantidos em perfeitas condições pelo suporte vital. O procedimento exige autorização da família e envolve uma avaliação rigorosa para garantir que os órgãos possam ser transplantados com segurança. O tempo é um fator importante nesses casos, mas queremos que você tenha a chance de tomar essa decisão sem pressa.
Hana sentiu a garganta apertar. Tudo parecia surreal, como se ela estivesse vivendo em um pesadelo do qual não podia acordar. A ideia de decidir algo tão definitivo sobre a vida ou morte de Min-ho era avassaladora.
— E se eu decidir não fazer nada agora? — ela perguntou, olhando da enfermeira para Seo-jun, em busca de algum tipo de orientação.
A enfermeira respondeu gentilmente:
— Se preferir não tomar nenhuma decisão imediatamente, podemos continuar mantendo o suporte vital enquanto você reflete. Entendemos que é uma escolha pessoal e dolorosa, e não há pressão para uma resposta imediata. No entanto, como parte do protocolo, o hospital realizará reuniões regulares com você para acompanhar o caso. Caso opte por manter o suporte por mais tempo, você também pode buscar uma segunda opinião médica, se desejar.
Seo-jun apertou a mão de Hana, transmitindo segurança.
— Hana, você não precisa carregar isso sozinha. Estou aqui, e juntos podemos decidir o que é melhor para você. Não importa o que escolha, eu vou apoiar você.
Hana fechou os olhos, permitindo-se respirar profundamente enquanto tentava organizar os pensamentos. A enfermeira se levantou, colocando os papéis na mesa próxima.
— Vou deixá-los sozinhos agora. Por favor, não hesite em chamar se precisar de mais informações ou suporte emocional. Temos uma equipe especializada de psicólogos à disposição.
Após a saída da enfermeira, Hana afundou no peito de Seo-jun. Ela sabia que precisava decidir o que fazer, mas, acima de tudo, sentia o peso de um futuro que parecia repleto de incertezas.
Sentindo o calor e a segurança de seus braços ao redor dela. As lágrimas vieram em um fluxo que parecia não ter fim, como se todo o medo, a dor e a angústia que ela segurara por tanto tempo estivessem finalmente encontrando uma saída. No entanto, junto com as lágrimas, surgia uma confusão de sentimentos. Era alívio? Culpa? Ou talvez algo mais profundo, algo que ela ainda não conseguia nomear?
Seo-jun não disse nada. Ele sabia que palavras não seriam suficientes para aliviar a carga que Hana carregava. Tudo o que ele podia fazer era estar ali, presente, deixando que ela sentisse o que precisava sentir. Ele acariciou os cabelos dela suavemente, seus próprios olhos brilhando com a emoção daquele momento.
— Hana — ele sussurrou, finalmente quebrando o silêncio. — Você não precisa decidir nada agora. Tudo isso... é muito. E você tem o direito de sentir, de chorar, de respirar.
Ela levantou o rosto para olhar para ele, as lágrimas ainda escorrendo por suas bochechas. A expressão de Seo-jun era firme, mas havia uma ternura em seus olhos que parecia segurar todos os pedaços quebrados dela.
— Não sei o que fazer, Seo-jun. Não sei como me sentir. Parte de mim... — Ela fez uma pausa, procurando as palavras. — Parte de mim se sente aliviada. Aliviada por ele não estar mais no controle, por saber que nunca mais vou temer o que ele pode fazer comigo. Mas... outra parte... sente que isso é errado. Que eu não deveria sentir isso. Ele era... — Sua voz falhou.
Seo-jun enxugou uma lágrima que caía lentamente do rosto dela com a ponta dos dedos.
— Hana, o que você está sentindo não é errado. Você passou por algo que ninguém deveria passar. Ele te machucou, te controlou, te fez sentir que você era menor do que realmente é. Sentir alívio agora... não significa que você seja cruel ou insensível. Significa que você está começando a recuperar o que ele tentou tirar de você: sua liberdade, sua paz.
Hana segurou a mão de Seo-jun, suas palavras ressoando fundo dentro dela. Era verdade. Ela não tinha controle sobre como se sentia, mas ouvir que isso não a tornava uma pessoa ruim era como um bálsamo para sua alma. Ainda assim, o peso da decisão sobre Min-ho pairava sobre ela como uma sombra.
— Mas... e se eu tomar a decisão errada? E se eu carregar esse peso para sempre?
Seo-jun apertou sua mão com mais força, inclinando-se para que seus olhos estivessem nivelados com os dela.
— Você não está sozinha nisso. Seja qual for sua decisão, ela será sua verdade, sua forma de seguir em frente. E eu estarei ao seu lado. Sempre.
Hana sentiu o calor das palavras dele, a sinceridade em sua voz. Pela primeira vez em anos, ela sentiu que talvez, apenas talvez, pudesse encontrar um caminho para a paz. Não seria fácil, e as cicatrizes que Min-ho deixou em sua alma jamais desapareceriam completamente. Mas, com Seo-jun ao seu lado, ela acreditava que tinha forças para tentar.
Ela recostou a cabeça no peito dele novamente, fechando os olhos enquanto a exaustão física e emocional a alcançava. O mundo ainda estava um caos, mas naquele momento, nos braços de Seo-jun, ela encontrou um breve respiro.
— Vamos passar por isso juntos, Hana. — A voz de Seo-jun era baixa, quase um sussurro. — Não importa quanto tempo leve.
E, enquanto o som do monitor cardíaco preenchia o silêncio do quarto, Hana percebeu que, pela primeira vez, talvez não precisasse carregar tudo sozinha. A respiração dela começou a se acalmar, ainda entrecortada pelas lágrimas, mas menos pesada, menos sufocante. O calor do abraço de Seo-jun parecia um escudo contra a tempestade de emoções que ainda rugia dentro dela.
Ela ergueu a cabeça devagar, os olhos encontrando os dele. Não havia pressa no olhar de Seo-jun, apenas paciência, como se ele estivesse disposto a esperar pelo tempo que fosse necessário para que ela encontrasse as respostas que procurava dentro de si. Hana abriu a boca para dizer algo, mas as palavras não vieram. Em vez disso, ela apenas segurou a mão dele com mais firmeza, como se quisesse transmitir o que sentia de forma silenciosa.
— Eu... — Ela começou, a voz rouca, mas determinada. — Quero acreditar que há algo depois disso. Que posso... recomeçar.
Seo-jun inclinou a cabeça levemente, sua expressão suavizando ainda mais.
— Há, Hana. E você vai conseguir. Você é forte. Mesmo quando acha que não é, você é.
Hana deixou um suspiro escapar, algo entre um soluço e um riso nervoso. A força que Seo-jun via nela parecia tão distante de como ela se sentia naquele momento, mas, de alguma forma, as palavras dele começaram a enraizar uma pequena semente de esperança em seu coração.
A batida leve na porta quebrou o momento entre eles. Era uma enfermeira, que entrou com um carrinho de medicamentos e alguns papéis.
— Com licença, preciso verificar alguns sinais vitais e deixar a medicação — disse a mulher com um sorriso cordial.
Seo-jun assentiu, mas não soltou a mão de Hana enquanto a enfermeira fazia seu trabalho. Hana observou a mulher ajustar os cabos do monitor e administrar a medicação no cateter de seu braço. A normalidade daquele procedimento era quase desconcertante, contrastando com o turbilhão emocional que ela vivia.
Quando a enfermeira saiu, Hana voltou a encarar Seo-jun, como se procurasse algo em seus olhos. Ele sabia o que estava por vir antes mesmo que ela dissesse.
— Eu preciso... ver Min-ho. — A voz dela era baixa, mas carregada de um peso evidente. — Não posso tomar uma decisão sem isso.
Seo-jun hesitou, mas apenas por um instante. Ele sabia que Hana precisava fechar aquele capítulo de sua vida da maneira que julgasse correta.
— Eu vou com você — respondeu ele, sem qualquer traço de dúvida na voz.
Hana sentiu o alívio percorrer seu corpo com a resposta dele. Ela sabia que a presença de Seo-jun ao seu lado seria essencial para enfrentar o que viria. Era hora de encarar Min-ho uma última vez, de olhar para o passado antes de poder seguir em frente.
Ela se levantou devagar, ainda um pouco trêmula, e Seo-jun a ajudou, oferecendo um suporte silencioso, mas constante. Quando começaram a caminhar em direção ao quarto onde Min-ho estava, o corredor parecia mais longo do que o normal, cada passo carregado com a gravidade do momento.
O coração de Hana estava pesado, mas ela sabia que precisava fazer isso. Não apenas por Min-ho, mas por si mesma. Ela precisava encontrar um encerramento, algo que pudesse ser um ponto final na história de dor que ele havia escrito em sua vida.
E enquanto eles avançavam, Hana apertou a mão de Seo-jun novamente, sentindo a força dele fluindo para ela. Não sabia exatamente o que a aguardava naquela sala, mas de uma coisa tinha certeza: não estava mais sozinha.
Hana caminhava ao lado de Seo-jun, o som de seus passos ecoando pelos corredores silenciosos do hospital. Cada porta que passavam parecia contar uma história, mas nenhuma delas se comparava àquela que aguardava Hana no final do corredor. Quando chegaram à sala onde Min-ho estava, Hana hesitou. Sua mão apertou a de Seo-jun com mais força, buscando nele a coragem que sentia faltar.
Seo-jun olhou para ela, seus olhos repletos de compreensão. Ele não disse nada, apenas esperou. Hana respirou fundo e finalmente deu o passo que precisava. Quando a porta se abriu, o som constante e monótono das máquinas tomou conta do ambiente. Lá estava Min-ho, deitado na cama, cercado por tubos e monitores que mantinham seu corpo vivo enquanto sua mente já não estava mais presente.
Hana se aproximou lentamente, sentindo um nó se formar em sua garganta. O homem que ela via ali parecia tão distante do Min-ho que conhecia — o mesmo homem que a fez sentir medo por tanto tempo, mas que agora estava vulnerável, incapaz de causar mais dor. Ela não sentiu raiva naquele momento, nem pena, apenas um peso esmagador de tudo o que haviam vivido juntos.
Ela estendeu a mão, hesitando antes de tocar a dele. O contato era frio, inerte. Hana fechou os olhos, permitindo que uma lágrima solitária escorresse por seu rosto.
— Min-ho... — murmurou, sua voz quebrando. — Eu... não sei o que dizer. Talvez nunca saiba.
Seo-jun permaneceu em silêncio, respeitando o momento dela. Hana respirou fundo novamente e se afastou, voltando para perto da porta onde o médico já a aguardava.
— Eu preciso saber, doutor... — Ela começou, lutando para manter a voz firme. — Min-ho passou por uma cirurgia, certo? Há algo que ainda seja viável para doação?
O médico olhou para ela com um misto de profissionalismo e empatia.
— Senhora, considerando o trauma que ele sofreu e a cirurgia, precisaríamos realizar exames detalhados para avaliar a viabilidade dos órgãos. Mas, em muitos casos como este, é possível que alguns órgãos ainda estejam aptos para doação. No entanto, preciso perguntar... Ele tem outros familiares que possam participar dessa decisão?
Hana balançou a cabeça lentamente.
— Não... Min-ho era filho único. A família dele morreu há anos. Ele só tinha a mim e... minha mãe.
O médico assentiu, anotando algo em sua prancheta.
— Entendo. Nesse caso, a decisão recai sobre você, como cônjuge legal. Se optar por doar os órgãos, faremos todos os esforços para aproveitar aqueles que forem viáveis. Esse ato pode salvar vidas, senhora, e será algo que muitas famílias jamais esquecerão.
Hana sentiu o peso daquelas palavras. Era uma decisão que exigia mais do que ela pensava ter dentro de si, mas, ao mesmo tempo, parecia uma maneira de transformar o que restava daquela história em algo que trouxesse algum bem.
Ela olhou para Seo-jun, buscando novamente o conforto em sua presença. Ele assentiu levemente, como se dissesse que ela estava no controle, que ele estaria ao seu lado independentemente de sua escolha.
— Eu... quero que vocês façam os exames necessários, doutor. Se houver algo que possa ser doado, eu autorizo. — A voz de Hana era baixa, mas havia uma determinação firme em suas palavras.
O médico sorriu levemente, um sorriso que carregava respeito pela coragem dela.
— Muito bem. Vamos começar os procedimentos necessários. Avisarei assim que tivermos os resultados.
Quando o médico saiu, Hana encostou-se à parede, como se toda a força tivesse sido drenada de seu corpo. Seo-jun a segurou antes que ela pudesse deslizar para o chão, envolvendo-a em seus braços mais uma vez.
— Você fez a coisa certa, Hana. — Ele sussurrou. — Isso não apaga o passado, mas pode trazer algo bom para outras pessoas.
Hana encostou a cabeça no peito dele, fechando os olhos. Ainda havia muito para processar, muito para enfrentar, mas, naquele momento, ela sentiu um pequeno vislumbre de paz. Talvez, apenas talvez, o futuro não fosse tão sombrio quanto parecia.
O Peso das Escolhas
O quarto do hospital estava mergulhado em uma quietude esmagadora, o único som vindo dos monitores e do bater suave dos corações que ali, invisíveis, se conectavam. Hana estava encolhida no peito de Seo-jun, os olhos fechados enquanto ele a segurava, o corpo dele um abrigo silencioso contra o caos que se passava em sua mente. O calor da pele dele era um consolo para ela, e seu toque, firme e constante, parecia ajudar a dissipar um pouco da dor que corria por suas veias.
Seo-jun não falava muito. Ele sabia que não era necessário. Seus dedos passavam delicadamente pelos fios de cabelo de Hana, e a carícia suave, como uma promessa de que ela não estava sozinha, fazia seu coração bater com mais calma. Ele sabia o quanto aquele momento estava sendo difícil para ela, o quanto ela estava tentando encontrar um caminho entre o desespero e o alívio, entre o peso da culpa e a necessidade de libertação.
Hana sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto, mas dessa vez ela não tentou impedir. Ela estava quebrada, mas não precisava mais esconder isso. O coração dela estava em frangalhos, mas no calor de Seo-jun, ela sentia que, talvez, poderia reconstruí-lo. Ele a abraçava com uma força tranquila, como se dissesse, sem palavras, que ela poderia sentir a dor sem medo, pois ele estava ali para carregá-la junto com ela.
Ele inclinou a cabeça e beijou a testa dela, de uma forma suave, como se cada gesto fosse uma pequena afirmação de que ele estaria ao lado dela, independentemente do que acontecesse. Hana respirou fundo e, com um suspiro, se afastou levemente, olhando em seus olhos com uma intensidade que fazia o peito dele apertar.
— Eu... — Ela hesitou, as palavras saindo em um fio de voz. — Eu nunca imaginei que o amor pudesse ser assim. Eu nunca imaginei que... seria tão difícil, Seo-jun.
Ele não respondeu de imediato, apenas tocou sua mão, entrelaçando seus dedos nos dela, um gesto simples, mas que comunicava tudo o que ele sentia. Havia algo nos olhos de Hana que, pela primeira vez, ele sentia ser verdadeiramente vulnerável e real. O toque entre os dois era profundo, carregado de sentimentos que eles mal sabiam como nomear, mas que os unia de forma inegável.
— Não precisa definir nada agora, Hana. — Seo-jun murmurou, sua voz grave, quase como se estivesse falando consigo mesmo. — Estamos juntos, e isso é o que importa.
Ela olhou para ele, a angústia no rosto, e a necessidade de encontrar uma saída, de entender o que estava acontecendo em seu coração, a fazia sentir-se perdida e confusa. Seus olhos se encheram de lágrimas, e antes que ela pudesse contê-las, uma delas caiu, percorrendo sua bochecha até alcançar o queixo.
Seo-jun, instintivamente, usou o polegar para secar a lágrima. Hana fechou os olhos, permitindo que o gesto falasse mais do que qualquer palavra. Ele a tinha sempre em seus pensamentos, mas naquele momento, sentia que as palavras eram desnecessárias. Só o toque, a presença dele, poderiam aliviar a dor que ela estava sentindo.
— Como... como isso aconteceu? — A pergunta saiu quase num sussurro, a dúvida e o medo misturados na voz de Hana. Ela se afastou levemente, apenas o suficiente para olhar para ele, a testa ainda tocando o peito dele. — O que exatamente aconteceu com Min-ho? Como ele chegou nesse estado?
Seo-jun respirou fundo, tentando organizar suas próprias palavras. Ele sabia que o caminho até a resposta era mais complexo do que apenas relatar os eventos que o médico havia explicado. Havia camadas mais profundas, camadas que ninguém havia visto, nem mesmo Hana.
— Eu não sei exatamente o que aconteceu com ele, Hana — começou Seo-jun, os dedos de Hana entrelaçados com os dele, uma sensação de conforto mudo, mas ainda assim reconfortante. — Mas o que eu vejo, o que eu entendo, é que Min-ho estava perdido em seu próprio sofrimento, de uma maneira que ele não sabia como lidar. Talvez tenha sido a maneira como a família dele o tratava... ou talvez ele nunca tenha sido realmente amado, de uma forma que fosse saudável.
Hana olhou para ele, os olhos marejados, tentando compreender o que ele queria dizer.
— Ele teve tudo o que quis, não é? — disse ela, com uma leveza amarga na voz. — Mas mesmo assim, ele... me fazia sentir que eu nunca seria suficiente. Por que ele me tratava daquela forma? Ele não via o que estava me fazendo? Por que ele... ele se tornava cada vez mais cruel, Seo-jun?
Seo-jun suspirou, lembrando-se de tudo o que sabia sobre Min-ho. Sua história não era simples. Ela era cheia de vazio e frustração.
— Talvez o que você não tenha visto, Hana, seja o que havia por trás da fachada que ele colocava. Ele nunca foi suficiente para ele mesmo. Desde muito jovem, Min-ho foi cercado de expectativas, de um amor frio, superficial, que nunca o deixou se sentir querido de verdade. Talvez tenha sido isso... talvez a maneira como ele foi moldado pela família dele tenha feito com que ele acreditasse que poderia controlar tudo e todos, até você.
Hana fechou os olhos, sentindo uma mistura de revolta e tristeza. Era difícil imaginar que alguém pudesse ser tão vazio por dentro a ponto de tratar outra pessoa com tanto desprezo. Ela sabia que Min-ho não era totalmente responsável pelo que ele havia se tornado, mas, ao mesmo tempo, ele tinha feito escolhas que a magoaram profundamente. E, no fim, aquilo tudo parecia sem sentido.
— Ele não sabia o que era amor, Seo-jun. — Hana murmurou, sua voz mais suave agora, como se estivesse processando uma revelação que não queria aceitar. — Ele só sabia exigir, controlar, manipular. Eu... eu pensava que, se eu continuasse calada, sendo submissa a ele seria suficiente, ele mudaria. Mas nunca mudou.
Seo-jun a observou com o coração apertado, seus dedos acariciando suavemente a mão dela. Ele queria que ela entendesse que não tinha culpa. Queria que ela soubesse que não era ela que havia falhado, mas sim Min-ho, com suas próprias cicatrizes e imperfeições.
— Min-ho nunca soube o que era ser amado de verdade, Hana. Ele buscava algo em você que não podia ter, porque ele não sabia como dar. O que ele fazia com você não era sobre quem você é, mas sobre as lacunas que ele carregava dentro dele.
Hana suspirou, sentindo o peso da conversa, mas ao mesmo tempo, uma sensação de libertação começava a tomar conta dela. A dor ainda estava lá, mas havia algo mais leve em seu peito. Como se, ao entender a origem do comportamento de Min-ho, ela pudesse finalmente deixar para trás tudo o que ele representava para ela. Não seria mais sua responsabilidade. Ela não precisaria mais carregar o peso daquela relação tóxica.
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