Perdida - Capitulo 16: A Luz Do Amanhecer

Hana estava deitada, cercada por máquinas que preenchiam o silêncio com seus sons mecânicos. O bip constante do monitor cardíaco parecia o único elo entre ela e a vida. A respiração dela era sustentada por um tubo de ventilação, e os curativos no abdômen mal escondiam a gravidade do ferimento. Cada detalhe do quarto era asséptico e frio, contrastando com a onda de emoções que Seo-jun carregava ao atravessar a porta.

Ele se aproximou devagar, quase com medo de perturbá-la, mesmo que soubesse que ela não podia ouvi-lo. Sentou-se na cadeira ao lado dela, o estofado rangendo sob seu peso, e estendeu a mão trêmula, segurando a dela com extrema delicadeza, como se ela fosse feita de vidro.

A sensação de sua pele frágil o esmagou. Aquele toque não era apenas físico; era um lembrete cruel de tudo que ele quase perdera.

— Hana... — sua voz quebrou ao pronunciá-la. Ele passou os dedos pelo cabelo dela, afastando uma mecha da testa suada. — Você não pode me deixar assim.

Ele abaixou a cabeça, os ombros pesados com o peso da culpa e do desespero.

— Eu prometi proteger você... — Ele parou, engolindo o nó que se formava em sua garganta. — Mas falhei. Não deveria ter deixado isso acontecer.

Ele fechou os olhos com força, como se pudesse bloquear as memórias daquela noite. As imagens ainda o atormentavam: o som do tiro, o sangue de Hana manchando o chão, a expressão de medo nos olhos dela enquanto ela lutava pela vida.

— Mas você é a pessoa mais forte que conheço — ele continuou, a voz embargada. — Sei que já passou por tanto, mas preciso que lute mais uma vez. Por favor.

Uma lágrima solitária escapou, escorrendo lentamente pelo rosto dele. Seo-jun pressionou os lábios contra a mão dela, sentindo o calor frágil da pele dela, como se isso pudesse fortalecê-lo.

— Eu estou aqui, Hana. Não vou a lugar nenhum. — Sua voz era firme agora, mesmo que o coração ainda estivesse em pedaços.

Ele ficou ali, o rosto enterrado na mão dela, enquanto os minutos se arrastavam. A esperança era tênue, mas ele não a soltaria. Hana havia lutado antes, e ele sabia que ela podia lutar novamente.

Seo-jun levantou o olhar para o rosto dela, os olhos suplicando silenciosamente por um milagre. — Eu só quero... mais uma chance de fazer as coisas certas. —

As máquinas continuaram seus sons rítmicos, indiferentes ao sofrimento humano na sala, mas, para Seo-jun, cada bip era uma promessa de que ela ainda estava ali. Uma promessa de que ela poderia voltar.

A porta do quarto abriu-se devagar, revelando o médico que conduzira a cirurgia de Hana. Ele entrou com passos firmes, mas seu olhar era cansado, carregando o peso de horas de procedimentos e decisões difíceis.

— Senhor Seo-jun, preciso informá-lo sobre algumas atualizações. — O tom era neutro, profissional, mas a seriedade nas palavras aumentou a tensão no ar.

Seo-jun se levantou, a postura rígida, como se preparasse para receber outro golpe emocional.

— Min-ho passou pela cirurgia. Ele está estável, mas ainda em estado grave. Está sob vigilância policial e continuará a ser monitorado de perto nas próximas horas.

Seo-jun sentiu um alívio amargo ao ouvir isso. Min-ho, pelo menos, não era mais uma ameaça iminente. Mas o que havia feito a Hana ainda era insuportável.

— E Hana? — ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de preocupação.

O médico ajustou o tom, consciente da sensibilidade do momento.

— Hana está estável, mas o quadro ainda é delicado. A recuperação será lenta, e ela precisará de cuidados intensivos nas próximas 48 horas. 

— Entendi. Obrigado, doutor.

O médico inclinou a cabeça, lançando um último olhar de preocupação para Hana antes de sair do quarto.

Assim que a porta se fechou, o peso das informações pareceu cair sobre Seo-jun como uma avalanche. Ele passou as mãos pelo rosto, tentando se recompor. Seu olhar voltou para Hana, tão frágil naquela cama, mas ainda ali. Viva.

Ele se aproximou novamente, inclinando-se sobre ela.

— Hana, eu prometo que vou cuidar de tudo. — A voz dele era baixa, mas determinada. — Você não vai enfrentar isso sozinha. Nunca mais.

Seo-jun respirou fundo, já traçando mentalmente os próximos passos. Min-ho podia estar fora do alcance imediato, mas o trauma que ele havia causado ainda pairava sobre Hana. Agora, ele tinha que garantir que ela tivesse espaço para se recuperar, sem mais ameaças ou pressões.

O silêncio no quarto de Hana era profundo, interrompido apenas pelos bips constantes das máquinas. Seo-jun sentava-se ao lado da cama, seus olhos fixos nela, observando cada movimento, cada suspiro. Ele ainda não conseguia acreditar que ela estava ali, respirando, depois de tudo o que havia acontecido.

Hana estava profundamente adormecida, seu corpo frágil e marcado pela batalha que acabara de travar. As cicatrizes físicas seriam apenas o começo. Havia algo em seus olhos, mesmo fechados, que ele temia. Algo que indicava o quanto ela ainda estava distante, não apenas do mundo ao seu redor, mas de si mesma.

Seo-jun segurou a mão dela com mais força, sentindo a leveza de sua pele entre os dedos. Não importava o que acontecesse, ele estaria ali. Ele prometera que não a deixaria, e agora essa promessa parecia ainda mais grave do que nunca.

O Depoimento

Os passos sólidos e ritmados dos policiais ecoaram pelo corredor do hospital, cada movimento deles marcando um peso adicional na atmosfera já carregada do quarto de Hana. Seo-jun se levantou automaticamente ao ouvir a batida na porta, a tensão enrijecendo seus músculos. Ele sabia que a visita era inevitável, que a polícia precisava do testemunho de Hana, mesmo que ela ainda estivesse gravemente ferida e desacordada.

Os policiais entraram com uma seriedade que não escondiam. Dois homens, uniformes azuis e fisionomias impassíveis. O oficial mais velho, com olheiras marcadas e um olhar atento, fez um leve aceno para os outros enquanto caminhava até a beira da cama de Hana.

— Senhor Seo-jun, precisamos conversar — ele disse, sem rodeios. A voz baixa, porém firme, era um aviso silencioso de que este não seria um encontro simples.

Seo-jun manteve a calma, mas por dentro, o desassossego parecia consumi-lo. A presença deles, ali, enquanto Hana permanecia deitada e inerte, era uma lembrança constante da brutalidade pela qual ela havia passado.

— Ela ainda não acordou? — O policial perguntou, como se suas palavras estivessem isoladas da realidade da situação.

— Não — Seo-jun respondeu, a voz mais baixa do que gostaria. — Já passaram três dias desde o último tiro, mas ela ainda não acordou.

O oficial pareceu registrar a dor contida em cada uma das palavras de Seo-jun, mas não a deixou transparecer em seu rosto impassível. Ele deu uma olhada rápida nos equipamentos médicos ao redor de Hana e continuou:

— Precisamos que nos dê detalhes sobre o que aconteceu naquela noite. Todas as circunstâncias. Cada detalhe pode ser crucial.

Seo-jun sentiu a garganta fechar-se novamente, a dor pulsando em cada fibra do seu corpo. Ele engoliu em seco e começou a relatar tudo o que sabia: a chegada de Min-ho, a luta, os tiros, a presença de um dos homens de Min-ho ainda escondido na confusão. Detalhou os segundos eternos enquanto segurava a mão dela, esperando que a cirurgia não fosse tarde demais.

— E então, quando a situação já parecia impossível, a polícia chegou? — O oficial insistiu, a caneta descansando firmemente sobre seu bloco de anotações.

— Sim — Seo-jun murmurou, sentindo-se quebrado por dentro. — Eu vi o homem de Min-ho. Ele estava lá, escondido. E foi ele quem atirou em Hana. Atirou nela. Depois... depois tudo virou caos.

Havia um silêncio tenso no quarto, apenas o som constante do monitor cardíaco e da respiração artificial de Hana. O policial anotou cada palavra, cada detalhe, e Seo-jun percebeu que cada movimento, cada lápis rabiscando em sua caderneta, era como uma acusação silenciosa.

O outro policial, mais jovem e com os olhos fixos nos equipamentos médicos, perguntou: — E depois da cirurgia, quando ela foi transferida para a UTI? Quais foram as condições médicas dela?

Seo-jun sentiu o estômago revirar. Ele estava preso a esse momento, àquele instante interminável onde a vida de Hana parecia pender entre o fio da esperança e a cruel realidade. Ele relatou cada passo: a operação delicada, a luta para estabilizar seu ritmo cardíaco, o medo de perdê-la antes que pudessem garantir que ela sobrevivesse.

— Ela ainda está lutando — Seo-jun disse, a voz rouca. — Cada segundo que passa eu me agarro à esperança. Hana é forte. Ela não merecia isso, mas eu não vou deixá-la sozinha.

Os policiais anotaram cada palavra, mas não havia resposta que pudesse aliviar a dor de Seo-jun, fazer as imagens do que havia acontecido desaparecerem. Ele sentiu cada grama de peso daquelas horas como uma marca que nunca seria apagada.

— Precisamos de seu testemunho formal assim que Hana estiver estável o suficiente — o oficial mais velho disse finalmente, os olhos sombrios e sem piedade fixos em Seo-jun. — Vamos precisar de todos os detalhes para fazer justiça.

Seo-jun assentiu, incapaz de mais do que isso. Prometera a Hana que não a deixaria sozinha, e agora essa promessa o fazia querer proteger ainda mais do que qualquer coisa. Ele se afastou para deixar os policiais fazerem o seu trabalho, a dor queimar sob a pele, mas a determinação nunca vacilar.

Hana continuava desacordada, ainda em um estado de profunda instabilidade. Os médicos monitoravam seus sinais vitais com uma atenção que parecia quase fanática. A cada hora, seus números melhoravam, mas ela permanecia distante, mergulhada em uma luta que Seo-jun não conseguia imaginar.

Ele nunca se afastava do seu lado. Passava a maior parte do tempo sentado na cadeira ao lado da cama, a mão segurando a dela, sem permitir que a esperança desaparecesse. Ele murmurava palavras baixas, promessas silenciosas e cheias de dor, enquanto tentava ignorar o fato de que o mundo continuava girando fora daquele quarto.

Durante uma das noites mais difíceis, quando o desespero ameaçava consumir até a última fagulha de esperança, Seo-jun sentiu a leve mudança nos dedos de Hana. Ela moveu um pouco, a pele ainda pálida e marcada pela intervenção cirúrgica, mas havia algo mais. Um lampejo de consciência, uma luta para se conectar com o mundo novamente.

— Hana — ele sussurrou, seus olhos fixos nos dela, implorando para que ela visse além da névoa que a mantinha presa. — Você está comigo. Eu não te deixarei. Lute, por favor. Lute por nós.

Amanhecer

A resposta foi um gemido rouco, e uma lágrima escorreu pelo canto do olho de Hana. Seo-jun sentiu o alívio percorrer seu corpo como um raio de sol atravessando uma tempestade. Ela estava voltando para ele.

Quando Hana finalmente abriu os olhos, o quarto estava banhado pela luz morna do amanhecer. Seo-jun estava ali, à beira da cama, os olhos marejados e os lábios comprimidos, como se segurasse todas as palavras que desejava dizer. No instante em que ela o reconheceu, seu olhar capturou a dor e a gratidão que ele tentava esconder.

— Seo-jun... — Ela sussurrou, a voz ainda fraca e rouca. — Você... está aqui.

Ele segurou a mão dela com força, como se temesse que ela desaparecesse novamente. — Hana... você finalmente acordou... — Sua voz quebrou ao dizer essas palavras, enquanto lágrimas desciam pelo rosto. Ele levou a outra mão ao rosto dela, acariciando sua pele com delicadeza. — Eu achei... eu achei que te perderia.

Hana fechou os olhos por um instante, como se estivesse sentindo todas as dores acumuladas em seu corpo. Mas, ao abri-los novamente, havia algo diferente ali. Uma determinação, mesmo nos olhos cansados. Seu olhar fixou-se em Seo-jun, aquele homem que permanecera ao lado dela, que parecia carregar a própria dor dela como se fosse sua.

— Seo-jun... o que... o que aconteceu? — A confusão em sua voz era evidente. — Eu não me lembro... Eu... — Ela pausou, franzindo o rosto enquanto as memórias começavam a surgir, como fragmentos de um quebra-cabeça que ela desejava não montar.

O pânico começou a tomar conta. — Eu... eu matei ele? — Sua voz tremeu, e seus olhos buscaram desesperadamente por uma resposta. — Matei ele, Seo-jun?

— Hana, calma... — Ele interrompeu, apertando levemente sua mão em um gesto de conforto. — Não pense nisso agora. Você acabou de acordar. Está segura, e é isso que importa agora.

Seo-jun estendeu a mão e pressionou o botão de chamada. Ele precisava que alguém confirmasse que ela estava realmente bem. Logo, uma enfermeira entrou no quarto, os olhos arregalados ao ver Hana acordada.

— Ela está consciente! — A enfermeira exclamou, saindo apressada para chamar o médico.

Seo-jun voltou o olhar para Hana, que parecia mais vulnerável do que nunca, mas ao mesmo tempo, ainda tão forte. Ele passou a mão delicadamente pelos cabelos dela, tentando transmitir um pouco da paz que também precisava encontrar.

O médico entrou no quarto acompanhado por duas enfermeiras. Sua expressão era séria, mas havia um brilho de alívio em seus olhos ao ver Hana acordada.

— Que bom que está conosco, Hana. — Ele disse, aproximando-se da cama e pegando seu prontuário. — Você passou por momentos críticos, mas sua recuperação está progredindo bem.

As enfermeiras começaram a verificar os sinais vitais dela. Uma delas ajustou o soro, enquanto a outra aferia a pressão e anotava os dados. O médico colocou um estetoscópio sobre o peito de Hana, ouvindo atentamente sua respiração.

— Respiração estável. — Ele murmurou, virando-se para a equipe. — Vamos fazer alguns testes para avaliar sua recuperação.

Uma das enfermeiras trouxe uma lanterna pequena e verificou as reações das pupilas de Hana, enquanto o médico fazia perguntas simples.

— Consegue me ouvir bem, Hana? — Ele perguntou, analisando atentamente suas respostas.

Hana assentiu lentamente. — Sim... um pouco tonta, mas consigo ouvir.

— É normal sentir-se assim após tantos dias em sedação. Seu corpo precisa de tempo para se ajustar. — Ele fez uma pausa, anotando algo. — Agora, queremos avaliar sua força muscular. Pode apertar minha mão? — Ele estendeu a mão, e Hana, com esforço, conseguiu apertá-la levemente.

Depois de mais algumas perguntas e verificações, o médico deu um passo para trás. — Você está progredindo bem. Ainda precisamos monitorar sua evolução nas próximas 48 horas, mas o pior já passou.

Ele se dirigiu a Seo-jun. — Ela precisará descansar bastante. Não a force a falar ou se esforçar demais. — Em seguida, olhando para Hana, ele completou. — Vou voltar mais tarde para ver como está. Por enquanto, continue se hidratando e não hesite em chamar a enfermeira se sentir algum desconforto.

Após sair, o quarto ficou novamente em silêncio, exceto pelo som dos monitores. Seo-jun sentou-se novamente ao lado de Hana, segurando sua mão com cuidado.

Hana olhou para ele, ainda confusa. — Seo-jun... eu realmente... matei ele? — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele hesitou por um instante, o peso da verdade evidente em seus olhos. — Não, Hana. Você não o matou. Min-ho passou por uma cirurgia de emergência. O estado dele era crítico, mas agora está estável. — Sua voz carregava um tom grave, mas reconfortante. — Ele está sob vigilância policial.

Antes que ela pudesse responder, a porta do quarto se abriu, revelando dois policiais uniformizados. Hana virou a cabeça devagar, seus olhos arregalados.

— Senhorita Hana, sentimos muito por incomodá-la, mas precisamos discutir algumas questões importantes. — O primeiro policial disse, com um tom formal. Ele olhou para Seo-jun, que assentiu e se levantou, embora permanecesse ao lado dela.

— O que... o que querem saber? — Hana perguntou, sua voz ainda trêmula.

— Precisamos do seu depoimento sobre os eventos daquela noite. O senhor Min-ho afirmou que você atirou nele. — O segundo policial falou, sem rodeios.

Hana piscou, tentando processar as palavras. — Eu...? — Sua voz falhou, mas Seo-jun apertou sua mão em apoio.

— Senhorita Hana, sabemos que você foi mantida sob coação. Temos provas de que você foi sequestrada e que Min-ho estava por trás de uma série de crimes. — O primeiro policial explicou. — Você não está sendo acusada de nada. Mas, como ele alegou legítima defesa, precisaremos do seu depoimento para esclarecer os fatos.

Hana respirou fundo, a ansiedade percorrendo seu corpo. — Eu... eu só me lembro de que ele me segurava. Estava desesperada para escapar... Depois, tudo ficou confuso. — Então continuou contando o que ela se lembrava daquela noite.

— Isso é suficiente por agora. — Disse o policial, tomando notas. — Apenas queríamos alertá-la sobre o depoimento de Min-ho. Ele está tentando se defender, mas, com as provas que temos, sua acusação dificilmente será levada adiante.

Hana sentiu um peso enorme sair de seus ombros. — Então, eu... estou livre? — Ela perguntou, a voz embargada.

— Está, senhorita Hana. — Respondeu o policial. — Agradecemos sua cooperação. Desejamos uma boa recuperação.

Os policiais saíram, deixando Seo-jun e Hana novamente sozinhos. Ela suspirou profundamente, a tensão finalmente começando a se dissipar. Seo-jun acariciou os cabelos dela, inclinando-se para beijar sua testa.

— Hana... — Ele murmurou. — E não vou deixar que nada nem ninguém a machuque novamente.

Hana fechou os olhos, permitindo-se, pela primeira vez em dias, sentir-se verdadeiramente segura.

A Recuperação de Hana e o Peso da Realidade

O quarto estava silencioso, iluminado apenas pela luz suave que passava pelas cortinas entreabertas. Hana estava reclinada na cama, ainda fraca, mas seus olhos começavam a ganhar mais vida. A cicatriz no abdômen latejava de forma constante, um lembrete físico de tudo o que havia acontecido.

Seo-jun estava ao lado dela, ocupando a poltrona mais próxima. Ele segurava uma tigela de sopa, soprando suavemente para esfriar antes de oferecer uma colherada. Seus movimentos eram meticulosos, quase reverentes.

— Está quente? — ele perguntou, a voz baixa e cheia de cuidado.

Hana o olhou, tentando segurar o sorriso tímido que ameaçava surgir. Era difícil acreditar que ele estava ali, tão presente, tão dedicado.

— Está bom — respondeu ela, aceitando mais uma colherada. — Você sempre foi assim... tão cuidadoso? — Ela tentou soar leve, mas havia uma profundidade em sua voz que ele percebeu imediatamente.

Seo-jun inclinou a cabeça, observando-a com atenção. — Talvez. Mas com você, Hana, é diferente. — Ele colocou a tigela de lado, como se qualquer distração fosse um insulto àquele momento. — Depois de tudo o que aconteceu, eu não consigo pensar em outra coisa além de cuidar de você.

Ela desviou o olhar, encarando as próprias mãos. — Eu não sei se mereço tanta dedicação... Eu falhei com tantas pessoas. Com minha mãe, com minha própria vida...

Seo-jun se inclinou para a frente, tomando as mãos dela entre as suas. — Hana, olhe para mim. — A firmeza na voz dele fez com que ela levantasse o olhar, encontrando os olhos intensos dele. — Sua mãe não está mais aqui porque ela não teve a coragem de enfrentar certas verdades, mas isso não é culpa sua. Ela foi liberada porque não havia provas contra ela. E agora é você quem precisa se libertar desse peso.

Hana piscou, surpresa com a clareza que ele trazia àquela confusão interna. — Ela estava aqui? Ela... disse algo?

Seo-jun hesitou por um momento, medindo as palavras. — Ela prestou depoimento. Disse que não sabia nada sobre o que Min-ho fez. Depois, foi embora. — Ele respirou fundo. — Mas isso não importa agora. O que importa é você, Hana. O resto... vamos resolver juntos.

A menção de sua mãe a fez se encolher ligeiramente, como se fosse uma ferida que ainda não havia cicatrizado. Seo-jun percebeu e, com cuidado, deslizou a mão pelo cabelo dela, afastando uma mecha teimosa de seu rosto.

— Você não precisa enfrentar tudo sozinha. Não mais. — A intensidade em suas palavras era quase palpável.

Hana sentiu os olhos marejarem. — Seo-jun... — Sua voz falhou, mas ele apertou sua mão, como se quisesse transmitir força por meio daquele toque.

— Não precisa dizer nada. Só saiba que estou aqui. — A voz dele era um sussurro, quase um segredo entre os dois.

Por alguns instantes, o silêncio os envolveu, mas era um silêncio carregado de algo mais. A proximidade entre eles, a maneira como os olhos de Seo-jun nunca deixavam os dela, a respiração quase sincronizada... Tudo criava uma tensão que parecia prestes a explodir.

Hana abaixou o olhar, o coração acelerado. — Por que você faz isso por mim? Depois de tudo... eu só causei problemas.

Seo-jun inclinou-se ainda mais, os rostos próximos o suficiente para que ela sentisse o calor dele. — Porque você é tudo para mim. — As palavras escaparam como uma confissão, carregadas de uma paixão contida. Ele não a beijou. Em vez disso, apenas segurou o rosto dela entre as mãos, o polegar acariciando a pele delicada.

Hana sentiu um arrepio percorrer seu corpo. O olhar de Seo-jun parecia atravessá-la, quebrando todas as barreiras que ela ainda tentava manter. Era como se ele estivesse a um passo de ultrapassar a linha que separava o que eles tinham do que poderiam ter.

— Descanse, Hana. — Ele finalmente disse, a voz carregada de um desejo cuidadosamente contido. — Você precisa se recuperar completamente... E eu vou estar aqui, esperando.

Ela assentiu, as bochechas aquecidas, incapaz de responder. O coração batia mais rápido do que ela achava possível, enquanto observava Seo-jun voltar à poltrona, ainda mantendo os olhos nela, como se temesse que ela desaparecesse a qualquer momento.

Por fim, Hana fechou os olhos, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Mas não conseguiu evitar o pensamento que invadiu sua mente como um sussurro: algo que fazia seu coração acelerar a cada palavra dita, a cada toque delicado de Seo-jun. Era um sentimento que ela mal se lembrava de como era... algo como amor.

Nem mesmo nos momentos em que estava com Min-ho havia sentido aquilo. Era diferente, mais puro, mais intenso. Seu coração parecia ter voltado no tempo, batendo exatamente como fazia quando ela o observava de longe na faculdade, sonhando com um futuro que parecia impossível. Mas agora, ele estava ali, ao alcance de suas mãos, e ela sentiu que talvez, só talvez, esse futuro pudesse ser real.

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