O carro deslizou pela estrada solitária, o som do motor parecendo mais alto do que nunca no silêncio que os cercava. Hana olhava fixamente para frente, tentando controlar a ansiedade que apertava seu peito como um nó. Seo-jun, com as mãos firmemente no volante, olhava para ela de vez em quando, sem dizer nada. Ele sabia que qualquer palavra naquele momento poderia quebrá-la ainda mais.
Quando finalmente chegaram a um ponto afastado próximo ao local indicado, Seo-jun parou o carro e respirou fundo. Ele virou-se para Hana, segurando suavemente a mão dela.
— Escute, Hana. Eu sei que isso é difícil. Mas você precisa confiar em mim agora. Fique no carro. Eu só vou verificar a situação. Meus homens estão a caminho, assim como a polícia. Isso vai acabar.
Ela não respondeu, apenas assentiu com a cabeça, mesmo que tudo dentro dela gritasse para ir junto. Seo-jun saiu do carro, fechando a porta devagar para não fazer barulho.
Seo-jun avançou pela mata ao redor do local. Ele sabia como se mover sem ser visto, os anos de treinamento e experiência guiando cada passo. Ao se aproximar do galpão, viu que a entrada estava guardada por dois homens. Ele se escondeu atrás de uma árvore e observou-os por alguns instantes antes de se mover novamente, encontrando um ponto onde pudesse ouvir a conversa lá dentro.
Min-ho estava sentado em uma poltrona, relaxado, como se tivesse todo o controle do mundo. Diante dele, a mãe de Hana estava sentada em um sofá, com uma postura firme, sem nenhuma indicação de que estava ali contra sua vontade.
— Você fez um ótimo trabalho, senhora Kim. Hana vai voltar para mim. Ela não tem escolha. — A voz de Min-ho era calma, quase divertida.
— Ela precisa entender que isso tudo é para o bem dela, Min-ho. Hana sempre foi teimosa, mas eu sei que, no fundo, ela só está assustada. É a idade, você sabe. Jovens são assim.
Seo-jun arregalou os olhos, sentindo o sangue gelar em suas veias. Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo. A mãe de Hana... do lado de Min-ho?
— Ela vai voltar — continuou a mãe de Hana. — Eu vou convencer Hana a deixar essa rebeldia de lado. Ela não entende o quanto você a ama, mas eu sei que sim. Eu sei que você faria qualquer coisa por ela.
Seo-jun sentiu o estômago revirar. As palavras eram frias e calculadas, como se toda a dor de Hana não significasse nada. Ele se segurou para não avançar, mas o impacto daquilo o deixou paralisado.
Min-ho sorriu, satisfeito.
— É por isso que sempre confiei em você. Hana é minha, e agora ela vai entender isso.
Seo-jun sabia que precisava sair dali antes que algo desse errado. Ele deu um passo para trás, pronto para voltar ao carro e esperar pelos reforços, mas ao se virar, ele congelou.
Hana estava ali, logo atrás dele, com os olhos cheios de raiva e dor.
— Você ouviu isso? — ela sussurrou, a voz embargada.
Seo-jun estendeu a mão para ela, mas ela recuou um passo, balançando a cabeça.
— Minha própria mãe… como ela pode?
Seo-jun avançou lentamente, segurando os braços dela para impedi-la de sair correndo em direção ao galpão.
— Hana, por favor... calma.
Ela tentou se soltar, mas ele a puxou para um abraço apertado.
— Eu sei que dói. Eu sei que é difícil acreditar no que acabou de ouvir. — A voz dele era baixa e urgente. — Mas você precisa confiar em mim agora. Eu prometi que não deixaria você sozinha, e eu vou cumprir.
Hana, relutante, parou de lutar e deixou que as lágrimas corressem livremente. O calor do corpo de Seo-jun, a firmeza de seu abraço, era o único consolo que ela tinha naquele momento.
— Como ela pode estar do lado dele, depois de tudo? — Hana sussurrou contra o peito de Seo-jun.
— Eu não sei, Hana. Mas você vai enfrentar isso. Você não está sozinha.
Ele afastou uma mecha de cabelo do rosto dela e segurou o queixo de Hana para que ela olhasse em seus olhos.
— Nós vamos sair disso juntos. Confie em mim.
Ela assentiu, mesmo que o peso das revelações fosse quase insuportável.
Enquanto voltavam para o carro, passos pesados ecoaram ao redor deles. Seo-jun instintivamente colocou Hana atrás de si, mas era tarde demais. Seis homens surgiram de repente, bloqueando o caminho.
— Olha só quem temos aqui — disse um deles, com um sorriso cínico, segurando uma barra de ferro na mão.
Seo-jun manteve a calma, mas sua mente trabalhava rápido. Ele olhou para Hana por um breve momento, transmitindo uma mensagem silenciosa. Corra.
— Não queremos confusão — ele disse, erguendo as mãos devagar, fingindo se render.
Mas os homens riram.
— Não parece que você tem muita escolha, camarada.
Antes que pudessem reagir, Seo-jun agiu. Com um movimento rápido e preciso, ele atingiu o primeiro homem com um golpe direto no rosto, fazendo-o cambalear e cair. O segundo tentou atacá-lo com uma faca, mas Seo-jun desviou, agarrando o braço do agressor e o torcendo com força até ouvir um estalo seco.
— Hana, corra! — ele gritou, enquanto bloqueava um chute de um homem enquanto derrubava outro com um golpe na lateral do joelho.
Hana hesitou por um instante, mas obedeceu, correndo para longe enquanto o som da luta ecoava atrás dela.
Seo-jun continuava enfrentando os homens. Os golpes eram ferozes, e ele se movia com a precisão de alguém que havia treinado por anos para situações como essa. Quando o último deles caiu, Seo-jun ofegou, sentindo uma pontada de dor no ombro. Ele olhou para baixo e percebeu o sangue escorrendo — tinha sido atingido de raspão por um disparo durante a luta.
Retorno ao Perigo
Enquanto corria, Hana ouviu o som de tiros no ar e parou abruptamente, o coração quase saindo do peito. Ela caiu no chão, os joelhos cedendo sob o peso do medo.
— Seo-jun... — ela sussurrou, lágrimas escorrendo.
Sem pensar, ela se levantou e voltou para o local. Ao chegar, viu Min-ho segurando uma arma apontada diretamente para Seo-jun.
— Eu sabia que você voltaria para mim, Hana — disse Min-ho, sua voz fria e controlada. — Você não consegue ficar longe.
Hana parou, olhando para Seo-jun, que estava ajoelhado, com uma expressão de dor e sangue escorrendo de seu ombro.
— Por favor, Min-ho — disse Hana, com a voz trêmula. — Solte ele. Eu... Eu vou com você. Só deixe ele ir.
Seo-jun arregalou os olhos.
— Não, Hana! Não faça isso!
Ela deu um passo à frente, olhando ao redor. O chão estava coberto pelos corpos dos homens que Seo-jun havia derrubado. Cada passo que ela dava parecia um peso insuportável.
— Hana... não... — Seo-jun implorou, estendendo a mão para ela.
Quando ela passou por ele, Seo-jun a agarrou pelo pulso com força, ignorando a dor em seu ombro.
— Eu não vou deixar você ir. Não assim.
Hana olhou para ele, lágrimas escorrendo.
— Eu preciso. Não posso deixar que ele te mate por minha causa.
Ela se soltou, e Seo-jun, ferido e frustrado, só conseguiu vê-la se aproximar de Min-ho.
Min-ho a agarrou pelo rosto com força, seus dedos se apertando contra a pele dela.
— Você é minha, Hana. Nunca se esqueça disso.
Seo-jun aproveitou a distração e, com esforço, pegou uma arma que um dos homens caídos havia deixado. Com a mira firme, atirou no braço de Min-ho, fazendo-o soltar Hana com um grito de dor.
Hana caiu no chão e viu a arma que Min-ho havia deixado cair. Com os olhos fixos nele, a raiva e o medo a dominaram. Sem pensar, ela pegou a arma e apontou para ele.
— Hana... você não vai... — Min-ho começou, mas o som do disparo ecoou antes que ele pudesse terminar.
O tiro acertou o peito de Min-ho. Ele caiu de joelhos, olhando para ela com descrença.
— Hana... eu... — ele sussurrou, antes de cair no chão.
De repente, um dos capangas restantes de Min-ho, escondido nas sombras, disparou. O tiro atingiu Hana na lateral do abdômen, e ela caiu no chão com um grito.
— Hana! — Seo-jun correu até ela, ignorando a dor em seu próprio corpo. Ele a segurou nos braços, pressionando a ferida para tentar conter o sangramento.
Hana abriu os olhos lentamente, o rosto pálido, mas um pequeno sorriso se formou em seus lábios.
— Seo-jun... eu sinto muito...
— Não! Não diga isso! — ele gritou, as lágrimas escorrendo. — Você vai ficar bem. Eu vou tirar você daqui.
Ela levantou uma mão trêmula, tocando o rosto dele.
— Obrigada... Por não me deixar sozinha. Por me mostrar que ainda existe... algo bom.
— Hana, não faça isso comigo. Por favor, aguente firme! — ele implorou, a voz quebrada.
Ela sorriu novamente, mesmo com a dor, e sussurrou:
— Eu.. não me sinto mais... aprisionada — Hana murmurou, sua voz fraca, mas carregada de emoção. — Com você... pude ser livre...
Seo-jun sentiu o peito apertar como nunca antes. Ele pressionou os lábios contra a testa dela, enquanto suas lágrimas caíam sobre o rosto delicado de Hana.
— Eu vou salvar você, Hana. Você vai ficar bem, eu prometo.
O ar ao redor parecia sufocante, carregado de tensão e desespero. Cada segundo parecia se estender por uma eternidade enquanto ele a segurava, como se sua própria força pudesse mantê-la viva.
De repente, o som de sirenes cortou a noite, seguido pelo barulho de veículos freando bruscamente. Luzes vermelhas e azuis iluminaram o cenário sombrio, anunciando a chegada da polícia.
Homens armados, os seguranças de Seo-jun, surgiram logo atrás, se movendo rapidamente em direção aos capangas restantes de Min-ho, rendendo-os com eficiência. A situação estava finalmente sob controle.
Um dos policiais correu até Seo-jun.
— Precisamos levá-la para o hospital agora! — ele disse, avaliando o estado de Hana.
Seo-jun assentiu, seu olhar nunca deixando o rosto dela enquanto a colocava cuidadosamente em uma maca improvisada que haviam trazido.
Hana, mesmo fraca, tentou abrir os olhos uma última vez.
— Seo-jun... obrigada... — ela sussurrou, antes de fechar os olhos, exausta.
Seo-jun ficou ao lado dela enquanto a ambulância chegava, seu coração apertado. A luta havia terminado, mas ele sabia que a verdadeira batalha — a de mantê-la ao seu lado e ajudá-la a superar tudo o que viveram — estava apenas começando.
Com as sirenes ao fundo e a certeza de que Min-ho finalmente havia perdido o controle sobre a vida de Hana, Seo-jun prometeu a si mesmo que nunca a deixaria sofrer novamente.
No Limite Entre a Vida e a Morte
O som das portas da emergência se abrindo ecoava como um trovão. Hana estava em uma maca, o rosto pálido e banhado em suor, enquanto o sangue empapava a lateral de sua roupa. Médicos e enfermeiros rodeavam-na, gritando ordens e lutando contra o tempo.
Seo-jun corria ao lado da maca, o rosto manchado de sangue — o dela — e uma expressão de desespero que ele não conseguia esconder.
— Por favor, salvem ela! — ele implorou, sua voz tremendo enquanto segurava a mão dela, que estava fria como gelo.
Hana abriu os olhos por um breve momento, os lábios entreabertos tentando formar palavras que não saíam.
— Hana, não feche os olhos! — ele pediu, apertando a mão dela. — Fique comigo. Você é forte.
Os médicos o afastaram ao chegar à sala de cirurgia, e Seo-jun sentiu um vazio terrível ao vê-la desaparecer atrás das portas que se fecharam com um clique metálico. Ele ficou ali, parado, os punhos cerrados e o coração esmagado pelo medo.
A sala de cirurgia estava fria, iluminada por luzes cirúrgicas brilhantes que banhavam Hana em um foco intenso. Enfermeiras e médicos se moviam rapidamente, cada um assumindo sua posição enquanto os monitores ao redor apitavam ritmicamente. O som das máquinas preenchia o ambiente com uma urgência quase palpável.
— Frequência cardíaca instável. Vamos precisar intubá-la — disse o cirurgião, já com as luvas colocadas.
Uma máscara de oxigênio foi posicionada sobre o rosto pálido de Hana. Sua respiração era superficial, o tórax mal se elevando.
— Contando até três. Um, dois... três. — A anestesista administrou o sedativo, e Hana começou a perder os últimos vestígios de consciência. Sua cabeça caiu levemente para o lado enquanto um dos médicos ajustava a posição do pescoço para a intubação.
Com precisão clínica, o tubo foi inserido pela traqueia dela. O som do ventilador mecânico logo substituiu a respiração irregular.
— Oxigenação estabilizada, mas a pressão está caindo rapidamente! — avisou uma das enfermeiras, enquanto ajustava os parâmetros no monitor.
— Precisamos agir rápido. Há hemorragia interna. Preparem as compressas e tragam mais unidades de sangue. Vamos abrir — disse o cirurgião, pegando o bisturi.
A incisão foi feita com destreza, e o ferimento foi exposto. O projétil havia causado um dano significativo na lateral do abdômen, atingindo um vaso sanguíneo que continuava a sangrar sem controle...
— Aqui está o problema. Clamp vascular, rápido! — A mão do cirurgião permaneceu firme enquanto ele bloqueava o fluxo de sangue temporariamente.
O suor escorria pelo rosto de todos na sala. Mesmo com o ar-condicionado em pleno funcionamento, a tensão parecia elevar a temperatura.
— Está perfurando mais tecido. Cuidado ao remover o projétil — alertou o assistente cirúrgico.
— Precisamos de mais sucção. Vamos retirar isso devagar... devagar... — murmurou o cirurgião enquanto retirava o projétil ensanguentado e o depositava em um recipiente metálico, o som ecoando pela sala.
Enquanto isso, do outro lado da parede de vidro que separava a sala de cirurgia, Seo-jun observava impotente. Ele havia convencido a equipe médica a deixá-lo assistir à distância. Seus olhos estavam fixos em Hana, o corpo tenso, cada músculo pronto para reagir, mesmo que soubesse que não havia nada que pudesse fazer.
Ele viu quando os médicos retiraram o projétil e iniciaram a sutura dos vasos rompidos. Cada segundo parecia uma eternidade.
— Por favor... por favor... — sussurrou para si mesmo, as mãos pressionadas contra o vidro frio.
— O sangramento está sob controle. Agora vamos fechar. Suturas — ordenou o cirurgião.
Uma nova linha de tensão surgiu quando o monitor cardíaco deu um alarme estridente.
— Ritmo irregular! Está em taquicardia ventricular! — gritou a anestesista, os olhos fixos no monitor.
O coração de Hana estava lutando para se manter funcionando.
Seo-jun ouviu o alarme e viu o movimento frenético na sala. Sua visão ficou turva, e ele socou o vidro com força, como se isso pudesse fazer algo mudar.
— Hana! Não... não! — Sua voz quebrou enquanto ele gritava o nome dela.
Ele pressionou a testa contra o vidro, lágrimas escorrendo livremente.
— Salvem ela... por favor! Não deixem ela ir... não agora!
— Adrenalina, agora! Preparem o desfibrilador, mas só se for necessário — ordenou o cirurgião.
O medicamento foi injetado diretamente na corrente sanguínea, mas o monitor continuava irregular.
— Carregando a 200 joules — avisou a enfermeira, posicionando as pás do desfibrilador sobre o tórax de Hana.
— Afastem-se! — gritou o cirurgião antes de liberar a descarga.
O monitor cardíaco apitou mais uma vez, indicando um ritmo descontrolado.
— Ritmo ainda irregular! Não estabilizou! — gritou a anestesista, ajustando o ventilador mecânico com urgência.
— Aumentem para 300 joules! Carregando novamente! — ordenou o cirurgião, enquanto as pás do desfibrilador eram reposicionadas sobre o tórax de Hana.
A tensão era sufocante. O corpo dela já quase sem vida.
— Afastem-se! — mais uma vez o cirurgião liberou a descarga elétrica.
O corpo de Hana reagiu com um movimento violento, mas o monitor continuava emitindo sons erráticos, os picos e quedas mostrando que o coração ainda lutava desesperadamente.
— Vamos, Hana! Mais uma vez! — a voz do cirurgião estava firme, mas carregada de urgência.
Seo-jun assistia à cena em estado de choque. Cada espasmo do corpo de Hana era como um golpe em sua própria alma. Ele socou o vidro novamente, as lágrimas agora caindo livremente.
— Hana! Não desista! Não agora! — sua voz saiu como um grito desesperado, abafado pela barreira entre eles.
Ele passou as mãos pelos cabelos, os olhos fixos nela, sentindo que cada segundo parecia um século.
— Frequência ainda caindo! — gritou uma das enfermeiras.
— Preparem para mais uma carga. Adrenalina, mais uma dose! — ordenou o cirurgião, já com as pás posicionadas novamente.
— Carga a 360 joules. Afastem-se!
A descarga foi liberada, e o corpo de Hana arqueou novamente. Por um momento, o monitor ficou em silêncio.
— Não... não, por favor... — Seo-jun sussurrou, mal conseguindo se manter de pé.
Então, finalmente, o som contínuo e regular do monitor preencheu a sala.
— Ritmo normalizando! Frequência estabilizada! — anunciou a anestesista, respirando fundo de alívio.
Seo-jun observou enquanto os médicos ajustavam os equipamentos, finalizando o procedimento. Ele encostou a testa contra o vidro frio, o corpo tremendo enquanto tentava recuperar o controle.
— Ela conseguiu... Hana, você conseguiu... — murmurou, a voz embargada, o peito ainda apertado pela tensão.
As lágrimas escorreram, mas dessa vez eram de alívio. Ele quase caiu de joelhos, mas se segurou. Havia esperança novamente, mesmo que fosse frágil.
Com os sinais vitais estabilizados, a equipe médica seguiu finalizando o procedimento, enquanto Seo-jun permaneceu do lado de fora, com os olhos fixos na mulher que amava, sentindo que ele mesmo havia acabado de voltar à vida.
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