Perdida - Capítulo 14: O Peso do Passado e a Fragilidade da Confiança

Hana estava deitada na cama do quarto simples que alugara, o silêncio envolvia o ambiente de forma quase opressiva. O estresse da última semana ainda pairava sobre ela, como uma névoa densa que se recusava a desaparecer. O lado esquerdo do rosto estava com marcas de curativos, vestígios de uma violência que não queria mais lembrar, mas que, de alguma forma, parecia ser parte de seu passado agora. Seu corpo estava cicatrizando, mas sua alma, ainda frágil, precisava de mais tempo para se recompor.

O som da porta se abrindo quebrou o silêncio, e Seo-jun entrou. Ele parou por um momento, a expressão sombria, mas seus olhos brilharam com uma ternura silenciosa ao vê-la. Aproximou-se sem pressa, como se estivesse tentando entender o que ela sentia, antes de tomar qualquer atitude. O cuidado com que se movia não era apenas físico, era como se ele quisesse ser um alicerce sólido para ela, e não apenas alguém que estivesse ali.

— Você está pronta para ir ao hospital? — Sua voz suave trouxe uma sensação de conforto, e ela, com um suspiro leve, se levantou, aceitando a ajuda dele sem dizer nada. A confiança estava se construindo entre os dois, e isso, de alguma forma, aliviava o peso que ela carregava.

No hospital, o ar frio e impessoal parecia pressioná-la, como se a lembrança de tudo o que ela havia vivido estivesse ali, à espreita. Seo-jun permaneceu ao lado dela, a presença dele sendo mais do que um apoio físico; era como se ele fosse a única proteção contra o mundo exterior.

Quando a enfermeira saiu, deixando-os sozinhos na sala, Seo-jun se virou para ela, seus olhos ainda fixos nela, com um brilho misterioso, como se estivesse esperando algo. Ele sabia que havia algo mais em Hana, algo que ela ainda não tinha contado. Mas, ao mesmo tempo, ele respeitava o silêncio dela, sabendo que ela iria se abrir quando se sentisse pronta.

Ele deu um passo mais perto, seus olhos nunca deixando os dela. O ar entre os dois estava denso, carregado de algo que não era mais amizade, mas algo mais profundo. Ele tocou suavemente seu rosto, com os dedos delicados, como se temesse quebrá-la com o simples ato. Sua voz saiu baixa, quase sussurrada.

— Hana... — Ele pausou, hesitando por um segundo. — O que aconteceu? O que Min-ho fez com você?

Hana fechou os olhos por um momento, a dor ainda fresca em suas memórias. Era difícil lembrar, mas ela sabia que precisava contar a ele, confiar nele. Seu corpo estava marcado, mas o que mais a feriu foi o sentimento de traição, o fato de que o médico foi quem revelou tudo para Min-ho.

— O médico… — sua voz saiu trêmula. — Ele… contou para Min-ho. Disse a ele que eu estava tomando medidas para não engravidar. Eu… Eu não estava pronta, Seo-jun. Mas ele me chamou, calmamente, para o quarto, onde não havia câmeras de segurança. E foi ali que ele começou. Me espancou como se fosse normal. Como se fosse justo. Mas, daquela vez… foi diferente. Ele… quase me matou.

Seo-jun fechou os olhos por um instante, a raiva e a dor corroendo-o por dentro. Ele não podia imaginar o que ela passara, mas sentia como se sua alma fosse dilacerada só de ouvir. Ele se aproximou mais, sem pensar, suas mãos pegando o rosto dela com cuidado, como se quisesse proteger aquele ser frágil diante dele. Quando olhou nos olhos dela, seu olhar foi carregado de algo que ele nunca havia demonstrado a ninguém: uma mistura de dor, desejo e compromisso.

— Eu não vou deixar isso acontecer de novo, Hana — disse ele, a voz baixa, mas firme. Ele inclinou-se para ela, tocando sua testa com os lábios, num gesto suave, mas cheio de significado. Quando se afastou um pouco, seus olhos ainda estavam fixos nos dela, quase implorando por algo mais. — Você me tem, sempre.

Hana sentiu o calor de suas palavras, e algo dentro dela se quebrou. Não sabia como lidar com aquilo, com o desejo que começava a se formar entre eles, mas, por alguma razão, ela não queria lutar contra isso. Ela precisava de alguém. E Seo-jun estava ali, pronto para ser a pessoa que ela tanto buscava.

Seo-jun a observava, os olhos brilhando com uma intensidade que a fez se perder por um momento. Ele tocou sua mão delicadamente, os dedos acariciando a pele dela, e com um sorriso suave, mas cheio de intenção, ele disse:

— Eu preciso ir agora. Há algo que eu preciso resolver. — Ele olhou para ela com um toque de dor, mas a preocupação ainda dominava seu semblante. — Mas você precisa ficar segura. Vou deixar dois dos meus seguranças com você. Eles vão proteger você enquanto eu estiver fora.

Hana olhou para ele, a expressão de resistência tomando conta de seu rosto. Não queria seguranças. Não queria mais ninguém controlando sua vida. A memória de Min-ho fazendo o mesmo a incomodava profundamente.

— Eu não quero seguranças, Seo-jun. Min-ho fazia isso. Ele me vigiava, me controlava, e eu… — Ela não conseguiu terminar a frase, a frustração e a dor transbordando dela.

Seo-jun suspirou e, com delicadeza, tocou o rosto dela novamente, seus dedos traçando uma linha suave pela pele dela, quase como um pedido silencioso para ela entender. Ele olhou para ela com um sorriso sutil, mas verdadeiro, e falou:

— Eu entendo, Hana. Eu sei o que significa sentir-se assim. Mas isso não é sobre controle. É sobre segurança. Eu não posso arriscar que algo aconteça com você. Min-ho ainda pode estar por aí, e ele pode fazer qualquer coisa para te encontrar. Eu vou cuidar disso, mas você precisa ficar segura aqui.

Ele se aproximou dela novamente, tocando levemente a testa dela com seus lábios, num beijo que foi suave, mas carregado de um sentimento profundo, que Hana não soubera como responder. Quando ele se afastou, seus olhos brilharam, mais do que nunca.

— Fique segura, Hana. E me espere. Eu volto logo.

Com um último olhar, Seo-jun saiu, deixando Hana ali, sozinha com seus pensamentos, mas com uma sensação de algo mais, algo que ela não conseguia entender totalmente, mas que agora parecia inevitável. 

Naquele momento, Hana sentiu a vulnerabilidade de sua situação. Mesmo com a proteção, ela não podia ignorar o fato de que Min-ho estava por perto, e que poderia tentar algo a qualquer momento. E, como se para confirmar seus piores receios, algo aconteceu.

A porta do hospital se abriu de repente, e antes que Hana pudesse reagir, dois homens mascarados entraram com rapidez. Hana não teve tempo de gritar, uma das figuras a agarrou violentamente, colocando uma mão sobre sua boca para impedir qualquer som.

Ela tentou lutar, mas seu corpo ainda estava fraco demais. As figuras a arrastaram para fora da sala, e, em um piscar de olhos, ela foi arrancada do hospital, sem que ninguém pudesse impedir. Seus pensamentos ficaram turvos, e a última coisa que ela estava pensando era em Seo-jun.

Seo-jun estava a caminho da sede da sua empresa, seu olhar fixo na estrada enquanto o pensamento de Hana ocupava sua mente. Ele sabia que, embora estivesse fazendo o possível para mantê-la segura, o perigo ainda estava à espreita. De repente, o som do celular cortou a tensão, e ao ver o número no display, seu instinto de protetor o fez apertar o telefone contra o ouvido.

— Seo-jun — a voz de um dos seus seguranças, Kang, era urgente. — Senhor, há algo errado. A senhora Hana foi levada… do hospital.

O coração de Seo-jun disparou. Ele já sabia que algo estava prestes a acontecer, mas o pânico ainda o tomou de surpresa. Ele apertou o volante com força, seu olhar fixo na estrada. A estrada estava vazia, mas seu corpo estava cheio de adrenalina, como se cada batida de seu coração fosse um sinal de alerta.

— O que aconteceu? — sua voz estava calma, mas a tensão em sua fala era inconfundível.

— Estávamos em posição, como o senhor pediu. Dois homens mascarados entraram na sala dela. Eles a levaram sem que tivéssemos tempo de reagir. Parece que alguém sabia que estávamos ali. — Kang fez uma pausa, e Seo-jun percebeu o quanto o segurança estava afetado. — Senhor, Min-ho está por trás disso. Ele sabe que você está perto dela.

A raiva queimou o estômago de Seo-jun. Como Min-ho ousava mexer com ele dessa maneira? Ele tinha esperado por algo assim, mas não imaginava que seria tão rápido. O que mais o inquietava era a possibilidade de Hana estar em mãos erradas, mais uma vez.

— Fique de olho. Encontre-os agora. E se algo acontecer com ela, eu não vou perdoá-los. — Seo-jun desligou sem esperar resposta, seus olhos queimando com a fúria que estava se acumulando dentro de si.

A explosão na sua empresa não havia sido um acidente. Ele sabia disso com certeza. Tudo indicava que era um jogo de Min-ho para afastá-lo de Hana. Mas o que ele não sabia era o quanto Min-ho estava disposto a fazer para tomar o controle da situação.

Enquanto isso, no hospital, Hana já não conseguia distinguir se o que estava acontecendo era real. O som de seus próprios batimentos parecia ser o único som que ela ouvia, enquanto os dois homens mascarados a arrastavam pelos corredores frios e vazios do hospital.

Eles a empurraram com força para o elevador, e o metal pesado das portas se fechando atrás dela soou como uma sentença de morte.

— Não! — ela gritou, tentando se desvencilhar, mas o aperto das mãos dos sequestradores era implacável. Um deles pressionou sua cabeça contra a parede do elevador, forçando-a a ficar quieta. A violência era algo que ela conhecia bem, mas nunca dessa maneira. O medo gelava seus ossos, e ela sentia as lágrimas começando a se formar, mas não queria mostrar fraqueza. Não dessa vez.

A descida do elevador parecia uma eternidade. Quando as portas se abriram, Hana foi arrastada até uma van preta estacionada ali, e, em um movimento rápido, a empurraram para dentro. O cheiro de plástico e metal dentro do veículo a fez engolir em seco, e ela tentou manter a calma. Mas a dor do corpo ainda fragilizado, as cicatrizes que Min-ho deixara, eram constantes lembretes de que a vida que ela conhecia estava cada vez mais distante.

O som do motor ligando ecoou em seus ouvidos, e Hana se viu sendo levada para algum lugar desconhecido. O medo apertou sua garganta, e ela olhou para os homens ao seu redor. Eles estavam em silêncio, mas algo nos seus olhos indicava que estavam prontos para qualquer coisa. O que eles queriam dela? Onde a estavam levando?

No banco da frente, o celular de um dos sequestradores tocou, e a voz que ela ouviu do outro lado foi o suficiente para fazer seu sangue gelar.

— Ela está em movimento. Mantenha a calma. — A voz era grave, fria, e parecia vir de alguém que não se importava com a vida dela. — Quando chegarem, a entreguem para ele.

A palavra “ele” foi o suficiente para Hana entender que, sem dúvida, Min-ho estava por trás disso. Mas por que ela? O que ele queria agora? Ele a teria como prisioneira novamente? A ideia a aterrorizava.

No entanto, Hana não era mais a mesma mulher que havia sido. Ela já tinha resistido antes, e faria isso novamente. Mesmo sem forças, ela sentia uma chama interior se acender. Algo nela havia mudado, e, agora, não seria tão fácil assim tomar o controle de sua vida de novo.

Enquanto isso, Seo-jun estava se aproximando do hospital. O prédio da sua empresa havia explodido propositalmente, como ele suspeitava, e ele sabia que isso não era um acidente. Ele deveria estar lá, protegendo Hana, mas algo o estava afastando dela. A ligação com os seguranças confirmara seus piores temores.

Ele acelerou o carro, sua mente trabalhando a mil por hora. Não ia permitir que ela fosse levada. Min-ho cometeria o maior erro de sua vida. Seo-jun se importava com Hana mais do que tudo, e ele faria o impossível para trazê-la de volta.

O Seguestro

Min-ho estava sentado no escritório improvisado de um antigo armazém, suas mãos descansando sobre a mesa de madeira desgastada. O silêncio ao seu redor era quebrado apenas pelo som de gotas de água pingando de algum lugar no teto. Seus olhos estavam fixos no celular diante dele, esperando por uma ligação que confirmasse que o plano estava em andamento.

Seus informantes o mantinham atualizado. Cada movimento de Hana era relatado, e ele sabia que ela estava fragilizada, tornando-a um alvo fácil. A explosão na empresa de Seo-jun fora cuidadosamente sincronizada, planejada para afastá-lo e deixá-la vulnerável.

As últimas semanas o haviam transformado, e havia uma sombra em seu olhar, uma ferocidade que só crescia. Ele não conseguia aceitar que Hana tivesse escapado, que ela tivesse coragem de desafiá-lo. Para ele, ela era sua. Sempre foi.

A porta do armazém se abriu, e um de seus homens entrou, a cabeça inclinada em um gesto de respeito.

— Senhor, eles a pegaram. Está a caminho. — A voz do homem era calma, mas havia algo na maneira como ele falava que indicava receio.

Min-ho se levantou lentamente, ajeitando o terno com um gesto calculado. Um sorriso frio apareceu em seu rosto, mas seus olhos permaneciam sombrios.

— Ótimo. Certifiquem-se de que ela esteja... confortável. — Ele fez uma pausa, pegando o copo de uísque sobre a mesa e girando o líquido âmbar dentro dele. — Quero que ela saiba que não há saída. Não importa onde ela vá, sempre serei eu quem terá o controle.

O homem assentiu e saiu rapidamente, deixando Min-ho sozinho novamente. Ele olhou para o copo em sua mão antes de jogá-lo contra a parede, o som do vidro se estilhaçando ecoando pelo armazém. Sua respiração estava pesada. Ele sabia que Seo-jun estava envolvido, que aquele homem era a razão pela qual Hana estava tão disposta a enfrentá-lo.

— Seo-jun... — ele murmurou, o nome saindo como uma ameaça. — Se acha que pode tirá-la de mim, está mais enganado do que imagina.

Seu plano era simples: destruir qualquer chance de Hana escapar de seu controle. Se ela não estivesse com ele, não estaria com mais ninguém. E Seo-jun... Ele pagaria caro por interferir.

Durante o sequestro

Na van preta, Hana lutava contra a dor física e o medo esmagador. A força dos sequestradores e a tensão no ar tornavam difícil até mesmo pensar em um plano de fuga. Seus pensamentos estavam caóticos, alternando entre desespero e a necessidade de resistir.

Os homens conversavam em murmúrios enquanto a van seguia pela estrada, mas ela conseguiu captar algumas palavras: "entrega", "segurança reforçada" e "Min-ho". A simples menção do nome dele fez seu coração acelerar.

— Por favor... — ela tentou falar, sua voz rouca e trêmula. — Por que estão fazendo isso?

Um dos homens olhou para ela, seu rosto parcialmente visível através da máscara.

— Ordens são ordens. Não pergunte. Apenas se prepare.

Hana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ela sabia que Min-ho estava por trás disso, mas o que ele queria agora? Ele já tinha tomado tudo dela.

A Perseguição

Enquanto isso, Seo-jun estava atrás do volante de seu carro, seus olhos fixos na estrada à frente. A ligação do segurança havia acendido algo dentro dele — uma mistura de raiva e determinação que o fazia ignorar qualquer pensamento racional. Ele sabia que Min-ho havia planejado tudo isso, e a ideia de Hana estar novamente nas mãos daquele homem o enchia de fúria.

Seu telefone tocou novamente. Era Kang, seu segurança.

— Senhor, conseguimos rastrear a van. Está na estrada principal, seguindo em direção ao lado leste da cidade.

— Mantenha os olhos nela. Não os percam. Estou a caminho. — Seo-jun desligou, pressionando o pedal do acelerador.

Ele sabia que a estrada leste era um caminho para fora da cidade, em direção às áreas industriais abandonadas. Min-ho devia estar planejando levá-la para algum lugar isolado.

Quando ele finalmente avistou a van, seus instintos assumiram o controle. Ele posicionou o carro atrás dela, mantendo uma distância segura para não ser notado. Mas sua mente estava fervilhando. Ele precisava de um plano. Apenas segui-los não era suficiente; ele precisava agir antes que fosse tarde demais.

Seo-jun pegou o celular e ligou para Kang novamente.

— Bloqueiem a estrada antes do viaduto leste. Quero todas as saídas fechadas. E tragam reforços.

— Entendido, senhor.

A van acelerou, como se os ocupantes tivessem percebido que estavam sendo seguidos. Seo-jun não hesitou; ele aumentou a velocidade, pressionando o carro ao máximo. A distância entre eles diminuía a cada segundo, e ele sabia que estava prestes a enfrentar algo perigoso, mas não se importava.

Dentro da van, Hana sentiu o veículo acelerar bruscamente e olhou pela janela. Sua visão estava limitada, mas conseguiu ver o carro que os seguia. O coração dela deu um salto. Seo-jun.

Um dos sequestradores percebeu o carro atrás deles e puxou uma arma, abrindo a janela lateral.

— Temos companhia! — ele gritou.

O outro homem olhou para Hana, tirando uma faca do bolso e segurando-a contra o pescoço dela.

— Diga para ele parar, ou você se machuca.

Hana tentou manter a calma, apesar do terror que sentia. Ela olhou para o homem com determinação nos olhos.

— Ele não vai parar. Você não o conhece.

Seo-jun viu a arma apontada na direção dele, mas não diminuiu a velocidade. Pelo contrário, ele manobrou o carro para o lado da van, tentando forçá-la a parar. O som de pneus cantando e metal raspando ecoou pela estrada enquanto ele colidia com a lateral do veículo.

A adrenalina corria em suas veias. Ele não podia deixar que levassem Hana, não importa o que custasse.

O Resgate no Limite

A colisão entre os dois veículos foi brutal, mas não o suficiente para parar a van. Seo-jun sabia que estava arriscando tudo, mas sua mente estava focada apenas em uma coisa: salvar Hana. Ele girou o volante com força, posicionando o carro novamente ao lado da van, enquanto o som de metal se chocando enchia o ar.

Dentro da van, Hana lutava para se manter estável. O impacto a jogou contra a lateral do veículo, e ela sentiu a dor percorrer seu corpo. O homem ao seu lado segurava a faca com mais força, sua expressão ficando cada vez mais tensa.

— Se ele tentar mais alguma coisa, ela vai se machucar! — gritou o sequestrador para o motorista.

— Isso não vai funcionar! — Hana sussurrou com os lábios trêmulos, encarando o homem. — Ele não vai parar por nada.

Do lado de fora, Seo-jun manobrou novamente, dessa vez calculando o impacto para atingir o pneu traseiro da van. Quando ele acertou, o som de borracha rasgando foi seguido por um grito do motorista. A van perdeu o controle, derrapando pela estrada e colidindo com o guardrail antes de parar de forma brusca.

Seo-jun freou o carro abruptamente, saindo antes mesmo que o motor parasse. Ele correu em direção à van com uma mistura de desespero e fúria nos olhos.

O motorista saiu cambaleando do veículo, puxando uma arma de sua jaqueta. Mas antes que ele pudesse sequer apontá-la, Seo-jun já estava sobre ele. Com um movimento rápido, ele desarmou o homem, jogando-o ao chão com um golpe certeiro.

— Onde ela está? — Seo-jun gritou, sua voz carregada de ameaça enquanto pressionava o joelho contra o peito do motorista.

— Dentro! — o homem respondeu, cuspindo sangue.

Seo-jun se levantou rapidamente, correndo em direção à porta traseira da van. O segundo sequestrador já estava do lado de fora, usando Hana como escudo, com a faca pressionada contra o pescoço dela.

— Fique onde está! Ou eu acabo com ela agora mesmo! — ele gritou, seus olhos se movendo freneticamente entre Hana e Seo-jun.

Hana tentou conter as lágrimas, mas a dor no olhar dela era inconfundível. Ela sabia que Seo-jun faria de tudo para salvá-la, mas também sabia que a situação era extremamente perigosa.

— Me solte! — Hana gritou, sua voz carregada de desespero e raiva.

Seo-jun levantou as mãos lentamente, tentando acalmar o homem.

— Você não quer fazer isso. Pense bem. — Sua voz era baixa, mas firme, cada palavra carregando um peso calculado para desestabilizar o sequestrador. — Se você a machucar, não haverá lugar no mundo onde eu não vá te encontrar.

O sequestrador hesitou, sua mão tremendo ligeiramente. Seo-jun percebeu a fraqueza e deu um passo à frente, mas o homem reagiu, pressionando a faca com mais força contra Hana.

— Eu disse para ficar onde está!

Nesse momento, Hana viu uma oportunidade. Lembrando-se de algo que Seo-jun sempre dizia — "A força está na oportunidade" —, ela usou toda a coragem que tinha e pisou com força no pé do homem, enquanto jogava a cabeça para trás, acertando-o no rosto.

O impacto fez o homem soltar a faca por um breve momento, o suficiente para Seo-jun agir. Em um movimento rápido, ele agarrou o braço do sequestrador, torcendo-o até ouvir o som de ossos quebrando. O homem gritou de dor antes de ser jogado no chão, onde Seo-jun o imobilizou.

Hana caiu de joelhos, os ombros tremendo enquanto o choro silencioso escapava em soluços entrecortados. O som abafado da própria respiração parecia tão distante quanto o tumulto ao redor. Ela sabia, no fundo de sua alma, que ele não desistiria. Mesmo no momento mais sombrio, a presença de Seo-jun havia sido como uma promessa invisível que a mantinha em pé.

Ele estava lá.

Seo-jun correu até ela, ajoelhando-se de forma brusca, como se cada segundo distante fosse insuportável. Ele segurou o rosto dela com as mãos, seus olhos frenéticos examinando cada detalhe, buscando algum sinal de ferimento mais grave.

— Hana, você está bem? — A voz, antes carregada de determinação, agora soava trêmula, vulnerável.

Por alguns segundos, ela não conseguiu responder. Suas palavras ficaram presas na garganta, mas ela assentiu levemente, o olhar marejado encontrando o dele.

— Eu sabia... que você viria — murmurou, sua voz embargada, mas carregada de uma certeza que era mais forte que o medo.

Seo-jun não conseguiu segurar mais. Ele a puxou para seus braços com um movimento firme, envolvendo-a em um abraço apertado, quase esmagador. Ele queria protegê-la, senti-la viva contra ele, garantir que ela estava ali, segura.

— Eu nunca desistiria de você. — Sua voz era um sussurro contra o cabelo dela, mas cada palavra carregava o peso de uma promessa inquebrável.

Hana se agarrou a ele como se sua vida dependesse disso, os dedos cravando-se no tecido da camisa de Seo-jun. O calor do corpo dele era reconfortante, e o som de sua respiração próxima a fazia sentir-se ancorada à realidade novamente.

— Você é louco... — ela disse entre lágrimas, um sorriso fraco e incrédulo surgindo em seus lábios.

— Por você, sempre.

Ele afastou o rosto levemente, apenas o suficiente para encontrar os olhos dela novamente. O olhar de Seo-jun era intenso, mas carregava uma suavidade que Hana nunca havia visto antes. Ele enxugou as lágrimas dela com os polegares, sua expressão uma mistura de alívio e dor.

— Nunca mais vou deixar ninguém te machucar. — Suas palavras eram firmes, mas sua voz tremia de emoção.

Sem esperar, ele a ergueu nos braços com cuidado, segurando-a contra o peito.

— Seo-jun, eu posso andar... — Hana protestou fracamente, mas ele balançou a cabeça, determinado.

— Você passou por muito. Deixe-me cuidar de você.

Ela não tinha forças para insistir, então se aninhou em seus braços, sentindo-se protegida como nunca antes. Era um contraste estranho: o caos ao redor e a paz que ela sentia nos braços dele.

O som das sirenes

As sirenes da polícia e das ambulâncias finalmente alcançaram o local. Kang se aproximou correndo, claramente preocupado, mas hesitou ao ver a expressão sombria de Seo-jun enquanto ele segurava Hana.

— Senhor, conseguimos neutralizar a situação. Vamos cuidar do resto.

Seo-jun apenas assentiu, sem desviar os olhos de Hana. Ele caminhou em direção ao carro, ignorando as vozes ao redor.

O momento de escolha

Enquanto Seo-jun a colocava no banco do carro com cuidado, Hana segurou a mão dele, impedindo-o de se afastar.

— Não me deixe... — Sua voz era baixa, quase inaudível, mas carregava toda a fragilidade e medo que ela sentia naquele momento.

Ele apertou a mão dela com força, inclinando-se até que seus rostos estivessem a poucos centímetros de distância.

— Eu nunca vou deixar você. — Ele acariciou o rosto dela mais uma vez antes de fechar a porta, entrando rapidamente no banco do motorista.

Quando o carro começou a se mover, Hana olhou pela janela, vendo o reflexo das luzes piscantes e das silhuetas dos policiais. Por mais assustador que tudo tivesse sido, algo dentro dela se acalmava agora.

Ela sabia que as palavras dele não eram vazias. Pela primeira vez, depois de tanto tempo vivendo em dúvida e medo, ela confiava. Não apenas nas promessas que Seo-jun fazia, mas na presença dele ao seu lado.

Enquanto o carro se afastava do cenário de caos, Hana permitiu que uma pequena fagulha de esperança crescesse. Ele era a única pessoa no mundo que ela acreditava ser incapaz de traí-la, e essa confiança, ainda frágil, começava a preencher o vazio dentro dela.

Min-ho no Armazém

O armazém, normalmente silencioso e quase claustrofóbico, estava agora impregnado de tensão. Min-ho caminhava de um lado para o outro, suas mãos fechadas em punhos, os nós dos dedos brancos pela força. O ambiente era iluminado apenas pelas luzes artificiais penduradas no teto, criando sombras inquietantes nas paredes desgastadas.

Ele estava impaciente. O tempo parecia rastejar, e a ausência de notícias fazia sua mente trabalhar contra ele. A cada som distante, seus olhos se voltavam para a entrada, mas ninguém aparecia.

Min-ho se aproximou de um dos capangas que restava, um homem alto e corpulento, cuja expressão já não disfarçava o incômodo com o chefe.

— Alguma atualização? — Min-ho perguntou, sua voz afiada como uma lâmina, mas com um tom que traía sua inquietação.

O homem hesitou, balançando a cabeça.

— Ainda nada, senhor. Eles devem estar a caminho.

Min-ho estreitou os olhos, a mandíbula apertada. Ele não estava acostumado a esperar. Era ele quem comandava, quem controlava todas as variáveis. Mas agora... agora tudo estava fora do seu controle, e isso o consumia por dentro.

Ele pensou em Hana. Seu rosto delicado, os olhos que costumavam olhar para ele com uma mistura de hesitação e medo. Ele a queria de volta, não por amor ou cuidado, mas porque ela era dele. E ninguém tirava nada dele sem pagar caro por isso.

— Eles têm que trazê-la — murmurou para si mesmo, começando a andar novamente. Suas palavras ecoaram no armazém vazio, como uma ameaça lançada ao universo.

Um som de telefone tocando cortou o silêncio. Min-ho parou abruptamente, o coração acelerado. Ele puxou o celular do bolso e atendeu com um movimento brusco.

— Diga.

Do outro lado, uma voz abafada relatou os eventos. O plano havia dado errado. Hana estava com Seo-jun. Os homens enviados para capturá-la estavam sob custódia, e a polícia já estava no local.

O sangue de Min-ho gelou por um instante antes de ferver de raiva. Ele apertou o telefone com tanta força que parecia prestes a esmagá-lo.

— Como isso aconteceu? — rugiu, a voz ecoando pelo armazém. — Vocês são inúteis!

Ele desligou o telefone com um movimento abrupto, lançando-o contra a parede. O dispositivo se partiu em pedaços, o som ecoando como um grito de frustração.

Min-ho respirava pesado, o peito subindo e descendo enquanto sua mente girava, tentando encontrar uma solução. Ele não podia permitir que isso terminasse assim. Seo-jun estava desafiando tudo o que ele acreditava, tirando algo que ele considerava seu por direito.

Seus olhos encontraram o capanga novamente, que recuou um passo ao perceber o olhar feroz.

— Prepare tudo. Quero saber onde eles estão indo. Não importa o custo, eu vou acabar com isso.

O homem assentiu rapidamente, saindo do armazém com pressa.

Min-ho ficou ali, sozinho, os punhos cerrados e o olhar fixo em algum ponto distante. Ele sabia que a situação estava escapando por entre seus dedos, mas se recusava a admitir derrota.

— Hana... — murmurou, o nome saindo entre os dentes. — Você ainda vai entender que não pode fugir de mim.

A luz oscilou ligeiramente, e a sombra de Min-ho parecia mais longa, mais escura. O silêncio voltou a dominar o espaço, mas não havia paz. Apenas a tempestade crescente dentro dele.

O telefone destruído ainda ecoava em pedaços pelo chão do armazém, mas isso não era suficiente para conter a tempestade que rugia dentro de Min-ho. Ele respirava pesado, o olhar perdido em uma mistura de frustração e raiva incontrolável.

Um dos capangas hesitou antes de se aproximar, tentando encontrar palavras para acalmar o chefe.

— Senhor, talvez devêssemos...

— Cala a boca! — Min-ho gritou, girando o corpo em direção ao homem.

Ele sacou a arma do coldre em um movimento rápido, apontando diretamente para o capanga. O silêncio no armazém tornou-se absoluto, exceto pelo som do gatilho sendo puxado.

— Eu confiei em vocês para fazerem uma coisa simples! Uma coisa! — ele rugiu, os olhos selvagens. — E agora Hana está com ele. VOCÊS FALHARAM COMIGO!

O capanga recuou, levantando as mãos em um gesto defensivo, mas Min-ho não hesitou. Um disparo ensurdecedor ecoou, e o homem caiu ao chão, o sangue se espalhando lentamente no concreto.

Os outros homens no armazém congelaram, trocando olhares nervosos. Ninguém ousava se mover ou falar.

Min-ho respirou fundo, tentando se controlar, mas sua mente estava em chamas. Ele sabia que perder Hana significava perder o controle que ele tinha sobre sua própria vida. Ela era mais do que um objeto de posse. Era o símbolo de seu domínio, e ele não estava disposto a abrir mão disso.

Ele guardou a arma com um movimento firme e pegou outro telefone de um dos capangas. Com dedos tremendo de raiva, discou o número de Seo-jun.

A ligação

No carro, Seo-jun dirigia rápido, seus olhos alternando entre a estrada e Hana, que estava sentada ao lado dele, ainda tremendo de nervosismo. Ele mantinha uma mão firme no volante e a outra sobre a dela, tentando transmitir segurança.

O celular de Seo-jun vibrou no painel. Ele franziu a testa ao ver o nome de Min-ho na tela.

— É ele — disse, apertando os lábios.

Hana olhou para o telefone com os olhos arregalados, seu corpo enrijecendo.

— Não atenda... — ela implorou, a voz baixa e trêmula.

Seo-jun hesitou por um momento, mas sabia que ignorar não era uma opção. Ele pegou o telefone e atendeu, colocando no viva-voz.

— O que você quer, Min-ho? — disse, sua voz firme, mas fria.

Do outro lado, a voz de Min-ho estava carregada de veneno, mas ao mesmo tempo incrivelmente controlada, o que tornava suas palavras ainda mais ameaçadoras.

— Seo-jun... espero que você esteja aproveitando seu pequeno momento de herói. Mas deixe-me ser bem claro: essa história ainda não acabou.

Seo-jun estreitou os olhos, seu maxilar travado.

— Não adianta, Min-ho. Hana está comigo agora. Não há nada que você possa fazer.

Uma risada fria ecoou do outro lado da linha.

— É aí que você se engana. Você acha que pode simplesmente levar Hana e viver feliz para sempre? — Min-ho fez uma pausa, e sua próxima frase foi dita com uma calma cruel. — Eu ainda tenho a mãe dela.

O coração de Hana parou por um instante.

— Não... — ela sussurrou, sentindo o sangue gelar em suas veias.

— É isso mesmo, Hana — continuou Min-ho, sua voz agora diretamente direcionada a ela. — Se você não voltar, se insistir nesse joguinho patético de tentar escapar, eu garanto que sua querida mãe pagará o preço.

— Você não ousaria... — Hana disse, sua voz trêmula, mas cheia de fúria reprimida.

— Tente-me, Hana. Veja até onde eu posso ir.

Seo-jun interveio, sua voz cheia de raiva.

— Se você tocar em um fio de cabelo dela, eu juro que vou acabar com você, Min-ho.

— Ah, Seo-jun... você está tão apaixonado que fica até engraçado. Mas isso não é sobre você. Isso é entre mim e Hana. Você só está no caminho.

Min-ho desligou a ligação abruptamente, como se estivesse começando uma diversão macabra. O silêncio no carro foi esmagador. Hana estava completamente perdida nas palavras de Min-ho, e o pânico estava tomando conta dela, mais forte que qualquer outra coisa. Ela virou-se para Seo-jun, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Eu... Eu não posso deixar isso acontecer, Seo-jun. Se eu não fizer o que ele quer, ele vai... ele vai matar minha mãe. Ele já tinha dito isso antes, eu não acreditei nele... aquelas palavras naquela carta... eu achei que era nada. Como eu não percebi? Como eu não pensei nisso? O que ele fez com meu pai... ele... ele pode fazer o mesmo com minha mãe. Ele... — Hana estava completamente desorientada, sem saber mais o que fazer, sentindo a culpa e o pânico a devorarem por dentro.

Seo-jun a olhou, a dor refletida em seus olhos. Ele sabia o quanto ela estava sofrendo, mas não podia permitir que ela se entregasse ao medo dessa forma.

— Hana... você não vai voltar para ele, entendeu? Eu vou resolver isso. Eu não vou deixar ele tocar em você, nem na sua mãe... eu vou dar um jeito nisso.

Hana olhou para ele, mas a resolução estava falhando dentro dela. Ela sabia que tinha que voltar para Min-ho, mas a ideia de colocar sua mãe em risco... Ela não tinha escolha, não poderia deixar Min-ho fazer o que quisesse com a única pessoa que ela ainda amava.

— Seo-jun... eu preciso ir até ele. — Sua voz estava baixa, mas carregada de uma dor insuportável. — Não posso deixar minha mãe pagar por meus erros. Eu preciso voltar.

Seo-jun a olhou com intensidade, segurando o rosto dela com ambas as mãos, tentando impedir que ela caísse nessa armadilha. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que não poderia forçá-la a tomar uma decisão que não estava pronta para fazer.

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, o celular de Seo-jun vibrou novamente. Ele olhou para a tela e viu uma mensagem da polícia:

"Encontramos o local onde Min-ho está. Estamos indo até lá."

Seo-jun respirou fundo, finalmente encontrando uma saída. Ele olhou para Hana com uma firmeza renovada.

— Ele não vai fazer nada com sua mãe, Hana. A polícia já está a caminho. Não há necessidade de você voltar. Nós vamos acabar com isso, juntos.

Hana olhou para ele, o alívio começando a tomar conta de seu coração. Mesmo que estivesse em conflito, ela sabia que tinha encontrado uma esperança. Seo-jun não a deixaria sozinha.

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