Sozinha no pequeno quarto que alugou temporariamente, Hana está sentada na borda da cama, segurando a nota deixada por Seo-jun. O papel, amassado de tanto ser dobrado e desdobrado, parece pesar mais do que deveria. Seus dedos tremem levemente enquanto ela o segura, e o olhar dela se perde na folha, como se pudesse encontrar respostas apenas encarando as palavras, sem precisar lê-las.
Hana toma uma respiração profunda, sentindo o peso de tudo que aconteceu até ali. Cada lembrança volta à mente: a presença de Seo-jun no hospital, os segredos que ele nunca revelou, a forma como ele reapareceu na vida dela apenas para depois desaparecer novamente, sempre carregando aquele olhar cheio de mistério e dor. E agora essa nota.
O que ele poderia ter escrito? Parte dela quer rasgá-la em pedaços, deixar de lado qualquer ideia de confiar novamente em alguém que a deixou tantas vezes no vazio. Mas outra parte, mais profunda e desesperada, quer entender. Quer saber se alguma coisa que ela e Seo-jun compartilharam ainda poderia ser real.
Finalmente, com os dedos hesitantes, ela abre a nota e começa a ler. A letra dele, firme e cuidadosa, atravessa cada linha, como se ele tivesse se esforçado para colocar todos os sentimentos ali, no papel.
“Hana, Eu sei que você tem perguntas. Sei que há coisas que você não consegue entender e que talvez jamais me perdoe. Eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto, nunca quis que você se sentisse tão só. Mas se eu puder esclarecer algo, se isso for capaz de te dar um mínimo de paz, quero tentar explicar. Desde o primeiro dia que te reencontrei, naquela empresa… no terraço, onde você estava tão perto de desistir, tão próxima de perder as forças, algo em mim despertou. Eu vi uma dor em você que eu nunca poderia ignorar, uma tristeza que ecoava mais fundo do que qualquer palavra poderia expressar. Quando te trouxe de volta, quando te tirei de lá, era mais do que uma necessidade de te ajudar — era uma promessa que eu fiz a mim mesmo: não deixaria que você enfrentasse aquilo sozinha. O bolo… eu sei que parece um detalhe, algo pequeno e sem sentido, mas para mim foi a única maneira de te mostrar que eu me importava, que havia alguém que se lembrava de você, da garota cheia de vida que eu conheci anos atrás. E talvez eu tenha falhado em fazer isso direito. Mas eu não sabia mais como chegar até você sem te assustar, sem trazer à tona todos esses segredos que eu carregava. Cada vez que me aproximei, desde o hospital até agora, foi por acreditar que eu podia te dar alguma segurança, algum conforto. Vi o que estava acontecendo, e cada parte de mim queria que você soubesse que não precisava carregar tudo sozinha. Mas o meu próprio mundo é complexo demais, sujo demais, e eu achei que, mantendo você um pouco afastada, conseguiria proteger você. Sei que você confiou em mim por um momento, que se deixou acreditar que eu estava ali para o bem, e eu te dei mais motivos para duvidar do que para confiar. Hana, quando vi seu pai, já era tarde demais. Ele estava no limite, sem saída, e eu prometi a ele que faria tudo ao meu alcance para te ajudar. Mas as coisas fugiram do controle; a influência de Min-ho é sombria, mais forte do que qualquer um de nós podia prever. Não espero que você confie em mim agora. Sei que te deixei sem chão e que, mesmo estando ao seu lado, causei mais dor do que alívio. Mas por favor, saiba que tudo o que fiz foi com o único objetivo de te ver segura, de te dar uma chance para escolher algo além do medo. Eu me arrependo das palavras não ditas, de todas as vezes em que me afastei sem explicação, de todas as vezes que deveria ter sido claro. Mas, mesmo que seja tarde demais, você precisa saber que cada ação minha foi por você. Eu queria ser seu apoio, mesmo que em silêncio. Hana, eu não sei como as coisas vão terminar entre nós. Eu só quero que você saiba que você é importante para mim. Mais do que imagina. Mais do que eu já fui capaz de admitir. Não desejo que entre no meu mundo sombrio, mas me deixe ao menos protegê-la, cuidar de você. Mesmo que a distância, mesmo que de longe… me permita ficar por perto. Eu sempre te amei no passado, continuo te amando no presente e irei amar pra sempre, Hana. Seo-jun”
Ao terminar de ler, Hana sentiu o peso das palavras de Seo-jun a envolvendo. Cada frase parecia um pedaço da própria alma dele, um eco dos sentimentos que ele guardou em silêncio por tanto tempo. Ela releu o final, as últimas palavras ressoando como uma promessa que se estendia pelo tempo, atravessando tudo o que haviam passado.
Hana apertou o papel entre os dedos, sentindo o coração dividido entre uma dor persistente e uma ternura inesperada. As memórias que guardava de Seo-jun, da época da faculdade, agora se misturavam à imagem daquele homem que se expôs e se arriscou para protegê-la. E, ao mesmo tempo, era ele quem havia se aproximado dela enquanto sua vida estava desmoronando — ela sabia que o passado deles tinha um peso profundo, mas também se perguntava se podia confiar nele com tudo o que ele escondia.
Ela suspirou, tentando organizar os pensamentos. O mundo parecia mais sombrio do que jamais imaginara, e a sombra de Min-ho ainda pairava sobre ela. No entanto, ali, com a nota de Seo-jun em suas mãos, sentia um impulso que não conseguia ignorar: parte dela queria acreditar nele, queria aceitar aquele amor que parecia estar tão profundamente enraizado no coração dele.
Mas outro lado hesitava. O medo de estar colocando sua confiança nas mãos erradas era esmagador. O que ela sabia sobre Seo-jun, de verdade? Sabia que ele sempre estivera perto, mas os segredos que ele guardava eram como um abismo. E agora, ela estava sozinha, sem ninguém para ampará-la. O que seria dela se desse mais um passo sem saber onde cairia?
Ela se levantou devagar, sentindo as pernas trêmulas, a cabeça girando com o peso das dúvidas e dos sentimentos não resolvidos. Mas, com o coração ainda acelerado, ela tomou uma decisão, ao menos por agora. Segurando a nota de Seo-jun junto ao peito, ela murmurou para si mesma: “Se você sempre me amou, Seo-jun… então vou precisar entender por que você escolheu esse caminho para me proteger.”
E, ao erguer o olhar para as paredes vazias daquele quarto, Hana sentiu que seu próximo passo definiria tudo.
Hana estava sentada no pequeno quarto que alugara, sentindo o peso das palavras de Seo-jun na nota que ele deixara. “Mesmo que à distância, mesmo que de longe… me permita ficar por perto. Eu sempre te amei no passado, continuo te amando no presente e irei amar pra sempre, Hana.” Aquele amor silencioso, que ela nunca tivera certeza de existir, agora parecia revelado de uma forma que a deixava atônita. Em meio à confusão de tudo o que acontecera, Hana sabia que precisava de respostas, mas se perguntar a ele era o próximo passo, ela não sabia.
Ela pegou o celular e, depois de uma pausa hesitante, discou o número de Seo-jun. Assim que ele atendeu, a familiaridade daquela voz acalmou um pouco a angústia dela.
— Precisamos conversar. Sobre tudo — disse ela, tentando esconder o tremor na voz.
Houve uma breve pausa, e ela podia quase ouvir o suspiro de compreensão do outro lado.
— Estou a caminho.
Desligando a chamada, Hana se sentiu tomada por uma ansiedade difícil de controlar. No silêncio do quarto, seus pensamentos giravam em torno das lembranças — desde os encontros inesperados até o momento em que ele a salvou, sempre com aquele ar de mistério e proteção. Ela não sabia se podia confiar, mas precisava entender o porquê de tudo.
Alguns minutos depois, uma batida suave na porta quebrou o silêncio. Ela foi até a porta, abriu devagar e o viu ali, como uma sombra tranquilizadora que a observava. Seo-jun mantinha a expressão calma, mas seus olhos revelavam uma preocupação sincera. Ele notou o nervosismo dela, mas manteve a postura firme, como quem entendia a gravidade do momento.
Ele falou primeiro, rompendo o silêncio que pairava no ar.
— Sei que você deve estar se perguntando por que estou aqui, Hana. E sei que nada disso faz sentido agora, mas eu prometo que estou aqui apenas para te proteger. Depois de tudo o que você passou, eu não podia te deixar enfrentar isso sozinha.
Hana respirou fundo, tomando coragem para questionar o que a atormentava há dias.
— Você sempre esteve por perto, mas nunca deixou claro o motivo. Sempre agiu como se houvesse um propósito oculto. E agora… — ela desviou o olhar, sem saber como continuar.
Seo-jun parecia entender suas dúvidas, mas havia algo em seu olhar, uma profundidade que Hana nunca vira antes.
— Eu sei que parece estranho, Hana, e nunca quis que você descobrisse assim. Eu sempre te observei de longe, porque o mundo em que eu vivo não é seguro para você. Mas quando soube do que estava acontecendo, da forma como Min-ho te tratava… eu sabia que não podia mais apenas observar.
Ele deu um passo à frente, a intensidade de suas palavras tocando profundamente nela.
— Eu sempre te amei, Hana. Desde a faculdade, mas me mantive afastado porque sabia que a vida que levo não é fácil de entender. Mas isso não significa que eu tenha deixado de cuidar de você. Eu fiz tudo o que podia, sempre tomando cada decisão para que você estivesse segura, mesmo que de longe.
Hana sentiu o coração apertar. Tudo que ela imaginava agora estava ali, exposto de forma inesperada. Ele sempre estivera ao lado dela, cuidando dela, mesmo sem ela perceber.
— E por que você nunca disse nada? Por que deixou que as coisas chegassem até esse ponto? — As palavras saíram carregadas de emoção, enquanto ela o olhava com um misto de mágoa e confusão.
Seo-jun suspirou, os olhos fixos nos dela.
— Porque, naquele momento, eu acreditava que a distância era a melhor forma de te proteger. Não queria que você fosse exposta a tudo isso. Mas agora… agora não posso mais me afastar, não posso mais deixar você enfrentar tudo sozinha.
Hana sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto. As palavras dele a tocavam de forma que ela não sabia explicar, um sentimento de segurança que ela havia esquecido que existia.
Seo-jun deu mais um passo, e, sem hesitar, a envolveu em um abraço. Ela se permitiu ficar ali, no calor daquele gesto, sabendo que talvez fosse o único conforto que teria em muito tempo.
Enquanto ele a segurava, Seo-jun sussurrou, com voz suave, mas carregada de uma seriedade que a fez estremecer.
— Eu sei que tudo parece sombrio agora, Hana, mas quero que saiba que estou aqui. Por mais complicado que seja, por mais que você não entenda tudo agora… me permita ficar por perto.
Hana permaneceu em silêncio, ainda tentando processar tudo o que ele havia dito. Nos braços de Seo-jun, sentia um misto de dor e segurança que a confundia. Era como se ele fosse ao mesmo tempo a tempestade e o abrigo, e, naquele instante, ela não sabia se devia se afastar ou simplesmente se render à sensação de paz que ele lhe trazia.
Ela se afastou lentamente, levantando o olhar para encontrá-lo. As sombras do passado, das dúvidas e dos segredos ainda pairavam, mas algo na expressão de Seo-jun parecia mais claro agora. Talvez ele também carregasse os próprios fardos, talvez a sua própria solidão.
— E agora? — Hana sussurrou, mal conseguindo segurar o tremor em sua voz. — Como eu posso saber o que é seguro? Como posso saber que confiar em você não vai me destruir ainda mais?
Seo-jun, respirando fundo, manteve o olhar firme, como se a intensidade daquelas perguntas fosse um peso que ele estava pronto para suportar.
— Eu não posso te prometer que tudo será fácil, Hana. — Ele hesitou, como se estivesse buscando as palavras certas para dizer a verdade sem afastá-la. — Mas posso prometer que farei o que estiver ao meu alcance para te manter segura. Não sou perfeito, e o que faço… o que preciso fazer para lidar com esse mundo em que Min-ho se envolveu... não é algo que você deveria carregar.
Hana sentiu o peso das palavras dele, e o silêncio que se seguiu era denso, cheio de tudo o que ainda não havia sido dito. Mas antes que ela pudesse pensar em uma resposta, uma lembrança de seu pai veio à mente — o medo em seus olhos, a preocupação que ele nunca conseguiu explicar. Era como se, por um instante, o rosto de Seo-jun e o do pai dela se misturassem, duas figuras que tentaram proteger quem amavam, mas que acabaram presos em situações que os ultrapassavam.
Ela voltou a olhar para ele, tentando decifrar as camadas daquele homem que parecia tão distante e ao mesmo tempo tão próximo.
— Meu pai também quis me proteger, e veja onde isso nos levou. — A voz dela falhou. — Ele fez escolhas que eu nunca soube entender, e talvez você esteja fazendo o mesmo. E o pior é que, por mais que eu queira fugir, sinto que… sinto que também preciso de você.
Seo-jun permaneceu em silêncio, os olhos fixos nos dela, como se o próprio silêncio fosse sua resposta. Havia um entendimento mútuo ali, um reconhecimento de que ambos tinham sido arrastados para uma trama maior do que imaginavam.
Finalmente, Hana se afastou um pouco mais, respirando fundo para manter o controle.
— Então, vamos tentar. — Ela disse com voz firme, mas com um toque de vulnerabilidade. — Mas preciso de respostas, Seo-jun. Preciso saber tudo, sem esconder nada. Preciso entender o que realmente está acontecendo… e o que mais você sabe sobre Min-ho.
Seo-jun assentiu devagar, como se finalmente tivesse recebido a permissão que sempre buscou, mas que nunca se atreveu a pedir. Ele sabia que o caminho à frente seria perigoso e incerto, mas também sabia que não podia mais proteger Hana através do silêncio.
Ele estendeu a mão, segurando-a com firmeza.
— Então, vamos fazer isso juntos, Hana.
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