O dia amanheceu, mas para Hana, era como se as sombras da noite ainda estivessem ali, implacáveis, espreitando em cada canto da casa. Cada raio de luz que atravessava a janela parecia mais uma lembrança dolorosa de que, apesar de estar tecnicamente livre, sua vida estava enredada nos fios invisíveis e firmes do controle de Min-ho. O silêncio daquela manhã era quase tangível, denso, como se até o próprio tempo hesitasse em perturbar o que quer que estivesse acontecendo naquela casa.
Min-ho já estava acordado, sua presença antecipada e sempre desconfortável. Vestido impecavelmente, ele estava na sala, com uma xícara de café entre as mãos, o olhar fixo na janela. O rosto dele exibia uma expressão inabalável, um misto de cálculo e desdém, que só tornava o ambiente mais pesado. Ao ouvir os passos de Hana, ele lentamente a observou, seus olhos cravando-se nela com uma fria expectativa. Mesmo sem dizer nada, estava claro que qualquer movimento, qualquer palavra de sua parte precisaria ser medida.
Após alguns segundos de silêncio que pareceram uma eternidade, ele finalmente quebrou a quietude.
— A partir de hoje, Hana, você estará sob proteção constante — ele começou, sua voz baixa, mas carregada de autoridade. — Não se preocupe com os detalhes. Eles serão explicados a você pela empresa de segurança. Para sua própria proteção, eu quero saber cada um dos seus passos.
Cada palavra que ele proferia parecia mais uma corrente apertando ao redor dela, prendendo-a sem escapatória. Hana sentiu um frio na espinha, e sua pele se arrepiou involuntariamente. O que Min-ho chamava de "proteção" era, na verdade, controle absoluto. Ela mal conseguia levantar os olhos para ele, com medo de que qualquer expressão de questionamento pudesse despertar sua ira. A liberdade que, em outros tempos, parecia uma possibilidade distante agora era apenas uma miragem cruel, algo que ela nem ousava mais desejar.
Min-ho caminhou até ela com passos lentos, analisando cada reação como se estivesse estudando-a. Ele ergueu a mão e tocou seu rosto com uma leveza quase cruel, um toque que parecia desprovido de vida. Para Hana, aquele gesto não tinha calor nem carinho, apenas uma frieza meticulosa.
— Está com medo, Hana? — ele perguntou, inclinando a cabeça com uma leve curiosidade que beirava o sarcasmo. Ele sorria, mas seus olhos continuavam frios e vazios, transmitindo uma mistura de superioridade e indiferença.
Ela tentou esconder o desconforto, mas era impossível conter o tremor que lhe escapava. O peito parecia apertado, e cada palavra que ele dizia a fazia se sentir menor, diminuída. Sabia que ele percebia seu medo e que, provavelmente, era isso o que queria.
Min-ho afastou-se lentamente, deixando-a com as mãos trêmulas e a mente afogada em um turbilhão de pensamentos sombrios. Sua expressão satisfeita deixava claro que ele sabia o efeito de suas palavras e de sua presença; aquilo era quase um jogo para ele, um prazer sádico em vê-la encurralada, em controlar cada aspecto de sua vida.
Mais tarde, a ligação da empresa de segurança
Horas depois, Hana estava sozinha na sala, tentando processar a ideia de que sua vida agora estava sob total vigilância. O telefone tocou, quebrando o silêncio, e o som parecia reverberar pelo ambiente vazio. Com o coração acelerado e uma hesitação inevitável, ela atendeu, sabendo que o que ouviria não traria consolo, mas mais uma camada de controle.
A voz do outro lado era fria e profissional, uma cortesia automática que só reforçava o distanciamento.
— Senhora Hana, aqui é da segurança contratada pelo senhor Min-ho — começou o atendente, o tom impessoal e monótono. — Estaremos acompanhando a senhora onde quer que vá, assegurando que todos os seus movimentos sejam monitorados conforme os parâmetros estabelecidos.
Cada palavra, dita com uma precisão quase robótica, atingiu-a como um golpe. "Monitorada." Não protegida, mas observada, catalogada. Sentiu um nó se formar em sua garganta ao pensar que não poderia dar um passo sem que eles registrassem cada detalhe, como se sua vida fosse apenas uma série de dados frios em um sistema de controle.
— Há mais alguma dúvida, senhora? — a voz continuou, indiferente ao silêncio que ela havia deixado.
— Não... não há, obrigada — respondeu Hana, tentando esconder o tremor na voz, embora soubesse que até isso seria notado, catalogado, interpretado.
O funcionário prosseguiu, descrevendo o sistema de segurança e o protocolo de vigilância, mas a mente de Hana já estava longe, mergulhada em pensamentos sombrios. Aquelas explicações apenas reforçavam a prisão invisível em que se encontrava. Cada novo detalhe parecia mais uma corrente, mais uma porta trancada. Sentia que, a partir daquele momento, sua própria vida estava cada vez mais distante de seu controle.
O dia se arrastou, e a chuva lá fora escorria pelas janelas como se tentasse ecoar sua tristeza. Ela se sentou no sofá, os olhos fixos no vazio, com a sensação esmagadora de que o tempo ao seu redor havia parado. Já não conseguia distinguir uma hora da outra; tudo parecia uma repetição monótona e sufocante, enquanto Min-ho, através da sua "proteção", tornava-se a única presença constante, mesmo à distância.
Ela sabia que, a cada minuto que passava, estava mais enclausurada, mais desconectada de si mesma. Enquanto o atendente ainda falava, Hana percebeu que, dali em diante, não seria apenas vigiada por olhos invisíveis, mas também por um medo que a consumia de dentro para fora. A pergunta latejava em sua mente: quanto tempo mais conseguiria suportar aquilo? E, talvez mais doloroso, até onde Min-ho estava disposto a ir para garantir que ela nunca escapasse?
Reflexões de Min-ho sobre Seo-jun
Min-ho desligou o telefone, mas uma inquietação persistente continuava. Ele sabia que deveria se sentir grato por Seo-jun, afinal, o homem estava ali cumprindo um papel importante, protegendo Hana. Talvez ele estivesse exagerando, talvez fosse apenas um detalhe. Mas... por que então essa sensação de que algo não estava certo?
O encontro no terraço continuava fresco em sua mente: Seo-jun estava ali, tão próximo de Hana, tão seguro de si. Ele era um homem respeitado no ramo de segurança, famoso, eficiente, alguém que qualquer um confiaria para cuidar de quem ama. Mas essa presença constante, essa maneira calma e quase protetora que Seo-jun assumia ao redor de Hana o incomodava. Ele se perguntava por que um homem tão influente no mercado de segurança estaria tão envolvido pessoalmente.
Ele respirou fundo, tentando afastar o ciúme que começava a se instalar. Não era só ciúme; era algo mais profundo, uma sensação de que havia uma ligação entre Hana e Seo-jun que ele ainda não compreendia.
Sentado em sua cadeira, Min-ho tamborilava os dedos na mesa, perdido em reflexões. Talvez fosse prudente investigar mais sobre Seo-jun, mesmo que fosse apenas para se tranquilizar. Queria saber mais sobre os motivos que levavam um empresário de renome a estar tão perto de sua esposa. Não podia haver nada entre eles... ou podia? A dúvida o corroía. E ele odiava duvidar.
Pegando o telefone, ligou para o assistente novamente, desta vez com uma ordem mais cautelosa:
— Quero que você investigue Seo-jun. Apenas certifique-se de que não estou deixando passar nenhum detalhe. Não precisa ser algo profundo; quero apenas ter clareza sobre a presença dele.
A voz do assistente soou tranquila.
— Entendido, senhor. Farei isso de forma discreta.
Min-ho desligou o telefone, tentando convencer a si mesmo de que era apenas uma questão de segurança, um protocolo. Entretanto, algo em seu íntimo sabia que não era tão simples. Sabia que, por mais que tentasse manter o controle, havia algo em Seo-jun que o incomodava profundamente.
A visão de Hana e Seo-jun juntos continuava a rondar sua mente. Min-ho se aproximou da janela, observando a cidade lá embaixo, com as luzes se espalhando por toda a parte. A cidade, que antes parecia sob seu domínio, agora parecia distante, como se tudo ao seu redor estivesse fora de seu alcance.
Mas, sem ele saber, Seo-jun estava igualmente atento. Desde muito antes, Seo-jun observava cada movimento, cada decisão. Embora Min-ho quisesse manter o controle, Seo-jun estava um passo à frente – silencioso, porém atento, mantendo um segredo que só ele conhecia.
A pressão em Hana
Nos dias que se seguiram ao encontro no terraço, Hana sentiu que uma nuvem pesada pairava sobre sua vida. Cada vez mais, a presença controladora de Min-ho estava em todos os aspectos de sua rotina. Era sufocante, como se ele quisesse reduzir cada espaço ao seu próprio domínio. Ela mal podia respirar sem sentir que estava sendo observada, e a "segurança" que Min-ho contratara mais parecia uma jaula disfarçada.
A tensão só aumentava. Certa noite, depois de uma discussão intensa em que Min-ho a acusou de "desvios" de comportamento, ele impôs uma ordem que a deixou abalada: ela não poderia sair de casa, não deveria ver ninguém.
Ele a observava com aquele olhar frio, como um predador que controla cada movimento da presa, sabendo exatamente onde ela iria, o que faria, e até o que pensaria. Hana sentiu o peito apertar; estava exausta, não apenas fisicamente, mas emocionalmente desgastada por tentar encontrar uma saída que parecia cada vez mais distante.
Depois que ele se retirou para o escritório, Hana ficou em pé ao lado da cama, com a respiração entrecortada. Sua mente girava, a visão turva, e a exaustão dominava cada parte do seu corpo. Incapaz de aguentar mais, ela se dirigiu ao banheiro, onde permitiu que as lágrimas caíssem livremente. O espelho em frente a ela refletia uma mulher pálida, alguém que parecia mais uma estranha. A imagem era uma lembrança dolorosa da mulher que um dia fora e que agora mal reconhecia. Sentada ali, com o rosto lavado pelas lágrimas, Hana se perguntava como havia permitido que sua vida chegasse a esse ponto.
Ela ligou o chuveiro, esperando que a água quente aliviasse o desespero que a consumia. Mas, ao contrário, a sensação de impotência só aumentou. A pressão esmagadora de estar sempre sendo vigiada, de saber que cada passo, cada gesto, era monitorado, tornava-se insuportável. Aquilo não era segurança; era controle, puro e opressivo. Ela sabia que Min-ho jamais permitiria que ela fizesse escolhas próprias, porque, para ele, Hana era uma posse, um bem precioso do qual ele não abriria mão.
Quando finalmente saiu do banheiro, os olhos inchados e o corpo ainda tremendo, ela se aproximou da janela e olhou para a cidade lá fora. Sentia-se presa, não só na própria casa, mas em sua própria vida. E, então, como uma memória involuntária, o rosto de Seo-jun surgiu em sua mente. Em suas raras interações, ele havia demonstrado uma atenção verdadeira, uma presença silenciosa que lhe transmitia segurança de um jeito que Min-ho jamais fizera.
Aquela lembrança a fez hesitar. Ela sabia que seria perigoso pensar nele dessa forma, e que Min-ho provavelmente destruiria qualquer possibilidade de contato entre eles, mas havia uma fagulha que não conseguia ignorar. Um sentimento sutil, mas presente, de que talvez, apenas talvez, Seo-jun pudesse ser um caminho, uma esperança de fuga.
Mas o medo a atormentava. Min-ho sabia de cada detalhe da sua vida. Ele era um homem calculista, que controlava cada passo dos que estavam à sua volta, e Hana sentia que qualquer movimento em falso poderia colocar tudo a perder. E, ainda assim, ela sentia que não podia desistir. Havia algo em Seo-jun, uma verdade que ela ainda não compreendia, mas que desejava descobrir.
Voltando para a cama, o corpo exausto e a mente tumultuada, Hana sentiu a leveza de um pensamento que, pela primeira vez, a fazia respirar um pouco mais fundo: talvez ela tivesse uma chance. Sabia que seria difícil, doloroso e perigoso. Mas, com Seo-jun por perto, mesmo que de forma discreta e silenciosa, Hana começava a sentir que a saída daquela prisão emocional era uma possibilidade — e, dessa vez, ela estava disposta a lutar por essa liberdade.
O som do celular era como uma corda que a puxava para fora do transe, e Hana hesitou antes de olhar para a tela. Era um número desconhecido, o que já era suficiente para fazê-la tremer. Por um instante, pensou em ignorar, mas algo dentro dela insistiu, uma voz dizendo que talvez, naquele momento, atender poderia ser sua única saída, ou pelo menos uma resposta, para o vazio sufocante que se instalara em sua vida.
Ela deslizou o dedo na tela, sentindo a garganta seca.
— Alô?
Um silêncio breve preencheu o espaço antes que uma voz calma e calculada soasse do outro lado.
— Hana.
Seu coração acelerou, e ela mordeu o lábio, tentando controlar o nervosismo. Era ele. Seo-jun. A última lembrança que tinha dele era daquele encontro no telhado, onde as palavras enigmáticas dele — “Isso você terá que descobrir” — deixaram uma sensação inquietante em sua mente. Agora, ele estava do outro lado da linha, sua voz carregada de um tom que parecia dançar entre a preocupação e um distanciamento que a deixava inquieta.
— Seo-jun? — murmurou, hesitante. — Como você...?
— Achei que gostaria de saber que estou aqui, caso precise. — A voz dele era neutra, quase fria, mas havia uma pausa calculada que fazia parecer que ele estava dizendo algo mais.
Ela mordeu o lábio, incerta do que responder. A sensação de que ele sabia mais do que demonstrava a invadia. A ideia de estar sendo observada a deixava vulnerável, mas, ao mesmo tempo, havia um consolo estranho em saber que ele estava ali, de alguma forma, acompanhando cada movimento dela. Ela se perguntava o que ele via através das câmeras, o que ele sabia sobre as sombras que cercavam sua vida. E, mais importante, por que ele parecia sempre surgir no momento exato em que ela mais precisava.
— Você... está me vendo agora? — A pergunta escapou de seus lábios, uma mistura de temor e curiosidade. Era como se quisesse uma confirmação da presença dele, mesmo que à distância.
Seo-jun fez uma pausa antes de responder, e Hana quase podia visualizar seu rosto inexpressivo, os olhos observando-a como sempre faziam.
— Não estou longe — disse ele, deixando o significado das palavras no ar, sem especificar. — Apenas achei que deveria saber disso.
O silêncio que seguiu pareceu durar uma eternidade, enquanto Hana tentava entender as intenções dele. Era como se ele estivesse jogando um jogo silencioso, onde cada palavra dele escondia algo a mais do que ele estava disposto a revelar. Ela estava tentada a perguntar por que ele estava envolvido, o que realmente sabia, mas não queria parecer mais vulnerável do que já estava.
— Seo-jun, por que você faz isso? — arriscou, tentando manter a voz firme. — Parece que... parece que sempre sabe quando preciso de alguém.
Ele riu levemente, um som breve e quase desdenhoso, mas controlado.
— Talvez seja apenas uma coincidência — respondeu ele, mantendo o tom enigmático. — Ou talvez seja algo que você precisa descobrir.
Aquelas palavras ecoaram em sua mente, exatamente como no dia em que o encontrou no telhado.
A mesma frase, com a mesma calma perturbadora, um lembrete de que ele estava sempre ali, mas jamais deixava transparecer completamente o motivo. Era o suficiente para fazê-la questionar tudo o que acreditava saber sobre ele.
— Hana... — Ele interrompeu os pensamentos dela. — Não estou aqui para interferir, só para lembrar que você não está sozinha. Mas, sobre o que faremos com isso, ainda cabe a você decidir.
Hana fechou os olhos, o peso das palavras dele pairando sobre ela. Era como se ele a deixasse com mais dúvidas do que respostas, como se a envolvesse em um mistério que a atraía e a deixava cada vez mais confusa. Ela sabia que estava pisando em território desconhecido, mas não pôde evitar o impulso de agradecer.
— Obrigada, Seo-jun. — Ela disse em um sussurro, sabendo que ele compreenderia a profundidade do que aquelas palavras significavam para ela.
— Cuide-se, Hana. Estarei aqui. — Ele desligou, deixando-a com o eco de sua própria vulnerabilidade.
Enquanto encarava o celular em sua mão, ela sentiu que, embora estivesse mergulhada em uma trama de vigilância e controle, a presença dele trazia um tipo estranho de segurança, mas não sem um toque de incerteza. Era como se ele estivesse à espreita, não apenas para observá-la, mas para garantir que ela soubesse que ele sempre estaria presente — de forma sutil e misteriosa, a uma distância segura, mas nunca longe demais.
Após a ligação, Hana continuou parada ali, segurando o celular com os dedos trêmulos. A voz de Seo-jun ainda ecoava em sua mente, com aquelas palavras enigmáticas, “Isso você terá que descobrir”. Era como uma promessa silenciosa, uma teia de mistérios que a envolvia, ao mesmo tempo em que oferecia uma segurança incerta. Ele sabia onde ela estava, o que ela vivia — e a ideia de que ele estava sempre perto, mesmo sem vê-la, despertava nela uma estranha mistura de alívio e medo.
Enquanto olhava pela janela, observando as luzes da cidade cintilarem na chuva lá fora, Hana sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Sentia-se como uma peça em um jogo que não entendia, dividida entre o medo do desconhecido e o desejo de desvendar o enigma que era Seo-jun. Ela sabia que a presença dele ali, embora velada, era um recado de que ele continuaria observando, mantendo uma vigilância distante e inexplicável.
Ela respirou fundo, sentindo o peso da solidão, mas, ao mesmo tempo, algo em seu interior dizia que aquela jornada estava apenas começando. Entre o controle sufocante de Min-ho e o enigma sedutor de Seo-jun, Hana percebia que precisava encontrar respostas — tanto sobre eles quanto sobre si mesma. E, pela primeira vez em muito tempo, uma chama fraca, quase imperceptível, começava a iluminar sua escuridão, sussurrando que talvez, apenas talvez, houvesse uma saída.
Fechou os olhos, permitindo-se imaginar o que poderia acontecer, mas, no fundo, a pergunta que ecoava em sua mente era a mesma desde o início:
Até quando ela poderia aguentar?
A história completa de Hana, repleta de reviravoltas, paixão, e coragem, está disponível para você se aprofundar ainda mais nos segredos, dores e esperanças que moldam sua jornada.
📖 Adquira agora o livro completo e viva cada emoção:
👉 Perdida - Clique aqui para comprar!
Não perca a chance de se envolver completamente nessa trama intensa e arrebatadora!
Comentários
Postar um comentário