Hana pegou suas chaves com mãos trêmulas. Ao girar o trinco da porta, sentiu um frio correr pela espinha, como se aquele gesto fosse cortar, de uma vez por todas, o laço que a prendia àquela casa e, ao mesmo tempo, ao tormento que era sua vida. O som da porta se fechando ecoou pelos corredores vazios, mas para ela, soava como o último grito de algo que já estava morto há tempos. As lágrimas escorriam sem controle pelo seu rosto, uma torrente fria e implacável. Ela não se importava em limpá-las; por que esconder o que já não era possível conter? Sua dor, antes sufocada, agora transbordava, e ela a deixava fluir, como uma liberação tardia.
Cada passo a afastava da prisão que sua vida havia se tornado. Com cada metro que a separava daquele lugar, ela sentia a dor lentamente se transformar em um misto de alívio e agonia. Era como se estivesse fugindo não apenas de uma casa, mas de uma sombra que ela mesma alimentou, que cresceu ao seu redor, até envolvê-la completamente. Sua mente, um turbilhão de memórias, recordava os gritos, os silêncios cortantes, os olhares frios de Min-ho. Ele não apenas a ignorava; ele a destruía, pedacinho por pedacinho, com cada palavra calculada, com cada gesto de indiferença que a fazia sentir-se invisível. E agora, enquanto caminhava sem destino, ela queria mais do que qualquer coisa se ver livre desse fardo, mas o medo e a culpa ainda apertavam seu coração como garras afiadas.
A noite em Seul era fria e úmida, e uma leve garoa começava a cair. As luzes dos carros passando nas ruas estreitas refletiam na calçada molhada, distorcidas, como as próprias emoções de Hana. Ela andava devagar, absorvendo o peso do que deixava para trás, mas também sentindo uma nova força que surgia de uma dor diferente — não aquela causada pelo desprezo, mas pela esperança do que poderia ser. A chuva parecia aumentar a cada passo, e o som das gotas ecoava em sua mente como uma canção de lamento. Era como se cada gota trouxesse uma memória, uma promessa quebrada, um pedaço da Hana que ela foi e que se perdeu. Seu coração pulsava em um ritmo lento e pesado, e o frio da noite começava a fazer seu corpo tremer, mas ela não parava.
Depois de caminhar sem rumo, seus passos a levaram até o prédio de sua empresa, um arranha-céu majestoso que representava tudo o que ela sempre quis alcançar, mas que, de certa forma, sempre esteve fora de seu alcance. Ela subiu até o último andar como em um transe, cada andar percorrido sendo uma lembrança de algo que havia abandonado para se dedicar a Min-ho. Ao chegar ao topo, sentiu-se um pouco mais leve, como se a altura a afastasse de tudo o que havia deixado para trás. O vento frio que passava pelas janelas abertas arrepiava sua pele, mas também a despertava para a realidade crua que enfrentava.
Ao se aproximar da enorme janela de vidro, Hana fitou as luzes de Seul. A cidade, silenciosa e indiferente, parecia refletir sua solidão. Ali, com a vista que se estendia até o horizonte, ela se sentiu insignificante, como se fosse apenas mais uma sombra no meio de uma multidão. O vidro refletia seu rosto pálido e os olhos inchados, um retrato da tristeza que a consumia. As luzes cintilantes da cidade pareciam zombar de sua dor, lembrando-a de que o mundo continuaria, independentemente do que ela fizesse, de suas lágrimas, de seu desespero. Se ela desaparecesse, alguém notaria? Alguém sentiria sua falta?
Olhando para o abismo à sua frente, sentiu uma tentação perigosa. Ali, naquele último refúgio, onde ninguém poderia alcançá-la, ela ponderava se o vazio poderia finalmente silenciar a dor. Ela estendeu a mão e tocou o vidro frio, como se procurasse uma resposta, mas tudo o que encontrou foi o próprio reflexo. Seus dedos deixavam marcas sutis no vidro, mas, ao mesmo tempo, desapareciam quase que instantaneamente, como se simbolizassem a sua existência — presente, mas fácil de apagar. Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando absorver a última energia que restava dentro de si.
O Encontro
Hana avançou um passo em direção ao vazio, sentindo o vento frio em seu rosto, o último suspiro da noite que parecia envolvê-la em um abraço sombrio e eterno. De repente, um som abafado, um eco distante de passos se aproximando, interrompeu seu momento. Os passos ecoavam no chão frio e vazio do prédio, intensificando o silêncio ao redor, e a sensação de uma presença invisível a fez hesitar, gelando seu coração por um instante.
Então, uma sombra surgiu por trás dela. Uma figura firme e determinada, mas silenciosa como uma sombra, se aproximava. Quando Hana ergueu os olhos para o vidro, a silhueta de Seo-jun se refletiu, seu rosto parcialmente oculto pela penumbra, mas os olhos carregavam uma intensidade que parecia capturar toda a escuridão ao redor.
— Hana! — A voz dele, baixa e firme, quebrou o silêncio como uma lâmina, fazendo o coração dela disparar. — Não faça isso.
Ela virou-se devagar, ainda atordoada, e encarou o rosto dele. A expressão de Seo-jun era enigmática, quase impenetrável, mas os olhos — aqueles olhos sombrios e profundos — transbordavam uma mistura de dor, preocupação e algo mais, algo que parecia escondido sob camadas de segredos.
Ele a segurou pelos ombros com força, mas o toque era ao mesmo tempo cuidadoso, como se ele temesse que ela pudesse desmoronar sob o mínimo toque. Hana mal conseguia respirar, sentindo o peso de seu olhar. Seo-jun parecia lutar contra as próprias emoções, como se aquele momento fosse um ponto de ruptura.
— Hana... — ele murmurou, sua voz embargada. — Por favor, me diga que você não estava pensando...
Ela tentou responder, mas a dor e o cansaço nublavam sua mente, e as palavras simplesmente não vinham. Ele estava ali, segurando-a, como se ela fosse uma âncora em um mar turbulento, e por um instante, Hana sentiu-se segura. Mas a insegurança dentro dela ainda resistia, se agarrando à escuridão que a envolvia.
— Seo-jun... — ela sussurrou, quase sem forças. — Por que você está aqui? Como me encontrou?
Ele a olhou com uma intensidade que quase a fez desviar o olhar, mas havia algo naquela expressão, um mistério e uma profundidade que a mantiveram presa ali, diante dele. Parecia que cada palavra que ele dizia era cheia de algo não dito, algo que ele havia carregado por muito tempo.
Ele hesitou por um instante, e o silêncio que se seguiu era denso, quase palpável. Hana sentiu o ar ao redor deles ficar mais pesado, como se cada segundo estivesse carregado de algo não dito, de um segredo que ansiava para ser revelado, mas que ele ainda guardava. O olhar dele, intenso e escuro, parecia preso ao dela, estudando cada detalhe de seu rosto, cada respiração trêmula, como se tentasse ler as marcas invisíveis que a vida deixara nela. Havia uma profundidade enigmática em seus olhos, um peso que trazia à tona todas as emoções que ela escondia até de si mesma.
Finalmente, ele murmurou, com um tom tão baixo que parecia destinado apenas para ela, como uma confissão secreta:
— Eu não sabia que te encontraria, Hana… — A voz dele soava calma, mas havia algo inquietante, quase como se houvesse um fio de desespero mascarado naquela tranquilidade aparente.
As palavras de Seo-jun a atravessaram, fazendo-a estremecer, e por um breve momento, ela se perguntou o que o tinha realmente levado até ali. Seria o acaso? Uma coincidência? Ou havia algo muito mais profundo, mais sombrio, no modo como ele a observava? Seus pensamentos se emaranhavam, e ela percebeu que o que mais a incomodava não era o que ele dizia, mas o que ele deixava nas entrelinhas, o que seus olhos prometiam, mas suas palavras negavam.
— Então o que faz aqui… o que quer? — Ela tentou manter a voz firme, mas não pôde esconder o tremor, a vulnerabilidade que escapou em cada sílaba. Era uma pergunta tão simples, mas carregada de uma intensidade que a assustava.
Ele abriu um leve sorriso, mas era um sorriso estranho, sem alegria, um movimento calculado, que parecia esconder algo muito mais profundo. Seus lábios se curvaram, mas seus olhos permaneciam inalterados, como se ele carregasse dentro de si um enigma que jamais deixaria escapar. Hana sentiu um frio na espinha ao perceber que, mesmo ali, tão perto, Seo-jun ainda parecia inalcançável, envolto em sombras que ela não sabia se queria desvendar.
— Eu? — Ele inclinou a cabeça levemente, e sua voz saiu num sussurro, quase como uma provocação. — Não é sobre o que eu faço aqui, nem o que quero, Hana. — Ele pausou, cada palavra impregnada de um mistério que só parecia aprofundar o abismo entre eles. — Mas sobre o que você faz aqui, e o que quer.
As palavras ecoaram na mente dela como um enigma, deixando-a ainda mais confusa, como se ele estivesse falando de algo que ela ainda não conseguia compreender. Era como se ele estivesse tentando dizer algo, mas ao mesmo tempo escondendo uma verdade mais profunda, algo que a deixava à deriva entre o medo e o fascínio.
— E se eu disser que… não sei como cheguei aqui... nem sei o que quero? — Hana murmurou, quase como uma confissão, e seu peito parecia apertado, as palavras saindo com dificuldade. Era a primeira vez que ela admitia aquilo para alguém, e o fazia com uma vulnerabilidade que a assustava. Mas, sob o olhar dele, ela se sentia exposta de uma forma que a deixava sem escudos, como se estivesse à mercê de um segredo que ele guardava a sete chaves.
Seo-jun desviou o olhar por um breve momento, como se lutasse contra algo dentro de si, algo que não podia ou não queria mostrar. Ele parecia dividido, seus olhos se obscurecendo ainda mais, carregando uma tristeza sombria, mas também uma força que a atraía e a assustava ao mesmo tempo.
Então, lentamente, ele voltou a fitá-la, seu rosto agora calmo, mas seus olhos denunciavam uma promessa oculta, algo que ele jamais diria em voz alta.
— Então talvez eu possa te ajudar a descobrir — murmurou ele, tão baixo que a voz mal passava de um sussurro, mas o tom carregado de algo perigoso e irresistível, como se ele soubesse exatamente o que ela precisava, mas não ousasse revelar.
Hana sentiu o mundo ao redor sumir, como se tudo tivesse ficado em suspenso entre o próximo instante e o momento em que ele voltaria a falar. Havia algo em Seo-jun, uma intensidade, uma profundidade que a atraía como o abismo, e ela se perguntava se estava preparada para enfrentar as sombras que ele carregava e que pareciam prestes a engoli-la, caso ela desse o próximo passo.
Seo-jun permaneceu em silêncio por alguns segundos, como se estivesse absorto em pensamentos antigos que nunca compartilhou. O olhar dele, fixo em Hana, era intenso, mas ao mesmo tempo indecifrável, como uma sombra escondendo segredos que ele não estava pronto para revelar.
Ela sentia a presença dele quase sufocante, como se cada palavra trocada trouxesse à tona camadas de um passado que ele mantinha trancado. A cada minuto, Hana ficava mais confusa. Por que Seo-jun estava ali, agora, após tanto tempo? E o que ele realmente queria dela?
— Hana... — ele murmurou, e a forma como pronunciou seu nome parecia carregar algo escondido. — Talvez você não tenha percebido, mas eu estava te observando... de longe.
Essas palavras deixaram Hana inquieta, o coração disparando em seu peito. Ele a observava? Aquele homem enigmático que agora estava diante dela, sempre tão reservado, teria visto mais do que ela imaginava? Mas sua expressão não revelava nada além de uma calma sombria. Ela tentou ler algo mais no rosto dele, mas Seo-jun era uma fortaleza; cada olhar, cada expressão controlada.
O que ele estava realmente tentando dizer? Ela não sabia se ele estava ali por um impulso, um instinto, ou por algo que ele sempre guardara. A mente dela começou a se encher de perguntas, mas antes que pudesse formular uma resposta, ele deu um passo mais próximo, e a distância entre eles se tornou quase inexistente.
— Às vezes, o que vemos… ou pensamos ver… não é o que realmente acontece — ele murmurou, quase para si mesmo, enquanto observava o rosto dela, como se tentasse ler algo em seus olhos, segurando suas mãos delicadamente cada toque era como uma conexão sem explicação.
Hana não conseguia afastar a ideia de que ele sabia mais do que dizia. E talvez soubesse. A vida com Min-ho era algo que ela nunca compartilhara com ninguém, mas, de alguma forma, Seo-jun parecia carregar uma estranha familiaridade com o sofrimento que ela tentava esconder. Ele parecia ver através das camadas de silêncio que ela ergueu ao seu redor. Era uma sensação inquietante e, ao mesmo tempo, irresistível.
Ela tentou buscar uma resposta nele, mas ele era um enigma. Ele a fitava como se estivesse desafiando-a a perguntar, mas ao mesmo tempo evitando entregar-se totalmente. O silêncio entre os dois era pesado, como se qualquer palavra pudesse quebrar uma tensão delicada, uma verdade que talvez nenhum dos dois estivesse preparado para enfrentar.
— Seo-jun… por que você está aqui? — ela perguntou, quase num sussurro, temendo a resposta e, ao mesmo tempo, desejando ouvi-la.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente, um leve sorriso curvando os lábios, mas seus olhos permaneciam sombrios, velados por algo que ela não conseguia entender.
— Às vezes, Hana, o passado nos obriga a retornar. E eu... senti que devia vir aqui — disse ele, com uma voz baixa e calma, sem qualquer pressa de revelar mais do que isso.
Hana mordeu o lábio, a incerteza crescendo dentro dela. Ele sempre falava em tons ambíguos, como se suas palavras carregassem significados ocultos, algo que ela deveria perceber, mas não conseguia. A hesitação em seus olhos a fazia sentir-se desamparada, mas ao mesmo tempo, ela queria saber mais. Saber o que Seo-jun realmente queria, o que ele escondia por trás daquela máscara impassível.
Quando ele finalmente continuou, sua voz foi quase um sussurro, criando um eco que parecia envolver o espaço ao redor.
— Eu tentei, Hana… mas algo me fez voltar... algumas coisas… nunca realmente se vão.
Ela estremeceu com aquelas palavras. O que ele queria dizer com isso? Ele estava falando dela? Havia algo no tom de Seo-jun que a fazia sentir que ele carregava feridas não cicatrizadas, segredos enterrados profundamente.
Ela respirou fundo e, impulsivamente, perguntou:
— E o que isso significa?
Seo-jun permaneceu em silêncio, como se as palavras dela tivessem tocado um ponto vulnerável. Ele a olhou por um longo momento, os olhos tão sombrios quanto a noite lá fora, antes de responder, em uma voz baixa e suave:
— Isso, Hana, é algo que você terá que descobrir.
Ele deu um passo para trás, a expressão agora controlada, mas seus olhos ainda a observavam, penetrantes e silenciosos. A promessa implícita em suas palavras a fazia sentir que, mesmo sem revelar nada abertamente, Seo-jun estava ali para algo mais do que dizia. E, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que poderia confiar em alguém. Mesmo que não soubesse exatamente o que ele significava para ela, ou por que ele a fazia sentir-se em um constante estado de alerta, algo nela queria desvendar o mistério que Seo-jun representava.
E talvez, só talvez, ele fosse o único capaz de salvá-la. Mas até isso ele escondia, deixando-a suspensa em uma teia de segredos e intenções veladas, sem revelar exatamente o que o levava a estar ali, nem o que realmente esperava dela.
A história completa de Hana, repleta de reviravoltas, paixão, e coragem, está disponível para você se aprofundar ainda mais nos segredos, dores e esperanças que moldam sua jornada.
📖 Adquira agora o livro completo e viva cada emoção:
👉 Perdida - Clique aqui para comprar!
Não perca a chance de se envolver completamente nessa trama intensa e arrebatadora!
Comentários
Postar um comentário