Perdida - Capítulo 1: Hana


A noite estava fria e úmida, e uma fina chuva caía sobre Seul, deixando a cidade sob um véu melancólico. Hana estava sentada em um banco de parque à beira do rio Han, envolta nas sombras e no silêncio da noite. Puxou o casaco mais perto do corpo, tentando aquecer-se, e deixou o olhar se perder nas águas escuras e tranquilas, onde as luzes da cidade dançavam como pequenos vaga-lumes coloridos.

O som da chuva, suave e constante, a envolvia em uma espécie de calmaria temporária, e Hana se permitiu sentir-se pequena, invisível naquele vasto espaço vazio à sua frente. Desde a festa, buscava aquele momento de isolamento, uma pausa necessária para escapar da opressão que sentia. Mas sabia que aquela sensação era ilusória, um consolo passageiro. Por dentro, o vazio parecia crescer, enquanto a dor, que se alojara em seu peito há tanto tempo, parecia latejar, impossível de ignorar.

Seus pensamentos a levaram de volta para o salão da festa, onde tudo começara a ruir ainda mais. Em meio à música alta e às risadas que pareciam falsas, um homem se aproximou dela. Era alguém da empresa, uma figura secundária que nunca chamara muita atenção. Ele parecia hesitante, seus olhos movendo-se de um lado para o outro, como se carregasse uma verdade pesada demais para ser dita.

— Hana, seu marido... — Ele parou, umedecendo os lábios, nervoso. — Olha, todo mundo na empresa sabe que Min-ho tem se envolvido com várias mulheres. Está claro como o dia. Alguém precisava te contar isso.

As palavras soaram como um eco, repetindo-se em sua mente enquanto ela se afastava. A revelação parecia rasgar um pedaço de sua alma. Hana sentiu o peso daquela verdade, uma confirmação dolorosa de algo que ela já suspeitava, mas que nunca tivera coragem de encarar de frente. Com o coração apertado e uma sensação de náusea crescente, ela saíra da festa sem se despedir de ninguém. Precisava de ar, de espaço — precisava fugir para algum lugar onde pudesse chorar sem ser vista, onde pudesse, por um momento, respirar.

Agora, sentada no banco do parque, envolvida pela noite, Hana observava as ondas calmas do rio e sentia o peso do mundo em seus ombros. Cada gota de chuva que caía parecia refletir sua tristeza, suas lágrimas silenciosas que ninguém via. Ao longe, viu um casal passando de mãos dadas, trocando risos que soavam distantes e irreais. Olhou para eles por um instante, e o contraste entre aquela cena e a própria vida a atingiu como uma bofetada. Eles tinham o que ela perdera: paz, cumplicidade, esperança.

O som de passos pesados a despertou de seus pensamentos. Hana ergueu a cabeça e viu a figura de Min-ho se aproximando, seu rosto fechado e impenetrável. Ele não estava sozinho; ao seu lado, dois de seus seguranças pessoais o acompanhavam em silêncio, como sombras ameaçadoras. Hana sentiu o coração disparar. Sabia o que viria a seguir; aquela não era a primeira vez que ele a encontrava sozinha e longe de seus “deveres”.

— Hana, levante-se. — A voz dele estava controlada, mas havia uma raiva reprimida por trás das palavras.

Ela tentou encontrar forças para responder, mas a voz saiu trêmula, quase inaudível.

— Min-ho... — Ela hesitou. — Eu só queria um pouco de paz. Precisava pensar...

Ele se aproximou dela, e antes que pudesse reagir, sentiu a mão dele agarrar seu braço com força, puxando-a para cima. A dor foi imediata, o aperto dos dedos de Min-ho deixando uma marca na pele. Hana sentiu uma onda de dor e medo tomá-la.

— Paz? — Ele riu, mas o som era frio, sem qualquer vestígio de humor. — Você acha que pode simplesmente sair de uma festa, onde estavam todos os meus colegas, e desaparecer sem explicação? Você me humilhou na frente de todos!

Ela tentou se soltar, mas ele a segurava firme, como se ela fosse uma posse que ele não permitia perder.

— Eu não te humilhei. Só... só queria sair um pouco. Não aguentava mais. — Ela sentiu as lágrimas brotarem, mas lutou para mantê-las escondidas. Sabia que, se ele as visse, ficaria ainda mais furioso.

Min-ho a puxou em direção ao carro estacionado próximo e a empurrou para dentro. Os seguranças, como sempre, permaneceram impassíveis, fechando as portas atrás dela. Min-ho entrou logo em seguida, o rosto carregado de fúria.

— Você acha que isso é aceitável, Hana? — Ele gritou, a voz cortante como uma lâmina. — Falando com outro homem na minha festa? Como se fosse uma qualquer?

Ela tentou argumentar, mas as palavras travaram em sua garganta. Se contasse a ele o que ouvira, sabia que a reação dele seria ainda pior.

— Quem você pensa que é para questionar minhas ações, Hana? — Ele se inclinou, seu rosto tão próximo que ela podia sentir o hálito quente e amargo. Hana desviou o olhar, o rosto ardendo em humilhação.

Antes que pudesse reagir, ele ergueu a mão e a atingiu com um tapa forte. A dor se espalhou como fogo, sua pele latejando sob o impacto. Hana levou a mão à bochecha, sentindo o rosto arder, e as lágrimas que ela tanto lutara para conter finalmente escaparam, silenciosas. Os seguranças ao volante olharam pelo retrovisor, mas como sempre, permaneceram calados, coniventes com o abuso que ela sofria.

— Você não é nada sem mim, Hana. — Ele sussurrou, segurando o rosto dela e olhando diretamente em seus olhos. — Nada. E nunca se esqueça disso. Lembre-se de quem sustenta sua mãe, de quem proporciona essa vida que você tem. Eu sou o único que poderia te oferecer isso, e você deveria ser grata.

O peso das palavras dele era quase mais doloroso do que o tapa. A lembrança de sua mãe, dependente do dinheiro que ele fornecia, a fez sentir-se ainda mais presa. Era como se Min-ho tivesse enraizado nela uma rede de correntes invisíveis, mantendo-a cativa de um passado que ela não conseguia romper.

Ao chegarem em casa, Hana desceu do carro lentamente, o corpo dolorido e o coração esmagado. Min-ho entrou primeiro, deixando-a para trás, e ela seguiu os passos dele como uma sombra.

No quarto, finalmente sozinha, Hana fechou a porta e escorregou até o chão, permitindo-se chorar livremente. As lágrimas caíam sem controle, como uma chuva amarga que refletia todo o vazio de sua alma. Ela se abraçou, tentando aquecer o que restava de sua dignidade, e lembrou-se de dias felizes, promessas vazias que Min-ho lhe fizera um dia, agora tão distantes e irreais.

Ali, sentada no chão frio, Hana soube que precisava encontrar uma saída, mesmo que estivesse perdida nas sombras.


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