Capítulo 1: A Chuva Traz o Estranho


É uma noite de chuva densa e incessante. As ruas da cidade parecem ainda mais desertas sob o céu escuro e sem estrelas. So-yeon corre por uma viela estreita e suja, sentindo cada gota fria e pesada de chuva bater em seu rosto. Sua respiração está ofegante, e ela olha para trás a cada passo, sabendo que está sendo seguida, mas sem ter certeza de quantos são ou o quão próximos estão. O som de passos atrás dela a faz acelerar, mas a água e o cansaço começam a pesar. Ela dobra uma esquina, e seus olhos encontram a luz fraca de um pequeno beco coberto, onde vê um homem encostado à parede, observando-a em silêncio.

So-yeon (com a voz baixa, quase sem fôlego, os olhos arregalados e atentos)
(pensando) "Ele também está me seguindo? Ou está apenas aqui por acaso? Por que ele está me olhando assim?"

Ao se aproximar dele, So-yeon percebe o olhar penetrante do estranho. Ele parece mais velho, talvez alguns anos, e há algo em sua expressão que a deixa incerta, mas ao mesmo tempo curiosa. Ela para a uma certa distância, com a respiração acelerada, tentando decidir se ele é uma ameaça ou não.

Ji-hoon (em um tom controlado, observando-a com interesse)
"Parece que você está fugindo de alguém. Precisa de ajuda?"

So-yeon (hesitante, não confiando, mas também sem outra opção)
"Quem é você? Como posso saber que não faz parte deles?"

Ji-hoon (sorri de canto, puxando as mãos dos bolsos, mostrando que não está armado)
"Eu não faço parte de ninguém, acredite. Mas se não quer ajuda, não vou insistir."
(Dá de ombros, olhando para o outro lado como se não se importasse.)

So-yeon olha para o outro lado do beco, onde os passos dos homens parecem estar se aproximando rapidamente. Ela sabe que não tem escolha.

So-yeon (com um leve suspiro, finalmente cedendo)
"Eu só… preciso de um lugar para me esconder, só por alguns minutos."

Ji-hoon (balança a cabeça em concordância, se afasta um pouco, criando espaço para que ela se aproxime)
"Entre. Eles não te encontrarão aqui."

Ela o observa por mais um segundo, então se esconde ao lado dele, pressionando as costas contra a parede úmida. Ambos ficam em silêncio enquanto os passos ficam mais próximos e as vozes dos perseguidores sussurram algo indistinto antes de passarem direto pelo beco. Quando a ameaça parece ter passado, o silêncio entre eles se torna quase insuportável.

Ji-hoon (rompe o silêncio, com um olhar curioso e sério)
"Então, quem exatamente você está tentando evitar?"

So-yeon (apertando os braços em volta de si, ainda tensa, mas tentando manter a calma)
"Não é da sua conta. Apenas… obrigada. Isso é tudo."

Ela tenta sair, mas Ji-hoon se coloca na frente dela, bloqueando a saída.

Ji-hoon (com uma expressão que mistura curiosidade e preocupação)
"Espere. Não vai me dizer quem são essas pessoas? Ou pelo menos por que está fugindo?"

So-yeon (desviando o olhar, desconfortável)
"Como disse, não é da sua conta. Não preciso que ninguém se meta nisso."

Ji-hoon (com um leve sorriso, dando um passo para trás)
"Você parece alguém que já passou por muita coisa… talvez mais do que deveria."
(Sua voz soa quase suave, como se visse algo familiar em seus olhos.)
"Mas, às vezes, pedir ajuda pode ser mais fácil do que pensa."

So-yeon (fica em silêncio, sentindo as palavras dele ecoarem na sua mente, mas sem confiar o suficiente para responder)
(pensando) "Ele fala como se soubesse o que é viver fugindo… como se já tivesse feito isso antes."

Nesse momento, So-yeon é tomada por memórias de sua infância. Ela se lembra de quando, ainda criança, presenciou algo que mudou sua vida para sempre: a visão de sua mãe fugindo com ela em uma noite igualmente chuvosa, tentando escapar de pessoas perigosas. O medo estampado nos olhos da mãe é uma imagem que nunca saiu de sua mente.

(Ela revê mentalmente o desespero de sua mãe, segurando-a pela mão enquanto corriam pelas ruas frias e escuras.)

Ji-hoon (nota a expressão distante dela e comenta, com a voz baixa)
"Memórias dolorosas têm o hábito de aparecer nas piores horas, não é?"

So-yeon (o encara, surpresa, se perguntando como ele poderia saber disso)
"Por que você fala como se entendesse?"

Ji-hoon (olha para baixo, o rosto se fecha por um momento)
"Digamos que nem todo mundo teve uma infância tranquila. Alguns de nós… têm cicatrizes invisíveis."

Ele se recosta na parede novamente, como se aquela breve confissão tivesse feito soar algo que preferia esquecer.

So-yeon (percebe a dor contida na voz dele, suavizando sua expressão)
"Então, você também…"

Ji-hoon (interrompendo-a, sua voz um pouco mais fria)
"Não importa. Todos temos nossos demônios, não é?"

Eles ficam em silêncio novamente, como se ambos tivessem se exposto mais do que pretendiam. A chuva começa a diminuir, e o som das gotas de água escorrendo pelo telhado é a única coisa que preenche o ar pesado entre eles.

So-yeon (tentando afastar as lembranças e a proximidade inesperada com ele)
"Bem… acho que já passou o perigo. Preciso ir."

Ji-hoon (com uma expressão séria, mas ligeiramente frustrada)
"Vai voltar a correr, então? Mesmo sem saber se vai estar segura?"

So-yeon (desviando o olhar, como se não quisesse enfrentar a preocupação dele)
"Eu sei me cuidar. Sempre fiz isso."

Ji-hoon (a observa intensamente, sem desviar o olhar)
"É o que todos dizem… até o momento em que não conseguem mais."

As palavras dele parecem ecoar dentro dela. Por um momento, So-yeon sente uma leve esperança de poder confiar em alguém, mas seu instinto de sobrevivência a impede de baixar a guarda.

So-yeon (sussurra, quase como se estivesse falando para si mesma)
"Confiar é como dar um pedaço de você para outra pessoa… e eu já perdi o suficiente."

Ji-hoon (a voz firme, mas com uma certa compreensão)
"Entendo. Não vou pedir que confie em mim. Mas se precisar de ajuda… eu estarei por aqui."

So-yeon sente algo que não consegue identificar. Algo entre o alívio e o medo. Ela acena brevemente e vira-se para ir embora, mas ao dar os primeiros passos, olha de relance para ele.

So-yeon (a voz suave, mas séria)
"Obrigada… por hoje."

Ji-hoon (assente, com um sorriso quase imperceptível)
"De nada. Nos vemos por aí… So-yeon."

Ela congela ao ouvir seu nome. Ele não deveria saber, e a surpresa fica estampada em seu rosto, mas antes que possa perguntar, Ji-hoon desaparece na penumbra do beco, deixando-a sozinha com o coração acelerado e uma sensação de mistério ainda maior.


Fim do Capítulo 1

Esse capítulo estabelece o primeiro contato real entre So-yeon e Ji-hoon, criando um início de desconfiança mútua e curiosidade. A presença de Ji-hoon é intrigante e ao mesmo tempo confortadora para So-yeon, que sente uma conexão estranha, mas significativa. Os diálogos e o clima tenso mostram que ambos carregam um passado sombrio e que as cicatrizes invisíveis vão moldar a relação em capítulos futuros, criando uma tensão crescente de desconfiança, segredos e uma conexão que pode levá-los a um destino perigoso.

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