Saran parou à entrada da floresta, um lugar que sempre a fascinou e aterrorizou ao mesmo tempo. A escuridão que se estendia à sua frente parecia viva, como se estivesse aguardando sua presença. Com o coração acelerado, ela deu o primeiro passo, sentindo a terra fria sob seus pés. As árvores altas e retorcidas pareciam observar cada movimento seu, e cada estalo dos galhos ecoava como um chamado para confrontar os fantasmas de seu passado.
À medida que ela caminhava, as sombras começaram a sussurrar, trazendo à tona memórias que Saran tentara enterrar. Lembrou-se de sua infância em casa, onde o barulho das brigas entre seus pais era uma melodia familiar. Sua mãe, muitas vezes embriagada, chorava em um canto enquanto o pai, em seu estado de fúria, quebrava objetos e fazia promessas vazias de que tudo mudaria.
Saran fechou os olhos, revivendo uma noite específica, quando tinha apenas sete anos. A lembrança do rosto de seu pai, vermelho de raiva, a assombrava. Ele havia se voltado contra ela, e a gritaria se intensificou.
- Você é uma garota inútil! Nunca vai ser nada! - O eco dessas palavras a acompanhou como um peso que não conseguia se livrar.
As árvores pareciam se encurvar ao seu redor, como se quisessem protegê-la, mas a dor das memórias a prendia. Cada raiz que surgia no caminho era uma lembrança de suas feridas antigas, uma prisão invisível que a impedia de avançar. Ela se lembrou de como, em busca de conforto, muitas vezes se refugiava entre os livros. As histórias ofereciam escapismo, mas também a faziam sentir-se mais isolada, como se estivesse observando o mundo a partir de uma janela embaçada.
- Estas raízes são como meus medos - pensou.
- Elas me prendem, me mantêm presa ao passado. - A imagem de sua mãe, cercada por garrafas vazias, preenchia sua mente. Saran desejava entender por que a mulher que amava parecia tão perdida.
Com cada passo, Saran sentiu a necessidade de enfrentar essas memórias. As sombras da floresta não eram apenas um eco de seu passado, mas também um chamado para a libertação.
- Preciso enfrentar isso. - sussurrou para si mesma, determinada a desenterrar os traumas que moldavam sua vida.
À medida que se aprofundava na floresta, Saran sentiu uma mudança no ar. A pressão de suas memórias a seguia, mas havia uma sensação de que, ao confrontá-las, poderia finalmente começar a se libertar. Ela estava prestes a descobrir que, assim como as árvores que crescem em meio às raízes, também poderia florescer a partir de sua dor.
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