Perdida - Capítulo 2: Lembranças

 

O silêncio da casa era opressor, quase palpável. Hana sentou-se na beira da cama, com os pés descalços tocando o chão frio, seus olhos perdidos no vazio da noite. A chuva ainda caía lá fora, mas parecia estar em um mundo distante, fora de seu alcance, enquanto ela ficava ali, aprisionada em seus próprios pensamentos. A luz fraca que vinha da janela iluminava o quarto, mas mal conseguia dissipar a escuridão que se instalava dentro dela.

A mente de Hana estava tomada por uma única lembrança, um eco incessante dos gritos de Min-ho. Suas palavras, carregadas de raiva e desprezo, ressoavam em sua mente, como uma melodia amarga que se repetia sem parar, sem misericórdia. Ela tentava afastá-las, mas era impossível. Cada palavra, cada gesto dele, permanecia em sua mente como uma ferida aberta, sangrando dor, vergonha e uma sensação de impotência que parecia consumir sua alma.

Ela puxou os joelhos para o peito, buscando alguma forma de conforto naquele gesto infantil, como se fosse possível retornar a uma época mais simples, onde o mundo não lhe pesava tanto. Fechou os olhos, tentando encontrar um pouco de paz, mas logo a dor a atingiu novamente, mais forte do que nunca. As palavras de Min-ho ecoavam como um grito na escuridão, preenchendo a solidão de seu quarto e se espalhando pelo vazio de seu ser.

Mas então, algo interrompeu o turbilhão de pensamentos. Como uma luz tênue atravessando a escuridão, uma lembrança distante, quase esquecida, surgiu. Hana se viu transportada para o passado, para a época da faculdade, quando ainda era jovem e cheia de sonhos.

Hana, com seus 19 anos, sentava-se no banco de uma praça no campus da universidade, um lugar que para ela sempre teve um significado especial. O sol brilhava suavemente, aquecendo sua pele, e uma brisa leve brincava com os fios de cabelo que escapavam do coque desfeito. A faculdade, com sua agitação e caos, era um lugar onde ela muitas vezes se sentia deslocada. Mas naquele momento, ela estava em paz. Seus amigos estavam ocupados com seus próprios compromissos, deixando Hana a sós, o que lhe permitia, finalmente, respirar.

Ela observava o movimento das pessoas ao redor, absorvendo a tranquilidade daquele espaço que parecia um refúgio de silêncio em meio ao barulho da vida cotidiana. Hana nunca foi de se envolver muito nas festas ou eventos sociais. Seu mundo era feito de livros, sonhos e pequenas ambições. Ela queria ser professora, sabia que o futuro não seria fácil, mas se sentia segura em seus próprios planos.

Foi naquele dia que ela o viu pela primeira vez. Seo-jun. Ele estava com um grupo de amigos, mas seu olhar se desviou para ela, como se fosse inevitável. Hana não sabia o que era, mas algo naquele olhar lhe causou um calor repentino no rosto. Desconfortável, rapidamente desvia os olhos, sentindo-se exposta e vulnerável, sem saber exatamente o porquê.

Seo-jun, por sua vez, a observava à distância. Ele notou a jovem solitária, tão diferente das outras garotas do campus. Enquanto todas as atenções estavam voltadas para ele – o herdeiro de uma das famílias mais poderosas de Seul, admirado e cobiçado por todos – ele só conseguia olhar para ela, para a menina tímida que sempre parecia se esconder do mundo.

Ele nunca teve coragem de se aproximar, pois sabia que ela provavelmente o veria como mais um rapaz rico e popular, alguém do qual ela deveria se afastar. Mas isso não o impediu de observá-la.

Enquanto Hana se dedicava aos estudos, sonhando com um futuro tranquilo de professora, Seo-jun vivia uma vida marcada por expectativas e responsabilidades. Ele sentia-se aprisionado em um mundo que não escolheu. Embora fosse admirado por todos, havia algo nele que ansiava por mais – mais liberdade, mais autenticidade, mais verdade. Mas as sombras do legado de sua família o seguiam, e ele se via constantemente pressionado pelas expectativas alheias.

O que Hana não sabia era que Seo-jun estava começando a se aproximar, de forma silenciosa. Durante o segundo semestre, ele começou a frequentar os mesmos lugares onde ela estudava sozinha, na esperança de que algum dia ela o notasse. Um sorriso, um gesto discreto, um olhar furtivo – ele se contentava com esses pequenos momentos, acreditando que, de alguma forma, ela sentia o mesmo. Mas Hana nunca percebeu. Ela estava ocupada demais com seus próprios pensamentos e inseguranças.

O tempo passou, e o momento que parecia promissor nunca se concretizou. Hana, de forma quase ingênua, foi levada para o mundo de Min-ho. Durante um evento de negócios, seu pai, sempre ocupado com os negócios da família, a apresentou a Min-ho, um homem mais velho, que parecia interessado nela de imediato. Min-ho, com sua postura imponente e sua maneira de cortejar, a fez sentir-se especial. Ele ofereceu a ela uma sensação de segurança que ela nunca soubera que precisava.

Ao lado dele, Hana sentia-se protegida, como se tivesse encontrado a estabilidade que sempre sonhou. Min-ho a envolveu em seu mundo de riqueza e poder, e em algum momento, o silêncio de Seo-jun se tornou uma lembrança distante, uma página virada de sua vida. Quando Min-ho pediu sua mão em casamento, Hana não hesitou. Ela acreditava que a vida que ele poderia oferecer era o que ela precisava – a promessa de estabilidade e proteção, longe das incertezas de um futuro instável.

Hana se afastou da janela e se sentou novamente na cama, o corpo ainda tenso, como se a pressão do mundo todo estivesse sobre ela. O estômago revirava, mas não era só o medo que a dominava. Algo mais estava crescendo dentro dela – uma sensação estranha, uma mistura de arrependimento e uma leve chama de esperança, quase imperceptível. A solidão e o medo a cercavam, mas, ao mesmo tempo, havia uma vontade de se libertar. Um desejo que ela não conseguia ignorar.

Ela olhou para o espaço vazio ao seu redor, sentindo a ausência de tudo o que um dia a fez feliz. O som da chuva continuava a se misturar com os pensamentos inquietos em sua cabeça. A cidade lá fora parecia tranquila, mas dentro dela, tudo estava em desordem. A vida que ela imaginara não era mais a mesma. O que ela queria? O que ela poderia fazer?

Enquanto seus dedos traçavam formas incertas no lençol, Hana sabia que a vida que ela estava vivendo com Min-ho estava se tornando insuportável. Ela já não era mais a mesma. O peso das expectativas dele, a constante vigilância, a manipulação, tudo isso a sufocava. A jovem Hana, que um dia sonhou com liberdade e um futuro simples, parecia agora uma sombra, perdida em um mundo que não era o dela.

— Eu preciso sair disso... — murmurou para si mesma, mas sua voz soou fraca, quase como se ela não acreditasse nas próprias palavras. Ela sabia que sair seria difícil, quase impossível, mas o desejo de mudança crescia dentro dela, como uma chama silenciosa e persistente.

A dor no peito de Hana era real, mas havia algo mais forte do que a dor: uma necessidade crescente de escapar, de se encontrar novamente. Ela sabia que algo precisava mudar. E, talvez, se ela não tomasse o controle, o destino o faria por ela. O que ela não sabia era como ou quando.

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